07/12/2021

Mercado tem carne para o fim de ano, mas falta o consumidor

Mercado tem carne para o fim de ano, mas falta o consumidor

Foto CARNES VARIADAS Getty Images

 

Baixo poder de compra da população impacta projeções do setor.

Pagamento da primeira parcela do 13º, salário do mês, chegada das festas de fim ano. Tudo poderia levar o consumidor para o mercado de alimentos neste início de dezembro. Ele continua, no entanto, bastante retraído, principalmente na aquisição de carnes.

A avaliação é de Heloísa Xavier, diretora da JOX Assessoria Agropecuária. "É um mercado inconsistente para este período do ano. Falta poder aquisitivo da população, e o dinheiro que está entrando vai para pagar contas atrasadas e as que estão vencendo", afirma.

No setor de carnes, a bovina ainda tem uma pequena sustentação nas vendas, devido às promoções da carne de segunda, mas a oferta de animais ainda é baixa. Já nos setores de frango e de suínos, os frigoríficos estão bem mais abastecidos.

"O mercado tem carne, mas falta o consumidor."

Esse cenário de incertezas no consumo se reflete no campo. Após um recuo de R$ 11 na sexta-feira (3), quando caiu para R$ 313, a arroba de boi gordo voltou a se recuperar nesta segunda-feira (6) no mercado paulista, subindo para R$ 322, uma elevação de R$ 9.

A queda da semana passada foi um movimento brusco, mas pontual, segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O cenário, no entanto, será de preços firmes. Ele acredita em uma pressão de compras no final de ano e, mesmo com a taxa de inflação elevada e a perda de renda, o consumidor acabará optando pelas proteínas, afirma o pesquisador.

A dificuldade maior para o consumidor, em termos de preços, vai continuar com a carne bovina. Além da demanda maior neste período do ano, o que é natural, a oferta de gado vai continuar restrita.

A ocorrência de chuvas na passagem de 2021 para 2022 está melhor do que foi a de 2020 para 2021, o que permite ao pecuarista controlar melhor suas vendas.

A oferta de gado está restrita, mas a produtividade vem melhorando, segundo Carvalho. Os pecuaristas estão planejando melhor sua atividade nos anos recentes, utilizando novas tecnologias e aprimorando o manejo e a gestão.

Já os aventureiros do setor têm problemas, devido a esse sobe e desce dos preços, afirma ele. Em julho, a arroba estava em R$ 322, recuou para R$ 254 no final de outubro e voltou para R$ 324 na semana passada.

O pesquisador do Cepea diz que está havendo uma peneira na atividade, com muitos produtores indo para a soja ou arrendando suas terras.

Apesar do cenário atual, ele prevê uma melhora na oferta, principalmente após o primeiro semestre. O pecuarista já faz confinamento para a entrega no ano todo, e há um aumento de produtividade.

O cenário para o consumidor, porém, é delicado. A arroba de boi no pasto vale mais do que o equivalente a uma arroba da carcaça casada no atacado de São Paulo. Isso mostra uma pressão maior no campo do que os preços atuais da carne no atacado e no varejo.

Segundo o Cepea, o quilo de carne da carcaça casada (carnes do traseiro, dianteiro e ponta de agulha) está em R$ 20,55 no mercado atacadista de São Paulo, o maior preço desde meados de junho.

Esse mercado ainda tem um componente muito importante para ser avaliado: quando a China volta e quanto vai comprar.

O país asiático está em uma sinuca, uma vez que os chineses aprenderam a comer carne bovina, a classe média se amplia e a necessidade de importações cresce.

Para Carvalho, a China precisa de carne, e o Brasil é o melhor mercado para eles, devido à boa oferta e a preços mais acessíveis. É difícil, no entanto, prever quando os chineses voltam ao mercado brasileiro. Talvez esperem o início do próximo ano, afirma o pesquisador.

A China interrompeu as compras de carne bovina do Brasil no início de setembro, após a ocorrência de dois casos atípicos de vaca louca.

 Com isso, as exportações totais de carne bovina fresca, resfriada e congelada, pelo Brasil, recuaram para apenas 163 mil toneladas no acumulado de outubro e de novembro. Só em setembro, as exportações haviam somado 187 mil toneladas.

De acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), as exportações melhoraram nesta primeira semana de dezembro, somando 5.288 toneladas por dia útil, 24% acima do volume médio de novembro.

Para Carvalho, a situação é delicada também para o pecuarista. Apesar de uma previsão de preços bons para o boi, não adiante segurar o animal. O consumidor está sem renda, e a concorrência das outras proteínas, com custos menores, é grande.

Há um limite para aumentos internos. Já o dólar nos patamares atuais incentiva as exportações (Folha de S.Paulo, 7/12/21)