24/05/2021

Marfrig compra fatia de 24% na rival BRF para diversificar investimentos

Marfrig compra fatia de 24% na rival BRF para diversificar investimentos

Legenda: Em comunicados, Marfrig e BRF confirmaram as transações, que haviam sido divulgadas antes na imprensa

A processadora de carnes Marfrig confirmou ontem (22) ter comprado cerca de 24,23% no capital da empresa de alimentos BRF. Em nota, disse que a operação “visa diversificar os investimentos” do grupo.

Em comunicados, Marfrig e BRF confirmaram as transações, que já haviam sido divulgadas antes na imprensa. O negócio somou 196,68 milhões de papéis, comprados via leilões em bolsa.

“A aquisição visa a diversificar os investimentos da Marfrig em um segmento que tem complementaridades com seu setor numa empresa onde a administração vem realizando uma reconhecida gestão”, disse a Marfrig, a acrescentou que “não pretende eleger membros para o conselho de administração ou exercer influência sobre as atividades da BRF”.

A empresa também disse que não foram celebrados contratos ou acordos sobre direito de voto.

O movimento da Marfrig evidencia a força da divisão da empresa na América do Norte, onde a demanda tem sido forte e os preços do gado, relativamente baixos. Isso impulsionou o preço das ações da empresa em relação às da BRF, cujas margens foram comprimidas pela maior dependência do Brasil.

Os ativos das empresas têm complementaridade, dado o foco da Marfrig em bovinos e, da BRF, em aves e suínos. As duas competem com a rival e líder de mercado JBS, que tem uma base de produção diversificada que inclui vendas de alimentos processados e três tipos de proteínas.

O site Brazil Journal publicou mais cedo que a Marfrig já havia comprado 4,9% do capital da BRF e estava comprando ações adicionais do fundo de pensão Previ, mirando uma fatia de cerca de 20% na empresa.

As ações da BRF, que vinham subindo nos últimos dias em meio a negociações atípicas e elevados volumes, saltaram com as notícias e fecharam em alta de 16,2%, a R$ 23,16.

Já o papel da Marfrig teve queda de 5,2%, a R$ 19,04.

Os frigoríficos brasileiros têm visto os lucros aumentarem nos últimos anos, ajudados pelo fortalecimento da demanda da China, especialmente a partir de 2018, quando uma peste mortal que afeta suínos forçou o abate de milhões de animais, abrindo espaço para importações de empresas estrangeiras.

Nos últimos meses, no entanto, os frigoríficos no Brasil têm enfrentado elevação drástica de custos, à medida que os preços do gado dispararam e os custos dos grãos atingiram níveis recordes, ameaçando encolher suas margens de lucro.

Antes da operação desta semana, as empresas haviam discutido uma possível aquisição da BRF pela Marfrig, mas interromperam as negociações em julho de 2019.

A compra pela Marfrig das ações da BRF foi noticiada primeiramente pelo jornal Valor Econômico (Reuter,21/5/21)


Fusão entre Marfrig e BRF seria positiva, mas não livre de desafios

 Legenda: A Marfrig e a BRF declararam em maior de 2019 que estavam estudando uma possível combinação de negócios, mas o processo foi cancelado poucos meses depois do anúncio (Imagem: BRF/LinkedIn)

Por Diana Cheng

Marfrig (MRFG3) confirmou na noite de sexta-feira a compra de aproximadamente 24,23% de participação na BRF (BRFS3), alimentando novamente a possibilidade de uma combinação de negócios entre ambas as empresas do setor frigorífico.

Nenhuma das duas empresas confirmou estudos sobre uma potencial fusão. No entanto, alguns analistas já avaliam como positivo esse evento, caso aconteça.

A XP Investimentos relembra que a Marfrig e a BRF declararam em maior de 2019 que estavam estudando uma possível combinação de negócios, mas o processo não andou e foi cancelado poucos meses depois do anúncio.

Mesmo com o fracasso da primeira tentativa, a XP não descarta que a fusão, vista como positiva pela corretora, pode acontecer agora.

“Desde 2019, […] muita coisa aconteceu, com o evento da Febre Suína Africana piorando na China e criando uma das maiores oportunidades para empresas de proteína animal na história recente, especialmente aqueles focados em carne bovina e suína”, afirmam Leonardo Alencar e Larissa Pérez, analistas de Agro, Alimentos e Bebidas da XP.

A corretora destaca ainda que o desempenho das operações da Marfrig superou o da BRF em 2020, e a compra da QuickFood (empresa argentina da BRF) pela Marfrig não afetou o relacionamento entre as duas companhias.

Desafios

Legenda: O maior desafio da potencial fusão Marfrig-BRF: culturas muito diferentes (Imagem: REUTERS/Bernadett Szabo)

Uma combinação de negócios entre Marfrig e BRF seria positiva, principalmente pela parte da diversificação entre as proteínas animais (a primeira empresa é 100% focada em carne bovina, enquanto a segunda trabalha com carne suína e de frango) e entre geografias (a Marfrig tem a maior parte da receita advinda das operações da América do Norte, enquanto a BRF tem foco no Brasil), diminuindo a percepção de risco da empresa resultante.

Por outro lado, as diferenças na cultura entre os dois nomes tornam o processo de fusão bem mais difícil de acontecer.

“Vemos duas culturas muito diferentes tentando se fundir, o que não é fácil de acontecer”, comentam Alencar e Pérez. “Pode parecer um detalhe pequeno, mas diante de empresas com DNAs diferentes podemos esperar diferentes culturas de gestão, diferentes métricas de desempenho e, portanto, uma fusão que pode nunca ter fim” (Money Times, 22/5/21)