Lula escolhe André Corrêa do Lago para presidência da COP30
André Corrêa do Lago Foto Reprodução – Blog Bt+
Embaixador foi chefe do Brasil em Baku e tem interlocução com ambientalistas e agro; Ana Toni será CEO da cúpula climática.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu nomear o embaixador André Corrêa do Lago como presidente da COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas), que acontecerá em Belém de 10 a 21 de novembro.
Lago é secretário de clima do Ministério de Relações Exteriores e nas últimas COPs foi um dos principais diplomatas do Itamaraty nas negociações ambientais.
Para a direção-executiva do evento, no chamado posto de CEO da COP, o governo escolheu a atual secretária de clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni.
Em seu primeiro pronunciamento no cargo, André Corrêa do Lago lamentou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, um dos primeiros atos do novo presidente Donald Trump em sua volta ao posto.
"Estamos todos ainda analisando as decisões do presidente Trump, mas não há a menor dúvida de que ela terá um impacto significativo na preparação da COP e na maneira como nós vamos ter que lidar com o fato de que um país tão importante está se desligando desse processo", afirmou ele.
A saída efetiva dos Estados Unidos do acordo, porém, só acontecerá daqui um ano, uma vez que esse tipo de mudança tem prazo de 12 meses para se efetivar. O que significa que o país de Trump seguirá signatário quando a COP30 acontecer, em novembro.
O embaixador afirmou que, mesmo com a saída, os EUA seguem dentro da convenção do clima da ONU, e que há maneiras de manter diálogo com o país.
"É uma decisão soberana de um país, de sair de um acordo, mas isso não quer dizer que necessariamente esse acordo não possa encontrar uma forma de contornar a ausência desse país. Inclusive, os Estados Unidos continuam membros da convenção do clima. Estão saindo do Acordo de Paris. Então, sim, há vários canais que permanecem abertos", observou.
A decisão foi tomada nesta terça-feira (21) em uma reunião no Palácio do Planalto. Participaram Lula e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Maria Laura da Rocha (substituta na pasta das Relações Exteriores) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social), além do assessor especial Celso Amorim e da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior.
São esperadas reuniões nos próximos dias, inclusive no Palácio do Planalto, para definição de outros cargos importantes da conferência, como o de negociador-chefe, que lidera as discussão dos textos com outros países, ou do chamado "high-level champion", posto que tem a missão de fazer a interlocução com atores não governamentais.
A oficialização era esperada para acontecer na última quarta-feira (15), em uma reunião no Palácio do Planalto. O encontro, no entanto, foi adiado em razão da crise do Pix e da necessidade de sanção da reforma tributária.
A demora na escolha do cargo foi motivo de críticas a Lula, inclusive de pessoas de dentro do governo.
Não há uma regra de quando a presidência da cúpula climática precisa ser anunciada, mas, nos últimos anos, foi comum que o nome já fosse escolhido durante a COP anterior, para que o processo de início das negociações começasse.
A expectativa, portanto, era que o Brasil fosse à conferência de 2024, em Baku (Azerbaijão) já com esse nome definido, o que não aconteceu.
O atraso de Lula, segundo pessoas envolvidas nas tratativas, faz com que o país não possa iniciar formalmente as conversas para a conferência em Belém, marcada para novembro.
A intenção de negociadores brasileiros é conseguir antecipar o máximo possível as conversas, para tentar chegar na COP30 já com as tratativas avançadas, para evitar impasses durante a realização do evento.
Como mostrou a Folha, a estratégia é utilizar inclusive a cúpula dos Brics —que será presidida pelo Brasil— para avançar nas negociações climáticas.
A falta do presidente da COP, porém, era vista como um obstáculo para essa estratégia, pela falta de uma autoridade com mandato para liderar essas conversas.
Agora na presidência, Lago deixará a secretaria de clima do Itamaraty —ainda não há um substituto definido para o posto, mas os principais cotados são a embaixadora Liliam Chagas e o ex-chanceler Luiz Alberto Figueiredo.
Um dos motivos para a escolha de André Corrêa do Lago para a presidência da COP, segundo pessoas que trabalham na organização da conferência em Belém, é o fato de o embaixador ter trânsito e ser bem avaliado em setores muitas vezes divergentes, sobretudo as alas ambiental e do agronegócio do próprio governo.
Foi chefe da delegação brasileira na última conferêcia de clima, em Baku atuou diretamente na elaboração das novas NDCs brasileiras (as metas nacionais de descarbonização) no ano passado e, na cúpula do G20, também em 2024, articulou para que o tema ambiental tivesse espaço da declaração final do evento.
Ao mesmo tempo que tem boa relação com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também tem interlocução com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e boa abertura dentro do agronegócio, setor que costuma ser mais resistente ao governo petista.
Lago, por exemplo, foi um dos articuladores da Aliança Global para os Biocombustíveis, que Lula lançou em 2023 ao lado de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e o primeiro-ministro da Índia, Nerandra Modi.
A iniciativa tem amplo apoio do agronegócio uma vez que tenta expandir o uso, por exemplo, do etanol, em substituição aos combustíveis fósseis.
Pela interlocução nestas duas esferas, Lago desbancou outros cotados para o cargo, como o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, e a secretária de clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni —que ficou como CEO do evento.
No Itamaraty desde 1982, ele já ocupou os cargos de diretor de economia e diretor de clima, tema do qual foi negociador-chefe entre 2011 e 2013. Também já foi embaixador do Brasil no Japão, na Índia e no Butão —onde estava até assumir, em 2023, a secretaria de clima.
Economista, ele também já integrou o juri do prêmio Pritzker, de arquitetura (Folha, 22/1/25)