19/05/2023

Ibovespa chega aos 110,1 mil pontos e dólar sobe a R$ 4,9680

Dólar se fortaleceu ante o real nesta quinta-feira. Foto José Patrício Estadão

DOLAR. Foto José Patrício Estadão

 

Dólar tem alta de 0,68% após divulgação de dados dos Estados Unidos e fecha em R$ 4,96

Após moderada realização de lucros que se acumularam em oito sessões, na terça-feira, o Ibovespa abriu ontem e sustentou hoje novo trecho positivo, atingindo o nível dos 110 mil pontos, que não era visto em fechamento desde 2 de fevereiro, então aos 110.140,64. Nesta quinta-feira, fechou em alta de 0,59%, aos 110.108,46. Na semana, sobe 1,52% e, no mês, 5,44%, passando ao positivo também no ano (+0,34%). Já o dólar teve alta de 0,68% e fechou em R$ 4,96.

Tendo mostrado indecisão até o meio da tarde, o índice conseguiu se firmar em alta e buscar a marca psicológica dos 110 mil que, considerando a média móvel de 200 dias, deve se mostrar um nível de consolidação até que o Ibovespa defina tendência, observa Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Graficamente, é uma região em que o índice tende a ficar mais lateralizado”, diz.

 

A partir do meio da tarde, a acentuação de ganhos no índice de materiais básicos (IMAT +1,65%), que reúne as ações de commodities, em que preços e demanda se formam no exterior, e no índice de consumo (ICON +2,04%), exposto ao ciclo econômico doméstico, levou o Ibovespa às máximas da sessão, mais do que compensando o desempenho fraco do setor financeiro e das utilities - que, por sinal, também melhorou em direção ao fechamento.

“Dia de alta para a Bolsa, mas também para a curva de juros e o dólar. Lá fora, a perspectiva de solução, em breve, para a elevação do teto da dívida americana ainda contribui para o apetite por ativos de risco, como as ações, e continua a ser o principal ‘driver’ no momento”, diz Dennis Esteves, sócio e especialista em investimentos da Blue3.

No plano doméstico, “o dia foi bastante embasado em expectativa de inflação mais baixa pela frente e de votação do arcabouço fiscal, ainda que algumas mudanças tenham ocorrido na calada da noite, pelo relator na Câmara, que incluiu duas linhas que depois foram melhor compreendidas pelo mercado”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, referindo-se à possibilidade de gastos a mais, da ordem de R$ 80 bilhões, para os anos de 2024 e 2025.

“Em momento nenhum existe qualquer ação nesse meu relatório que coloca R$ 80 bilhões a mais. É absolutamente fantasiosa essa informação”, disse nesta quinta-feira o relator do arcabouço, Cláudio Cajado (PP-BA). Técnicos da Câmara que assessoram o parlamentar admitem a expansão, mas projetam valor bem menor, ao redor de R$ 42 bilhões. O deputado afirmou que a Consultoria da Câmara prepara uma nota técnica para “desfazer o ruído”.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 18, cotado a R$ 4,9680, em alta de 0,68%, após ter atingido máxima a R$ 4,9815 (+0,95%). O dia foi marcado por uma onda de valorização da moeda americana no exterior, em meio a ajustes nas expectativas para o rumo da taxa de juros nos Estados Unidos. Por aqui, analistas relataram certo desconforto, sobretudo na parte da manhã, com as estimativas de que o dispositivo do novo arcabouço fiscal abre espaço adicional para mais gastos públicos, algo rechaçado pelo relator da matéria, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), à tarde.

Após divulgação nesta semana de dados de produção industrial e vendas de varejo nos EUA em abril acima do esperado, investidores se deparam hoje com uma queda do número de pedidos de auxílio-desemprego. Na semana encerrada em 13 de maio, houve redução de 22 mil nas solicitações, para 242 mil (analistas previam 255 mil). Embora economistas tenham alertado que pedidos fraudulentos de auxílio-desemprego em Massachusetts possam distorcer dados semanais, a percepção é de que o mercado de trabalho segue apertado, o que sugere mais rigidez da inflação.

Monitoramento do CME Group mostra que as chances de elevação de 25 pontos-base da taxa básica americana em junho subiram, voltando a superar os 35%. O mercado também reduziu as apostas em um eventual ciclo de afrouxamento monetário ao longo do segundo semestre. As taxas dos Treasuries de 2 anos, mais ligada as apostas para o rumos dos Fed Funds no curto prazo, avançaram mais de 2,5%, operando acima de 4,5%.

Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, indicadores revelam que as expectativas de desaceleração mais forte da economia americana não estão se concretizando. Além disso, houve uma diminuição de temores de que mais bancos regionais apresentassem problemas de liquidez, o que poderia ter impactos negativos relevantes na atividade.

“E aí você começa a questionar se o Fed realmente terminou o ciclo de alta, já que ele disse que ia olhar os dados para tomar sua decisão. A inflação também não está caindo na velocidade que se imaginava. Está havendo um realinhamento dos preços diante da possibilidade de que o Fed tenha que sustentar a taxa de juros alta por mais tempo”, afirma Lima, ressaltando que as divisas emergentes perdem mais com a queda dos preços das commodities, dado que a recuperação da economia chinesa se dá pela expansão do setor de serviços, e não de bens (Estadão, 19/5/23)