14/05/2024

Lula age bem e rápido,mas dinheiro líquido e certo ainda é incerto e pouco

Lula age bem e rápido,mas dinheiro líquido e certo ainda é incerto e pouco

LULA E EDUARDO LEITE-@EduardoLeite no Twitter

O presidente Lula cumprimenta o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite durante visita à cidade de Santa Maria - 

 Por Vinicius Torres Freire

 

Governo gasta R$ 17 bi com socorro imediato e perdão de dívida, mas conta só começou.

O governo Lula 3 tem tomado providências rápidas de liberação de dinheiro para o Rio Grande do Sul, em tese com bons critérios para limitar o uso de recursos para os fins de atenuar a catástrofe.

Por enquanto, o governo federal destinou R$ 17,3 bilhões de dinheiro direto para o estado, parte dele a ser utilizado em até três anos. É a conta mais realista e concreta. Não é pouco dinheiro, por ora. Mas será pouco.

Desse total, quase R$ 12 bilhões são um perdão de parte da dívida gaúcha com a União.

Outros R$ 5,23 bilhões vão cobrir o gasto imediato do governo federal no socorro e na assistência social. Há dinheiro para hospitais, remédios, comida, estradas federais e ferrovias, escolas e estudantes, parcelas extras de seguro desemprego, verba para bancar o trabalho de Forças Armadas, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal e também para a compra de estoques de comida (talvez arroz).

Esse dinheiro direto, na veia, é parte dos R$ 12,18 bilhões que constam da medida provisória que permite gasto federal extra imprevisto para se lidar com a catástrofe, editada por Lula 3 no final de semana.

O restante do dinheiro da medida provisória é subsídio federal para crédito bancário, R$ 6,95 bilhões.

Desse total, R$ 4,95 bilhões podem vir a ser utilizados para cobrir eventual inadimplência no pagamento de eventuais empréstimos a serem contratados em bancos privados. É um recurso que pode vir a ser gasto, se o for, ao longo de até 10 anos. Outros R$ 2 bilhões são doações: o governo banca a taxa de juros de certos financiamentos.

Esses subsídios de crédito não são dinheiro direto, certo, na veia —não estão naquela conta de R$ 17,3 bilhões. Podem vir a ser de grande ajuda. Mas a operação depende da vontade de quem pode tomar o empréstimo (pequenas empresas e agricultores) e de bancos. Segundo o governo, os subsídios podem estimular a concessão de até R$ 30 bilhões em empréstimos. A ver.

Não temos remota ideia de quanto vai custar a reconstrução de estradas, ferrovias, aeroporto, casas, saneamento, hospitais, escolas ou de relocalização de cidades e bairros. E vai ser necessário algum auxílio emergencial. Quanto?

 

Uma medida de ordem de grandeza pode ser a despesa com auxílio emergencial na epidemia, em 2020, no Rio Grande do Sul. O gasto médio mensal, atualizado, foi de R$ 1,76 bilhão, que teria chegado a 2,8 milhões de pessoas (um quarto da população do estado). Descontando o valor pago, atualmente, por meio do Bolsa Família, teríamos R$ 1,35 bilhão por mês.

É apenas vaga ordem de grandeza. Não se sabe se, quando e como as pessoas voltarão a trabalhar. Pode ser necessário bem menos dinheiro, por menos tempo, com benefício mais bem dirigido a quem precisa.

Importante e pouco discutido: é preciso negociar logo empréstimos baratos e de longo prazo com instituições multilaterais, como as agências financeiras de Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que já ofereceu R$ 4 bilhões, e com o BNDES.

O efeito do perdão de parte da dívida gaúcha é incerto. Em tese, equivaleria a 4,5% da receita do governo estadual.

O governo federal autorizou a suspensão dos pagamentos da dívida do estado com a União por três anos; nesse período, cancelará a cobrança de juros sobre o total da dívida. O governo do RS deixaria de pagar prestações no valor de R$ 11,12 bilhões em três anos (a conta pendente será incorporada ao estoque, ao total, da dívida).

Mas o estado receberia, sim, um perdão de dívida equivalente aos juros não pagos, o que dá perto de R$ 12 bilhões. No fim das contas, o governo federal vai doar esses R$ 12 bilhões. Na prática, equivale ao valor das prestações suspensas da dívida.

Questão: o governo gaúcho não pagava regularmente as prestações da dívida. Logo, não se sabe quanto dinheiro na verdade sobrará para as novas necessidades do estado.

Segundo Mônica Bergamo nesta Folhao governo federal pode doar R$ 500 milhões, para 100 mil pessoas, a fim de auxiliá-las a refazer sua vida cotidiana (comprar eletrodomésticos, material de construção). Segundo o governo, o tamanho exato deste pacote ainda vai ser definido (Folha, 14/5/24)