20/07/2023

Grupo que promoveu evento com Moraes foi condenado por divulgar kit Covid

Grupo que promoveu evento com Moraes foi condenado por divulgar kit Covid

ALEXANDRE DE MORAES Imagem Marcelo Camargo Agência Brasil

Decisão manda universidade e empresas pagarem R$ 55 milhões por danos morais coletivos; envolvidos não se manifestaram.

O evento no qual o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes realizou palestra antes de ser hostilizado no aeroporto de Roma na sexta-feira (14) foi promovido por um grupo empresarial condenado a pagar R$ 55 milhões por danos morais coletivos por divulgação de um suposto "tratamento precoce" contra a Covid-19.

O Fórum Internacional de Direito, que aconteceu entre 4 e 14 de julho em Valladolid (Espanha) e Siena (Itália), teve como um de seus realizadores a Unialfa, condenada em maio pela Justiça Federal no Rio Grande do Sul pela divulgação de um chamado "Manifesto Pela Vida", que estimulava o consumo de medicamentos ineficazes contra a Covid-19 —o chamado "kit Covid".

Procurado, o ministro Alexandre de Moraes não se manifestou.

A Unialfa faz parte do mesmo grupo da Vitamedic Indústria Farmacêutica —o Grupo José Alves—, que fabrica o antiparasitário ivermectina.

As companhias foram condenadas a pagar os R$ 55 milhões junto com a associação Médicos Pela Vida por terem divulgado um informe publicitário citando possíveis benefícios do "tratamento precoce" e medicamentos sem eficácia comprovada para combater a doença.

Os anúncios de fevereiro de 2021 foram publicados na Folha e nos jornais O Globo, Estado de Minas e Zero Hora, entre outros. No dia seguinte, a Folha publicou reportagem sobre anúncios que defendiam o uso de medicação sem eficácia comprovada contra a Covid-19.

Em suas decisões, o juiz Gabriel Von Gehlen, responsável pelo caso, afirmou que foi evidenciado que "o ‘manifesto pela vida’ foi mecanismo ilícito de propaganda de laboratório fabricante de medicamento, servindo a ré do triste papel de laranja para fins escusos e violadores de valor fundamental, a proteção da saúde pública".

"A só e pura publicidade ilícita de medicamentos, pelos riscos do seu uso irracional, já representa abalo na saúde pública e sua essencialidade impõe a devida reparação", afirmou o magistrado.

Ele afirma que ficou comprovada a cumplicidade entre a Vitamedic e a associação Médicos Pela Vida, já que a empresa farmacêutica financiou a publicidade em R$ 717 mil.

Em depoimento à CPI da Covid, o diretor do laboratório Vitamedic, Jailton Batista, afirmou que a empresa destinou esse valor para anúncios na mídia que defendem o tratamento precoce contra a Covid-19.

Batista também reconheceu que a empresa não realizou estudos para verificar a eficácia da ivermectina para tratar a doença. O medicamento é considerado carro-chefe do laboratório, que multiplicou a venda durante a pandemia.

Segundo Batista disse em depoimento, a empresa faturou R$ 15,7 milhões em 2019, quantia que passou para R$ 470 milhões em 2020.

Na pandemia, o ministro Alexandre de Moraes se notabilizou pelas decisões contra responsáveis por disseminar mentiras sobre a vacina. O magistrado conduz, inclusive, um inquérito contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por ter divulgado mentiras sobre a vacina contra a Covid.

Também procurados, o Grupo José Alves e a Unialfa ainda não se manifestaram (Folha, 20/7/23)