30/01/2018

M. Dias Branco compra a Piraquê por R$ 1,5 bilhão para crescer no Sudeste

A Piraquê, adquirida pela M. Dias Branco, fabrica massas, biscoitos, salgadinhos e refrescos.

Em mais um negócio bilionário no setor de alimentos, gigante cearense comprou 100% da concorrente fundada há 67 anos, no Rio de Janeiro; objetivo é reduzir concentração das vendas no Nordeste, que responde por 70% da receita da M. Dias Branco.

Líder nacional no mercado de massas e biscoitos, mas ainda com 70% das vendas concentradas na região Nordeste, a cearense M. Dias Branco deu nesta segunda-feira, 29, um passo importante para aumentar sua participação na região Sudeste, ao acertar a compra de 100% da fluminense Piraquê, em um negócio avaliado em R$ 1,55 bilhão, incluindo dívidas. Os atuais sócios da Piraquê vão sair totalmente do negócio, e a cearense assumirá as fábricas e também a gestão da marca.

O negócio entre a M. Dias Branco e a Piraquê, a maior transação financeira já registrada do setor de biscoitos, é mais um movimento de consolidação desse segmento, ainda muito pulverizado no País. No fim de 2016, a americana Kellogg investiu R$ 1,4 bilhão para comprar outra força regional no setor - a catarinense Parati, conhecida pelos biscoitos de mesmo nome. Em 2011, a Pepsico havia comprado a Mabel, por cerca de R$ 800 milhões.  

De acordo com o vice-presidente da M. Dias Branco, Geraldo Luciano Mattos Júnior, o acordo com a Piraquê vem para reforçar a atuação da companhia cearense no Sudeste, onde já tem duas fábricas em São Paulo, mas presença bem mais discreta do que no Nordeste. “É uma estratégia para desconcentrar as nossas receitas”, disse o executivo.

Para ser concluída, a transação depende de aprovação de órgãos reguladores como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Conversas. As negociações entre as duas empresas começaram há seis meses, apurou o Estado. A M. Dias Branco, que nos últimos dois anos estava procurando ativos para expandir seus negócios, deu o primeiro passo em relação ao acordo, segundo fontes a par do assunto. 

A Piraquê, fundada há 67 anos no Rio de Janeiro, já havia tido conversas informais alguns anos atrás com outros compradores - entre eles a própria M. Dias Branco e sua principal concorrente, a J. Macêdo -, mas o negócio nunca havia chegado perto de ser fechado. 

O faturamento anual da Piraquê foi de R$ 717 milhões (últimos 12 meses encerrados em setembro passado), enquanto a M. Dias Branco teve receita superior a R$ 4 bilhões nos primeiros nove meses de 2017 - mais da metade das vendas da cearense estão concentradas no setor de biscoitos, carro-chefe da Piraquê, seguida pelas massas. 

Portfólio

Os produtos da empresa fluminense são considerados “premium” e de maior tíquete médio em relação aos das marcas da M. Dias Branco, que são mais populares. “A M. Dias Branco já estava há pelo menos dois anos à procura de ativos para expandir para a região Sudeste”, afirma Gabriel Vaz, analista de bebidas e alimentos do Bradesco BBI. 

De acordo com o analista, o negócio deixa nas mãos da empresa cearense uma marca que tem chance de crescer. “A aquisição (da Piraquê) é vista como positiva para o mercado, considerando a sinergia do negócio. A M. Dias Branco é uma empresa verticalizada, com moinhos próprios, e a Piraquê, que tem cerca de 80% de suas vendas concentradas no Rio, poderá ser passar a ser distribuída a outras regiões”, disse.

Segundo Vaz, entre os potenciais s alvos de aquisição da companhia cearense para expandir na região Sudeste ainda poderiam figurar marcas importantes, como Bauducco, Marilan, Selmi, Aymoré e Vilma Alimentos.

A participação de mercado em biscoitos e massas da M. Dias Branco está acima de 32% no País, segundo dados Nielsen, embora esse porcentual é bem mais baixo no eixo Rio-São Paulo. Já a Piraquê, embora seja forte no mercado fluminense, tem fatia discreta no mercado nacional. Com a aquisição, a participação total da cearense em biscoitos não chegaria a atingir 40% (leia mais no quadro ao lado).

Para concluir o negócio, os controladores da Piraquê foram assessorados pelo banco Itaú BBA, pela Vinci Partners e o escritório L.O. Batista Advogados. Já a M. Dias Branco teve a operação conduzida pelo escritório Tozzini Freire Advogados (O Estado de S.Paulo, 30/1/18)