11/06/2024

Lula cobra resposta do governo à ‘crise do arroz’; Geller fica na berlinda

Lula cobra resposta do governo à ‘crise do arroz’; Geller fica na berlinda

O secretário de Política Agrícola Neri Geller. Foto André Dusek Estadão

 

Planalto avalia demissão de secretário de Política Agrícola após empresas sem afinidade com importação do produto vencerem certame que envolveu sócio de filho do ex-ministro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou nesta segunda-feira, 10, uma resposta do governo federal à “crise do arroz”. Na reunião da coordenação política, que voltou a acontecer semanalmente, o presidente mostrou-se irritado com a repercussão negativa do leilão de arroz promovido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no qual até uma fabricante de sorvetes saiu vitoriosa. De acordo com interlocutores palacianos, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o ex-deputado e ex-ministro Neri Geller, está na berlinda e pode ser exonerado.

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Na avaliação do presidente, uma pauta supostamente positiva — a compra direta de arroz pelo governo para evitar alta nos preços após as enchentes no Rio Grande do Sul — trouxe danos de imagem. Como mostrou o Estadão, firmas sem nenhuma afinidade com a importação do produto ganharam o certamente. Para Lula, o que era para ajudar o governo deu munição à oposição.

 

Geller entrou na mira do Planalto porque o diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, responsável pelo leilão, é uma indicação direta do secretário. Lula determinou uma apuração interna para decidir se vai demitir o diretor e o ex-ministro da Agricultura de Dilma Rousseff. Além disso, a FOCO Corretora de Grãos, principal corretora do leilão, é do empresário Robson Almeida de França. Ele foi assessor parlamentar de Geller na Câmara e é sócio de Marcello Geller, filho do secretário, em outras empresas.

Segundo apurou a Coluna do Estadão, Geller esteve com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro nesta segunda-feira para responder aos questionamentos sobre a participação do sócio do filho no certame. Ele negou qualquer envolvimento no leilão e disse ao ministro que França trabalhou com ele apenas até 2020. A interlocutores, Geller tem dito que Marcello saiu da empresa justamente por não poder participar de leilões públicos.

 

O secretário de Política Agrícola reforçou a ponte entre Lula e o agronegócio durante a campanha eleitoral e integrou o governo de transição. Ex-deputado, foi candidato ao Senado em 2022, mas teve a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral após ser cassado por suposto abuso de poder econômico. Em dezembro do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu a cassação e devolveu os direitos políticos de Geller, que só então pode integrar o governo Lula. Ao longo de 2023, ele despachou informalmente no Ministério da Agricultura (Estadão, 11/6/24)