02/06/2020

Mercado fez com gasolina o que setor de etanol queria,diz CEO da Petrobras

Roberto Castello Branco

Legenda: Castello Branco lembrou que o setor de etanol havia reivindicado um aumento do tributo Cide na gasolina(Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

Com a alta dos preços da gasolina na esteira de uma recuperação das cotações internacionais do petróleo, os valores do combustível fóssil nas bombas do país ficaram sustentados pelas forças do mercado, afastando a necessidade de uma intervenção do governo reivindicada pelo setor de etanol no Brasil, disse nesta segunda-feira o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.

Ele lembrou que o setor de etanol havia reivindicado um aumento do tributo Cide na gasolina, para deixar o etanol mais competitivo durante a crise de demanda que abateu a indústria de combustíveis por conta das medidas de isolamento para combater o coronavírus.

Mas, com a alta dos preços da Petrobras, que elevou as cotações em quatro oportunidades durante maio —um aumento acumulado no mês de 45%, em linha com as cotações do petróleo Brent (+40%)—, as forças mercadológicas atuaram, destacou o executivo.

“O mercado rapidamente fez um trabalho que alguns queriam que o governo fizesse, os preços da gasolina reagiram a partir do final de abril e a alta mais do que compensou o imposto que muitos empresários advogavam...para tornar competitivo o etanol frente à gasolina”, disse Castello Branco.

O comentário foi feito durante uma videoconferência promovida pela FGV Energia, quando o executivo foi questionado sobre o que deveria ser aperfeiçoado na indústria do Brasil.

“Neste sentido, o Brasil precisa melhorar muito, precisa ter uma abertura maior a investimentos, para poder explorar efetivamente as riquezas que possuímos...”, destacou.

A alta da Cide foi negada no início de maio pelo presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que sua política “é de não aumentar imposto”, ao ser questionado sobre o assunto.

Diante da negativa, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) vem buscando outras formas de apoio governamental, como um programa para financiamento dos estoques, para limitar o impacto negativo da queda na demanda aos preços.

Em nota nesta segunda-feira, ao comentar a queda no consumo de combustíveis, a Unica disse que a criação de uma linha de financiamento usando os estoques como garantia seria uma solução de mercado que poderia evitar o agravamento da situação financeira do setor.

As vendas totais de combustíveis no Brasil caíram 6,5% no primeiro quadrimestre, com o etanol hidratado recuando no mesmo período mais de 11%, mais do que a redução de 9,5% vista no mercado de gasolina, segundo dados da reguladora ANP (Reuters, 1/6/20)

 


ANP: Consumo de combustíveis leves cai 30% em abril

 

Dados publicados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e compilados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) apontam houve uma retração de 30,2% no consumo de combustíveis, em gasolina equivalente, pela frota de veículos leves no mês de abril quando comparado ao mesmo período do ano anterior. O volume registrado de 3,12 bilhões de litros representa o menor valor mensal desde fevereiro de 2010.

 

No acumulado de janeiro a abril, o consumo de combustíveis no mercado nacional atingiu 15,66 bilhões de litros, em gasolina equivalente, o que representa uma queda de 10,0% na comparação com o mesmo período de 2019.

 

Por conta dos impactos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus, tanto o consumo de etanol hidratado como o de gasolina apresentaram forte retração em abril, -33,6% e -28,8%, respectivamente. Com isso, o volume consumido do biocombustível somou apenas 1,2 bilhão de litros e 2,27 bilhões de litros referente ao fóssil.

 

Na avaliação por Estado, com exceção de Santa Catarina, que apresentou crescimento de 20% no consumo de hidratado, todas as demais unidades federativas registraram sensíveis quedas no volume demandado de biocombustível. Os dados indicam que nos principais Estados consumidores do renovável, a retração na demanda ficou em 31,1%, variando de 23,2% no Mato Grosso até 34,8% no Paraná. Com relação ao consumo de gasolina C, a retração variou de 8,4% no Mato Grosso até 38,4% no Amazonas.  

 

“Os dados da ANP estão alinhados com as vendas de etanol informadas pelas unidades produtoras e reportadas pela UNICA”, avalia Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da instituição. No mês de abril, as empresas da região Centro-Sul comercializaram com as distribuidoras 1,1 bilhão de litros de etanol hidratado combustível, queda de 37,8% no volume em comparação com abril de 2019.

 

“A comprovação da forte retração na demanda sentida pelas unidades produtoras evidencia a necessidade de soluções estruturadas para o enfrentamento da crise. A criação de uma linha de financiamento usando os estoques como garantia é uma solução de mercado que pode evitar o agravamento da situação financeira do setor”, complementa Padua.  

 

No acumulado de 2020, os dados da ANP ainda mostram que o volume do renovável comercializado totaliza 6,35 bilhões de litros, 11,3% inferior ao registrado no mesmo período de 2019.

 

Apesar da significativa retração no consumo, a elevada competitividade do etanol no mercado doméstico frente a gasolina possibilitou a manutenção da participação na matriz de combustíveis do ciclo Otto. Em abril, o índice que mensura os volumes de hidratado e anidro consumidos pela frota de veículos de passeio e carga leve atingiu 46,8%.

 

Informações da ANP e compiladas pela UNICA mostram que na última semana (entre 24 a 30 de maio) 188 municípios apresentaram preços relativos a etanol versus gasolina inferiores a paridade técnica de 70% (Única, 1/6/20)