Inovação não virá de isenção fiscal, diz CNI
Indústria terá menos proteção do governo em meio à crise nas contas públicas e problemas na OMC.
A transição para a Indústria 4.0 não será impulsionada por incentivos fiscais, mas pela competição entre as empresas, que terão de evoluir para garantir a sua sobrevivência no mercado, afirma José Augusto Fernandes, diretor de Políticas e Estratégia da CNI.
Com a crise fiscal e a recente condenação de políticas industriais brasileiras na OMC (Organização Mundial do Comércio), a entidade considera que a indústria deverá se preparar para uma nova realidade, com menos proteção do governo.
“Haverá mais atenção ao uso de recursos fiscais e em relação a custo-benefício das políticas. Isso afeta o Estado e a forma como as empresas olham para o setor público.”
A análise faz parte do mapa estratégico da associação, que traça tendências globais e nacionais até 2022. O estudo será divulgado em março.
Nos últimos cinco anos —quando o último relatório do gênero foi elaborado pela entidade—, a indústria brasileira viu seus principais desafios mudarem: o Brasil perdeu destaque no cenário internacional, e a crise mostrou às empresas a necessidade de ir além do mercado doméstico.
NÃO É PARA TODOS
Um dos principais destaques do estudo é o aumento da pressão por inovação, com a chegada da indústria 4.0 —conceito que engloba novas tecnologias de automação e armazenamento de dados.
Para Fernandes, a pesquisa e o desenvolvimento serão uma missão para uma “nata de empresas”, e o Brasil terá de encontrar nichos para garantir que participará desse grupo inovador.
“Uma parte expressiva da evolução 4.0 não vai se dar dentro da empresa, mas pela compra de equipamentos e softwares”, diz ele.
Se há risco de o Brasil perder competitividade ao delegar a inovação a terceiros, potencialmente estrangeiros? “Sim, há riscos, mas há mais oportunidades do que riscos”, diz o diretor da entidade.
“Não vejo problema. Não que inovação não seja importante, mas pesquisa e desenvolvimento não é todo o mundo que faz, é uma nata de empresas, grandes ou menores.”
Após uma crise que reduziu o fôlego das empresas nacionais para investir, o maior potencial do Brasil para ganhar espaço será o investimento em setores nos quais o país já tem vantagens competitivas naturais —como óleo e gás, papel e celulose, energia e o uso da biodiversidade em cosméticos e produtos de saúde, afirma (Folha de S.Paulo, 25/2/18)