Mais de 15 mil empresas somaram R$ 50,6 bi em isenções fiscais em 2021
Em média, Receita Federal concedeu R$ 3,2 milhões para cada uma das 15.671 empresas. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Governo divulga ‘caixa-preta’ com benefícios bilionários concedidos a empresas; líder de deduções, que totalizam R$ 20 bilhões, Vale diz que informações são públicas
A Receita Federal divulgou nesta quarta-feira, 24, três listas com mais de 15 mil empresas que receberam benefícios fiscais em 2021. A divulgação das informações atende a uma determinação do Ministério da Fazenda para abrir a “caixa-preta” da Receita. A lista mostra que 57 empresas tiveram deduções fiscais de mais de R$ 100 milhões cada uma em 2021, totalizando R$ 34 bilhões, ou seja, 67% do total. As renúncias, benefícios e incentivos somam, ao todo, R$ 50,6 bilhões.
As isenções são para tributos sobre o lucro das empresas, chamados IRPJ/CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Em média, a Receita Federal concedeu R$ 3,2 milhões para cada uma das 15.671 empresas.
A maior isenção foi concedida à mineradora Vale: R$ 20 bilhões. Em 2021, a empresa teve receita líquida de R$ 293,5 bilhões. Com isso, ela conseguiu gerar R$ 14,67 em faturamento a cada R$ 1 de dedução fiscal. Do total concedido em isenção à Vale, R$ 19 bilhões foram destinados aos projetos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) e da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), respectivamente, no Norte e no Nordeste do País.
Em segundo lugar, aparece a Eletronorte, subsidiária da Eletrobras, com dedução de R$ 1,2 bilhão, seguida pela Salobo Metais (subsidiária da Vale), com o mesmo valor.
Conforme antecipou o Estadão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia divulgado sua intenção de abrir o que ele chama de “caixa-preta” das renúncias tributárias do País. O volume de recursos que o governo abre mão de arrecadar produz um buraco de R$ 600 bilhões no Orçamento.
Na avaliação de Henrique Lopes, sócio de direito tributário do escritório KLA Advogados, a divulgação das informações sobre as deduções e benefícios fiscais praticados pelo governo para as empresas é positivo, mas precisa ser feito com cuidado, para não trazer prejuízos às empresas que têm informações sensíveis aos negócios expostos pela Receita Federal
'Caixa-preta' das isenções da Receita Federal
Dados do governo mostram que 57 empresas receberam isenção de R$ 100 milhões ou mais em 2021
Empresas |
Valor da isenção |
||
VALE S/A |
19.108.368.649 19.108.368.649 19.108.368.649 |
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CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A. |
1.215.042.763 1.215.042.763 1.215.042.763 |
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SALOBO METAIS S/A |
1.205.178.285 1.205.178.285 1.205.178.285 |
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PETROBRAS |
1.129.304.635 1.129.304.635 1.129.304.635 |
||
COMPANHIA HIDRO ELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO |
845.773.564 845.773.564 845.773.564 |
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BRASKEM S.A. |
761.764.651 761.764.651 761.764.651 |
||
RECOFARMA INDÚSTRIA DO AMAZONAS LTDA (COCA-COLA) |
606.466.011 606.466.011 606.466.011 |
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CSP - COMPANHIA SIDERÚRGICA DO PECEM |
437.421.580 437.421.580 437.421.580 |
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COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA COELBA |
331.405.450 331.405.450 331.405.450 |
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NOVAMED FABRICAÇÃO DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA |
321.504.652 321.504.652 321.504.652 |
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CROWN EMBALAGENS METÁLICAS DA AMAZÔNIA S.A. |
320.837.667 320.837.667 320.837.667 |
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MINERAÇÃO CARAÍBA S/A |
310.933.301 310.933.301 310.933.301 |
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ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A. |
290.998.947 290.998.947 290.998.947 |
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AROSUCO - AROMAS E SUCOS LTDA. |
287.667.574 287.667.574 287.667.574 |
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REFINARIA DE MATARIPE S.A. |
273.798.005 273.798.005 273.798.005 |
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JACOBINA MINERAÇÃO E COMÉRCIO LTDA |
260.859.559 260.859.559 260.859.559 |
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TERMO NORTE ENERGIA LTDA |
258.176.564 258.176.564 258.176.564 |
||
RUMO MALHA NORTE S.A. |
254.221.942 254.221.942 254.221.942 |
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EQUATORIAL PARA DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A. |
250.671.865 250.671.865 250.671.865 |
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TIM S/A |
239.612.841 239.612.841 239.612.841 |
Tabela: Estadão Fonte: Receita Federal Obter dados Criado com Datawrapper
“Há mérito na publicidade da existência de regimes fiscais especiais para determinados grupos econômicos ou até para empresas individualmente, já que se trata da alocação ou dispensa de recursos públicos, mas informações como valores, prazos e condições específicas parecem conflitar com o direito ao sigilo fiscal e podem ter consequências danosas à concorrência”, afirma.
Entre as empresas que aparecem na listagem da Receita estão nomes como a área de pagamentos do Magazine Luiza, bancos como Santander e Itaú Asset e as varejistas Havan e Lojas CEM. As planilhas mostram que pelo menos 124 bancos do País recebem algum tipo de benefício do governo federal.
Além das empresas, a listagem também inclui entidades religiosas que recebem algum tipo de benefício fiscal do governo. Ao menos 150 igrejas estão na lista de beneficiárias que têm acesso aos incentivos, renúncias, benefícios ou imunidade tributária.
Para Haddad, a “caixa-preta” de isenções seria a “maior da história”, muito mais alta do que o orçamento secreto, mecanismo também revelado pelo Estadão, sobre a distribuição de verbas a parlamentares, sem critério e transparência em troca de apoio político.
“Só estamos pagando R$ 700 bilhões de juros porque estamos pagando R$ 600 bilhões de renúncia. É simples assim”, disse, na ocasião, o chefe da pasta. Segundo o ministro, a meta do governo é cortar pelo menos um quarto dos privilégios, ou seja, cerca de R$ 150 bilhões, chamados pelo ministro de “jabutis tributários”.
Questionada sobre a divulgação da Receita Federal, a Vale informou, em nota, que as informações sobre isenção fiscal relativas à mineradora são públicas e divulgadas trimestralmente pela companhia.
“Os investimentos ambientais, sociais e econômicos são publicados regularmente, dentro da política de transparência da empresa com a sociedade, inclusive em seu portal ESG”, declarou a empresa. “A Vale reafirma o seu compromisso com a transparência e a mineração sustentável, promovendo o desenvolvimento socioeconômico e a conservação das áreas em que atua.”
O Estadão procurou todas as empresas citadas, mas ainda não obteve resposta (O Estado de S.Paulo, 25/5/23)