08/04/2022

Marfrig: Meta de neutralidade em carbono será definida no próximo ano

Marfrig: Meta de neutralidade em carbono será definida no próximo ano

paulo pianez marfrig -  foto twitter 

O diretor de Sustentabilidade da Marfrig, Paulo Pianez, diz não haver hoje condições de estabelecer uma meta de neutralidade de emissões líquidas de carbono. Em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, afirma ser necessária uma metodologia sedimentada, submetida ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas. Segundo ele, a agenda ESG (sigla em inglês para a agenda ambiental, social e de governança) veio para ficar no universo corporativo mas, diferentemente de seus pares, a Marfrig ainda não tem metas públicas de neutralidade de carbono. “A gente precisa ter todas as variáveis em mãos”, diz. "Não vamos jogar no papel que em 2040, 2050 seremos Net Zero.” De acordo com ele, a Marfrig espera ter uma meta de neutralidade, com consistência estabelecida, no próximo ano.

Dos três pilares dos compromissos ESG, é na área ambiental que recai com mais força a pressão internacional. Pianez diz que a transparência e a rastreabilidade da cadeia produtiva da pecuária são os maiores desafios para a garantia de sustentabilidade no Brasil. A Marfrig afirma que 100% de seus fornecedores diretos são rastreados e comprometidos com o desmatamento zero, legal e ilegal. Pianez aponta que a meta da companhia, agora, é alcançar 100% dos fornecedores indiretos ao longo dos próximos três anos. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Broadcast Agro - Qual o prazo da companhia para conseguir monitorar todos os fornecedores indiretos? Quais são as medidas que vêm sendo adotadas?

Paulo Pianez 
- Estamos com 60%, na média, de identificação de origem (dos animais) nos biomas Cerrado e Amazônia. A gente tinha colocado como premissa ter uma cadeia rastreável e totalmente livre de desmatamento para Amazônia até 2025 e, para Cerrado, até 2030, mas estamos vendo que vamos atingir isso antes. Temos uma meta de fechar o ano com 70% a 75% de identificação. Temos conseguido engajar os nossos fornecedores diretos, identificar quem abastece esses fornecedores e como se distribui essa cadeia. A previsão é que até 2025 a gente já esteja muito próximo de 100% de controle em todos os biomas que a gente origina.

Broadcast Agro - Como está a regularização dos fornecedores de bovinos para a Marfrig e que têm alguma pendência socioambiental?

Pianez
 - No ano passado, foram mais de 2,1 mil fazendas reintegradas pela Marfrig, porque seriam fazendas em status de exclusão (foram regularizadas quanto aos compromissos socioambientais da companhia). Esse número representou, em 2021, 26% de animais abatidos pela empresa no Brasil, ou 700 mil animais. A Marfrig tem o princípio de não mais exclusão, mas inclusão. Não existe produção sustentável se antes não for rentável. A nossa premissa tem sido de parceria de entendimento do que é a produção. Enquanto indústria precisamos estar próximo do produtor, para se fazer aquilo que tem de ser feito: tornar (a produção) rentável produzindo com sustentabilidade.

Broadcast Agro - Quando serão divulgadas as metas públicas de neutralidade de carbono da companhia? E quais serão elas?

Pianez
 - A gente precisa ter todas as variáveis em mãos e não há condições hoje para que se estabeleça uma meta de neutralidade. Não se tem informações suficientes para que se faça isso. Jogar no papel que em 2040, 2050 eu vou ser Net Zero é muito fácil. Esperamos que todas as variáveis que precisam de uma metodologia muito bem sedimentada, submetidas ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas, possam ser reconhecidas como algo que pode efetivamente mostrar como se maximiza a redução (de emissões). E, depois, pode-se fazer a compensação. É a partir disso que a gente consegue estabelecer a meta de neutralidade. Sem isso, é impossível. Tão logo a gente tenha todas essas variáveis em mãos, falta uma delas, que é a da questão de emissões de uso da terra, que deve ficar pronta até o fim deste ano, então, teremos condições de mostrar em que tempo a gente consegue ser neutro em emissões. Dito tudo isso, ano que vem a Marfrig vai ter uma meta de neutralidade com consistência bastante estabelecida.

Broadcast Agro - É possível desvincular, no curto prazo, a pecuária de desmatamento na Amazônia? Quantos fornecedores a Marfrig tem na Amazônia e quantas plantas operam no bioma? Qual a quantidade adquirida de gado da região?

Pianez
 - O nosso geomonitoramento, basicamente, é uma abordagem territorial que mitiga esse risco. Usamos imagens via satélite, comparadas com o mapa de desmatamento e, se houver qualquer sobreposição, automaticamente esse processo de compra é bloqueado. A gente vê claramente o desmatamento em áreas públicas, devolutas e não destinadas e para ocupar essas áreas se bota boi. Geralmente não é para uma atividade de pecuária, mas uma ação de demarcação de território. É fundamental que a gente assegure que os animais que a Marfrig adquire não sejam provenientes destas áreas. Mas é necessário também que a gente tenha políticas públicas que inibam, como fiscalização e punição, esse tipo de situação e, consequentemente, perda de biodiversidade.

Cerca de 85% da originação da Marfrig está concentrada nos biomas Amazônia e Cerrado. Os outros se distribuem no Pantanal e Pampa, e muito pouquinho na Mata Atlântica. Temos três plantas no bioma Amazônia, quatro plantas que estão no Cerrado e outras três plantas no Sul do País (no bioma Pampa).

Broadcast Agro - O processo digestivo dos bovinos é outra fonte de emissões importante. Quais são as iniciativas na companhia para reduzir essas emissões?

Pianez
 - Um dos caminhos é o tempo de abate, o ideal é abater o animal entre 24 e 30 meses. Também é preciso trabalhar a alimentação desses animais, trazer uma melhora na nutrição e microbiota. Já existem aditivos que podem ser inseridos na alimentação que vão fazer com que haja uma diminuição substancial de emissões, de 10% a 40%. Além disso, é preciso também a integração com outras culturas. Quando se integra a lavoura, ou a floresta, com a pecuária, é possível sequestrar metano da atmosfera.

Broadcast Agro - A Marfrig tem conseguido convencer investidores de que não há vínculo da companhia com desmatamento?

Pianez
 - Sim, a gente tem conseguido bom diálogo com investidores e clientes internacionais. A Marfrig é a única brasileira que exporta e fornece para determinados mercados, não posso abrir para quem, mas que estão, hoje, no Reino Unido e Europa. Até agora não tivemos nenhum desinvestimento ou recomendação de desinvestimento das grandes casas de investimento lá fora (Broadcast, 7/4/22)