Grandes bancos encaram BRF com cautela
Grandes bancos planejam cortar a renovação automática de linhas de crédito à BRF enquanto não houver clareza sobre a situação da companhia, apurou o Valor. Apesar da cautela, a posição financeira da empresa ainda é considerada confortável pelas instituições.
A companhia tem caixa suficiente para os próximos 18 meses, está em dia com seus compromissos financeiros e não há motivos para disparar o vencimento antecipado de dívidas, afirmam executivos de bancos.
A postura das instituições financeiras tem sido a de observar o rumo das investigações sobre a companhia. No entanto, para os bancos, muito mais incômoda que a Operação Trapaça é a disputa societária na BRF. "Acima de tudo, é uma companhia com problemas de gestão", diz fonte graduada de um banco.
Por isso, pelo menos uma instituição já havia cortado os limites de crédito da BRF no fim do ano passado diante dos maus resultados apresentados pela empresa – e creditados, em boa medida, aos desentendimentos entre os sócios. Esse banco não deve promover uma nova redução agora, de acordo com um interlocutor.
Uma fonte próxima à BRF nega que a empresa tenha sofrido restrição na renovação de créditos. Além disso, ressalta que a empresa tem cerca de R$ 10 bilhões em caixa – sendo US$ 1 bilhão de uma linha de crédito rotativo com sindicato de 29 bancos.
Em outro banco, a orientação neste momento é não renovar integralmente as linhas que forem vencendo. "Mas, se entendermos quem são os acionistas que ficarão e o novo plano [de gestão] da companhia, podemos rolar", afirma uma fonte próxima.
Os principais bancos do país e grandes instituições estrangeiras são credores da BRF. A tendência é que a postura dos bancos seja parecida com a que se tornou praxe na crise econômica, quando se organizaram e reestruturaram dívidas de grandes clientes para evitar asfixiá-los. "Não queremos que quebre. Todos os bancos querem ajudar, é uma empresa muito importante", disse uma fonte. "Por outro lado, temos dever fiduciário com nossos acionistas."
A leitura é que os maus resultados das companhias – que azedaram as relações entre os acionistas e ameaçam derrubar da presidência do conselho, Abilio Diniz – são mais graves e difíceis de contornar que a crise reputacional deflagrada pela nova fase da operação da Polícia Federal. Na segunda-feira, o ex-presidente da BRF Pedro Faria foi preso sob acusação de fraude sanitária.
Segundo fonte de um banco, os fatos que levaram à prisão não são novos e supostamente já foram corrigidos pela empresa. Por isso, embora possa haver impacto inicial no consumo dos produtos da companhia, ela pode recuperar as vendas com o passar do tempo, assim como aconteceu com a JBS.
Porém, uma queda das vendas por período prolongado poderia afetar a relativa tranquilidade financeira da companhia. Segundo analistas do BTG Pactual, a suspensão das exportações de três frigoríficos do grupo pode ter impacto de pelo menos R$ 400 milhões no Ebitda.
Em outra frente, as chances de uma venda rápida da companhia são consideradas remotas por banqueiros de investimentos. "A poeira tem de assentar", diz um deles. Para outro, a tendência é que os acionistas tentem estancar os problemas e a perda de participação de mercado antes de qualquer movimento. Procurada pelo Valor, a BRF não respondeu (Assessoria de Comunicação, 8/3/18)