IBGE: Safra pode ter projeções revistas por problemas climáticos
PROBLEMAS CLIMATICOS - FOTO Thinkstock
Brasil deve colher 313,3 milhões de toneladas de grãos em 2023, 19% a mais que em 2022, segundo levantamento de agosto.
Além das perdas humanitárias e prejuízos materiais, as condições climáticas adversas que têm afetado o Rio Grande do Sul podem levar a uma futura revisão nas projeções para a produção agrícola deste ano. O Estado já tinha sofrido com uma estiagem severa no ano anterior. Atualmente, a despeito da passagem do ciclone, é esperada alguma recuperação em relação ao desempenho agrícola do ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Rio Grande do Sul ainda deve colaborar para uma safra nacional de grãos recorde em 2023, como resultado de um aumento na área plantada no País, mas também da recuperação das perdas ocorridas em diferentes regiões em 2022.
O Brasil deve colher um ápice de 313,3 milhões de toneladas de grãos em 2023, 50,1 milhões de toneladas a mais que o desempenho de 2022, um aumento de 19,0%, apontou o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de agosto, divulgado nesta quarta-feira, 6. O resultado é 4,4 milhões de toneladas superior ao previsto no levantamento de julho, uma alta de 1,4%.
No entanto, ainda existe chance de revisões nessas projeções, caso haja flutuações nas culturas de trigo e de milho de segunda safra, ainda em campo, ponderou Carlos Alfredo Guedes, gerente do levantamento do IBGE.
“Esse ano a gente teve alguns problemas (climáticos), mas mais restrito ao Rio Grande do Sul. Mesmo assim, a safra gaúcha foi estimada em 12,2% superior à safra de 2022″, lembrou Guedes.
As chuvas torrenciais que afetam atualmente o Rio Grande do Sul ainda não chegaram às regiões que são grandes produtoras de trigo, cultura ainda se desenvolvendo no campo.
“A gente está observando essas chuvas agora no Rio Grande do Sul, mas, a princípio, não deve ter afetado muito as lavouras”, disse Guedes.
O Brasil costumava a importar trigo para dar conta de um consumo doméstico estimado entre 12 milhões e 14 milhões de toneladas, calcula o pesquisador. Porém, com a alta dos preços decorrente da guerra da Rússia na Ucrânia, os produtores brasileiros investiram em ampliar a colheita nacional.
“A gente teve recorde (de colheita de trigo) no ano passado e agora prevê recorde este ano. Só depende das condições climáticas até o final da colheita”, frisou.
Segundo o pesquisador do IBGE, eventuais chuvas neste momento pegam o trigo numa fase de desenvolvimento da lavoura no campo que ainda não é tão vulnerável. “A fase mais suscetível (a perdas) é a da colheita”, acrescentou ele, lembrando que a colheita do trigo será conduzida em novembro e dezembro.
Além do trigo, o Brasil deve colher safras também recordes de soja, milho, sorgo e algodão neste ano, prevê o IBGE. A estimativa da produção do trigo foi de 10,9 milhões de toneladas, alta de 8,2% em relação a 2022. Já a produção nacional de milho foi estimada em 127,8 milhões de toneladas, com crescimento de 16,0% ante 2022. A lavoura de milho 1ª safra deve somar 28,2 milhões de toneladas, um aumento de 10,9% em relação a 2022. O milho 2ª safra deve totalizar 99,6 milhões de toneladas, aumento de 17,5% em relação a 2022.
A produção de soja deve somar 150,3 milhões de toneladas, uma elevação de 25,8% em relação ao produzido no ano passado. O algodão herbáceo deve alcançar uma produção de 7,4 milhões de toneladas, um avanço de 10,0% ante 2022. A produção de sorgo foi prevista em 4,0 milhões de toneladas, alta de 38,8% ante 2022.
“Acredito que safra de soja não tenha muito mais mudanças em relação ao resultado de agosto. Até porque o pessoal já começa a pensar na safra 2024, que começa a ser plantada agora em setembro e outubro”, disse Guedes.
As revisões para cima nas estimativas para a safra recorde de soja têm ajudado a ampliar cada vez mais a projeção para a produção agrícola brasileira ao longo dos meses de 2023. No entanto, a cultura que mais tem turbinado o desempenho previsto no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola é o milho de segunda safra, tanto por investimentos de produtores na cultura quanto pelo clima favorável.
“Em 2012, não faz nem muito tempo, foi a primeira vez que milho de segunda safra superou o milho de primeira safra, por isso que a gente chama o milho de segunda safra de safrinha. De 2012 para cá, passou a ser a principal safra de milho. E hoje é a segunda principal lavoura, depois da soja”, recordou Guedes.
A produção recorde de milho ajudou a reduzir o preço do grão, derrubando assim o custo da produção de animais como suínos e aves, assim como de bovinos em período de confinamento, atentou o pesquisador do IBGE. Com custo de produção menor, os preços das proteínas animais também caíram ao consumidor.
No caso do arroz e feijão, a produção brasileira será menor este ano do que a registrada no ano passado. A produção do arroz foi prevista em 10,1 milhões de toneladas para 2023, queda de 5,5% em relação ao produzido no ano passado, enquanto a de feijão deve totalizar 2,984 milhões de toneladas, 3,1% menor que a de 2022. Apesar dos recuos, ambas as colheitas ainda atendem ao consumo doméstico, sem grandes pressões sobre os preços desses produtos ao consumidor.
“Embora seja uma safra bem justa para o arroz e para o feijão, a gente está produzindo o que a gente consome, sem muita sobra”, contou Guedes. “A variação de preços está dentro da normalidade”, acrescentou ele, sobre o feijão.
No geral, a safra recorde de grãos tem contribuído para as quedas recentes nos preços dos alimentos nos supermercados, concordou Guedes.
“A maior oferta disponível no mercado acaba pressionando o preço para baixo”, confirmou. “Pode se dizer que sim, realmente essa safra recorde ajuda a diminuir os preços no mercado para o consumidor final.” (Estadão, 7/9/23)