Indicado para o Nobel da Paz diz que a ciência deve coordenar as ações
Legenda: O indicado ao Nobel da Paz Alysson Paolinelli - Divulgação
O ex-ministro da Agricultura, Paolinelli, afirma que ainda falta a incorporação de 4,5 milhões de propriedades na agricultura sustentável do país.
Alysson Paulinelli, ex-ministro da Agricultura, foi oficialmente indicado para o Prêmio Nobel da Paz. Em fevereiro e em março, o comitê norueguês do Nobel faz uma seleção de todos os indicados e, a partir daí, trabalha com uma lista pequena. Em outubro, delibera sobre o vencedor, que será contemplado em dezembro, em Oslo, na Noruega.
Nesta terça-feira (26), o comitê organizador da indicação de Paolinelli apresentou o número de entidades e de academias que participaram dessa indicação.
Foram 119 cartas de indicação, que vieram de 24 países. Os dados mostram, ainda, a indicação feita por 51 academias e 41 entidades ligadas ao agronegócio.
O ex-ministro afirmou nesta terça-feira que o país precisava de uma agricultura voltada para os trópicos na década de 1970, com o objetivo de sair da dependência externa de alimentos.
Implantou programas como a Embrater, Polocentro e Prodecer para, com ciência e tecnologia, levar a difusão do conhecimento aos produtores, segundo ele.
Aos 84 anos, Paolinelli diz que ainda continua sonhando. Leva adiante o Biomas Tropicais, um programa que visa a sustentabilidade e a inclusão do produtor. “É preciso, porém, colocar a ciência antes de qualquer tipo de produção. Ela definirá o que pode ser mexido nos diversos biomas, mas sempre com as regras dela”.
Manuel Otero do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), diz que o futuro da humanidade depende da agricultura, e que Paolinelli é o melhor embaixador deste setor.
Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, a imagem ambiental do país não é boa e pode até dificultar a indicação, mas esse é um problema do país, e “esses pecados ilegais” têm de serem resolvidos aqui.Quanto a Paolinelli, ele deixa um legado científico, feito com base na ciência, na tecnologia e na extensão, segundo Rodrigues. Para Jacyr Costa Filho, do comitê executivo organizador da indicação do Nobel, o resultado de tudo isso é uma agricultura sustentável e que pode ser exportada para outros países, principalmente para a savana africana.
Os 45 anos desse avanço da agricultura refletiu no bolso do consumidor. Os custos dos alimentos nas despesas das famílias caiu pela metade, sobrando dinheiro para outros gastos, segundo Ivan Wedekin, coordenador-técnico do projeto.
Apesar dos avanços dessa agricultura tropical, Paolinelli concorda que ainda há muito a fazer. A revolução agrícola brasileira inseriu 842 mil propriedades agrícolas nesse sistema, mas ainda há outras 4,5 milhões que estão fora, principalmente produtores da Amazônia e do Nordeste.
“Temos problemas e temos de reconhecer. Ainda há produtores em um sistema extrativista e de subsistência, cuja renda não atinge dois terços de um salário mínimo.”
Paolinelli foi ministro da Agricultura de 1974 a 1979 no governo de Ernesto Geisel, período da ditadura e que os militares estavam no poder. "Fui para o governo para ser ministro da Agricultura e levar o que tinha aprendido na vida e nos bancos de escola", afirma.
Disse que não conhecia o general Geisel antes de ir para o governo, mas que ele o liberou para pôr em prática tudo que sabia (Folha de S.Paulo, 27/1/21)