18/09/2019

Mesmo com boa exportação, café não gera renda ao produtor

Mesmo com boa exportação, café não gera renda ao produtor

Produção brasileira deverá ficar em 49 milhões de sacas neste ano, 21% abaixo do registrado no ano passado.

O setor de café produz bem, eleva as exportações, mas não gera renda. É o que mostra o cruzamento de dados de duas pesquisas divulgadas pelo Ministério da Agricultura nesta terça-feira (17): a de produção e de valor bruto da produção.

A produção brasileira deverá ficar em 49 milhões de sacas neste ano, 21% abaixo do registrado no ano passado, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

As lavouras deste ano, porém, estão na chamada bienalidade negativa, período em que a florada e a produção são tradicionalmente menores.

Se comparada a safra desde ano com a de 2017, também de bienalidade negativa, a colheita de 2019 vai superar em 9% a daquele ano.

O aumento de produção permite ao Brasil elevar a participação no mercado externo. Em 2018, foram exportados 35,6 milhões de sacas de café pelo país, com receitas de US$ 5,2 bilhões.

 

Neste ano, as vendas externas também estão aquecidas, somando 27 milhões de janeiro a agosto último. As receitas, no entanto, são de US$ 3,37 bilhões.

Comparando-se o volume total exportado e as receitas de 2018, em relação ao desempenho dos oito primeiros meses deste ano, os preços médios externos recuaram 14% por saca.

Esse cenário desfavorável do mercado externo reflete sobre os preços e renda dos produtores internos.

Uma das pesquisas divulgadas pelo Ministério da Agricultura nesta terça-feira aponta que o Valor Bruto da Produção do setor cafeeiro deverá recuar para R$ 19,5 bilhões neste ano, 25% menos do que em 2018.

Se confirmado, esse valor será o menor nos últimos cinco anos, ficando abaixo, inclusive, de períodos de safras bem inferiores à de 2019.

A perda de renda, contudo, não afeta apenas os produtores de café. José Gasques, do Ministério da Agricultura, aponta que o VBP total deste ano deverá subir para R$ 602 bilhões, 1,5% mais do que em 2018.

Assim como o café, porém, outros setores de peso na agricultura, como os de cana e de soja, vão ter retração no valor da produção, devido a preços menores dos produtos.

Nos cálculos de Gasques, o VBP da líder soja recuará para R$ 129 bilhões neste ano, após ter atingido R$ 148 bilhões no ano passado.

As lavouras, de uma forma geral, não vão bem. Devem somar R$ 395 bilhões, com queda de 1%. Já a pecuária dá sustentação ao VBP total do país, crescendo 6,5% e atingindo R$ 207 bilhões no ano.

Um dos principais suportes da renda no campo neste ano tem sido o algodão. Há três anos, produção e preços do produto geravam R$ 14 bilhões. Neste ano, deverão atingir R$ 40 bilhões (Folha de S.Paulo, 18/9/19)