12/04/2018

Governo parece gostar de taxas de juros altas

Governo parece gostar de taxas de juros altas

Os bancos finalmente parecem ter percebido o turning point dos juros siderais. O primeiro movimento para a queda das taxas - linhas de crédito mais baratas para os clientes que usarem 15% acima do limite do cheque especial por mais de um mês - é duplamente auspicioso, pois decorre de autorregulação e busca mitigar a modalidade mais assassina dos juros bancários: o especial chega a 350% ao ano.

Dá para os bancos fazerem muito mais, sem dúvida. O governo, entretanto, em vez de aproveitar a oportunidade para coordenar com a banca privada um projeto mais consistente de queda dos spreads bancários, parece insistir na sua relação de pique-esconde com as instituições financeiras.

Da boca para dentro, não cobra uma vírgula de ação mais positiva dos bancos na redução dos juros; da boca para fora, cuida da questão com firulas macroeconômicas. Mas, em sua comunicação , exime-se do problema e o trata como uma resistência malévola dos bancos. Não há ninguém bom nem mau nessa história. Existem, sim, medidas complementares entre bancos e governo que precisam ser adotadas.

A queda da Selic é indiscutivelmente um passo importante. Mas o governo, como se bailasse um tango, dá outro passo atrás, estudando a renovação da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os bancos, que deveria cair de 20% para 15% em 2019. As instituições financeiras carregam justificativas excessivas no seu balaio de argumentos para as taxas obscenas cobradas na ponta da aplicação. Não há dúvida, entretanto, que existe uma tremenda cunha fiscal sobre os juros.

Os casuísmos tributários acabam indo na direção contrária da desejável diminuição do custo dos empréstimos. Não custaria fazer contas para avaliar se a redução dos spreads e, consecutivamente, a sacolejada da economia não proporcionariam um retorno fi scal, ainda que diferido, maior do que a gula de curto prazo com a tributação da CSLL.

Os bancos ganham muito, e o governo cobra demais. Deve haver um meio termo nessa história (Relatório Reservado, 11/4/18)