“Macron foi oportunista e prejudicou imagem do Brasil”, diz ministra
Tereza Cristina realizou uma palestra na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, onde falou sobre a dificuldade para controlar uma região tão grande como a Amazônia.
Legenda: Tereza Cristina, ministra da Agricultura, durante entrevista na Fiesp nesta segunda-feira (26)
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse durante uma palestra na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira nesta segunda-feira (26), sobre as queimadas na Amazônia, que problemas de meio ambiente não são exclusividade do Brasil.
A situação da Amazônia, que teve o número de queimadas 82% maior neste ano em relação a 2018, repercutiu internacionalmente nos últimos dias. No final de semana, os líderes do G7 se reuniram na França e concordaram em ajudar os países atingidos pelas queimadas.
No domingo, o presidente da França, Emmanuel Macron, garantiu o envio de ajuda emergencial.
"Que país não tem problemas de meio ambiente? Ainda mais o Brasil, com essa Amazônia gigantesca, onde caberiam 48 países lá dentro", disse a ministra. "É muito difícil controlar, e os recursos que são enviados nem sempre vão para onde é necessário", completou.
Para ela, é necessário que se fiscalize e preserve sem interferir na soberania do país.
Nos últimos dias, o presidente da França e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, têm subido o tom em trocas de comentários.
Macron chegou a se opor ao acordo Mercosul-UE, acusando Bolsonaro de mentir sobre o clima. No último sábado, o brasileiro respondeu a um comentário em uma rede social que comparava a aparência das primeiras-dama francesa e brasileira. Para o francês, o comentário foi "extraordinariamente desrespeitoso".
Tereza Cristina classificou as respostas de Macron como "oportunistas". Segundo a ministra, ele "prejudicou a imagem do Brasil, que já não anda bem", mas destacou a ação de urgência da cúpula do G7.
A maior parte do dinheiro dos países ricos seria destinada ao envio de aviões Canadair de combate a incêndios, segundo a agência France Press. O G7 também propôs uma assistência de médio prazo para o reflorestamento, a ser apresentada na Assembleia Geral da ONU no final de setembro.
Para recebê-la, o Brasil teria que concordar em trabalhar com ONGs e populações locais, disse o governo francês.
Brasil deve aceitar a ajuda
Para Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, o Brasil deve utilizar a ajuda oferecida pelo G7. “Não vejo problema do Brasil aceitar ajuda nessa e em outras áreas, contanto que fique claro que a região amazônica, como todo território nacional, a soberania é do Estado brasileiro”, disse nesta segunda-feira.
O presidente da Câmara disse não haver ações concretas do governo de Jair Bolsonaro no estímulo às queimadas na região, mas afirmou que a forma como que o presidente da República “fala pode gerar esse tipo de dúvida”.
Mais cedo, Bolsonaro questionou o interesse do presidente da França em auxiliar as ações de combate às queimadas na região amazônica.
Sem ameaças de embargo
Também nesta segunda, no auditório da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Tereza Cristina disse que, apesar de o setor ter medo de retaliações, o governo não recebeu oficialmente nenhuma ameaça de embargo para os produtos do agronegócio brasileiro.
"Para mim (reclamações sobre riscos de embargos) só pela imprensa e em conversas pessoais. Apenas uma preocupação, mas de efetivo e concreto, nós não tivemos", disse a ministra.
“Dia do fogo”
A ministra também comentou as investigações abertas no Pará sobre o “dia do fogo”, quando produtores rurais, comerciantes e grileiros teriam combinado o incêndio de áreas no entorno da BR-163, na região de Altamira. Ela disse que aguarda as investigações.
“Primeiro que eu não sei se são produtores rurais, eu não sei do dia do fogo. Quem 'tá' investigando é a polícia federal. E quem fez mal feito tem que pagar" apontou. "As responsabilidades serão colocadas a quem couber", completou Tereza Cristina.
Queimadas aumentam 82% em 2019
Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), gerados com com base em imagens de satélite, mostram que as queimadas no Brasil aumentaram 82% em relação ao ano de 2018, se compararmos o mesmo período de janeiro a agosto – foram 71.497 focos neste ano, contra 39.194 no ano passado.
Esta é a maior alta e também o maior número de registros em 7 anos no país. Do total de focos de incêndio, a Amazônia concentra 52,5% dos pontos, o Cerrado é responsável por 30,1%, seguido pela Mata Atlântica, com 10,9%.
De acordo com a agência espacial americana (NASA), 2019 é o pior ano de queimadas na Amazônia brasileira desde 2010. Segundo texto publicado na última sexta-feira (23) e divulgado em sua conta no Twitter, é "perceptível o aumento de focos de queimadas grandes, intensas e persistentes ao longo das principais rodovias no centro da Amazônia do Brasil".
(G1, 26/8/19)