08/01/2025

Meta elimina checagem e ataca decisões secretas de tribunais do continente

Meta elimina checagem e ataca decisões secretas de tribunais do continente

Donaldo Trump, Mark Zuckerberg e Elon Musk. Foto Reprodução Evan Vucci – David Zalubowski e Alex Brandon – AP

 

 

Sem citar o STF explicitamente, Zuckerberg diz que Trump precisa ajudar a combater o que está sendo feito pelo Judiciário na região.

 

Meta anunciou nesta terça-feira (7) um conjunto de mudanças em suas práticas de moderação de conteúdo que efetivamente colocariam fim ao seu programa de checagem de fatos de longa data, uma política instituída para conter a disseminação de desinformação em seus aplicativos de mídia social.

 

Em vídeo no qual comentou a decisão, em sua conta no Instagram, o CEO da empresa, Mark Zuckerberg, também atacou "decisões secretas" de tribunais latino-americanos. Sem citar o STF explicitamente, Zuckeberg diz que governo americano precisa ajudar a combater o que está sendo feito pelo Judiciário na região.

 

"Países da América Latina têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa", disse ele (leia a íntegra abaixo).

 

"Os fact checkers foram muito enviesados e destruíram mais verdade do que criaram, especialmente nos EUA. Vamos nos livrar dos checadores", afirmou ele, definindo a eleição de Donald Trump como um ponto de virada para a liberdade de expressão.

 

A reversão da política de anos é um sinal claro de como a empresa está se reposicionando para o novo governo Donald Trump, que toma posse em 20 de janeiro.

 

Em vez de usar organizações de notícias e outros grupos de terceiros, a Meta, que possui o Facebook, Instagram e WhatsApp, dependerá dos usuários para incluir correções ou observações a postagens que possam conter informações falsas ou enganosas, relata o jornal New York Times.

 

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anuncia mudanças na política de checagem de fatos - Brendan Smialowski - 31.jan.2024/AFPMark Zuckerberg, CEO da Meta, disse em uma declaração em vídeo que o novo protocolo, que começará nos Estados Unidos, é semelhante ao usado pelo X (antigo Twitter), chamado Community Notes.

 

"É hora de voltar às nossas raízes em torno da livre expressão", disse Zuckerberg, que afirmou que o sistema atual de verificação de fatos da empresa "chegou a um ponto em que há muitos erros e muita censura."

 

Zuckerberg observou que "as eleições recentes também parecem um ponto de inflexão cultural para novamente priorizar esse discurso."

Elon Musk tem confiado no Community Notes para sinalizar postagens enganosas no X. Desde que assumiu a rede social, Musk, um grande doador de Trump e que participará da gestão do republicano, tem cada vez mais posicionado o X como a plataforma por trás da nova presidência.

 

A mudança da Meta provavelmente agradará a administração de Trump e seus aliados conservadores, muitos dos quais não gostavam da prática da Meta de adicionar avisos ou alertas a postagens questionáveis ou falsas. Trump criticava Zuckerberg há muito tempo, avaliando que o recurso de verificação de fatos tratava postagens de usuários conservadores de forma injusta.

 

Desde que Trump foi eleito em novembro, a Meta se moveu rapidamente para tentar melhorar a relação com o político e seus aliados conservadores.

 

No final de novembro, Zuckerberg jantou com Trump em seu clube Mar-a-Lago na Flórida, onde também se encontrou com sua escolha para secretário de Estado, Marco Rubio.

 

Meta doou US$ 1 milhão (R$ 6,09 milhões) para apoiar a posse de Trump em dezembro. Na semana passada, Zuckerberg elevou Joel Kaplan, um conservador de longa data e o executivo de mais alto escalão da Meta mais próximo do Partido Republicano, ao cargo mais relevante de política da empresa.

 

Por fim, na segunda-feira (6), Zuckerberg anunciou que Dana White, chefe do UFC e um aliado próximo de Trump, se juntaria ao conselho da Meta.

 

Executivos da companhia de tecnologia recentemente avisaram aos funcionários de Trump sobre a mudança de política, de acordo com uma pessoa com conhecimento das conversas que falou sob condição de anonimato.

 

O anúncio da verificação de fatos coincidiu com uma aparição de Kaplan no programa de televisão "Fox & Friends", um dos favoritos de Trump. Ele disse aos apresentadores do programa matinal popular entre conservadores que havia "muito viés político" na checagem de fatos, e que as mudanças resultariam em "muito menos aplicação excessiva" de conteúdo.

 

A mudança põe fim a uma prática que a empresa iniciou havia oito anos, nas semanas que se seguiram à eleição de Trump em 2016. Na época, o Facebook estava sob pressão por causa da disseminação desenfreada de desinformação em sua rede, incluindo postagens de governos estrangeiros tentando semear discórdia entre o público dos EUA.

 

Como resultado de uma enorme pressão pública, Zuckerberg recorreu a organizações externas como a agência de notícias Associated Press, a emissora de televisão ABC News e o site de verificação de fatos Snopes, juntamente com outras organizações globais avaliadas pela International Fact-Checking Network, para examinar postagens potencialmente falsas ou enganosas no Facebook e Instagram e decidir se precisavam de uma observação ou serem removidas.

 

Entre as mudanças, Zuckerberg disse que "removerá restrições sobre tópicos como imigração e gênero que estão fora de sintonia com o discurso dominante." Ele também disse que as equipes de confiança e segurança e moderação de conteúdo seriam transferidas da Califórnia, com a revisão de conteúdo dos EUA mudando para o Texas. Isso "ajudaria a remover a preocupação de que funcionários tendenciosos estejam censurando excessivamente o conteúdo", disse ele.

 

VEJA A ÍNTEGRA DA FALA DE ZUCKERBERG

 

Oi, pessoal.

 

Eu quero falar sobre algo importante hoje, porque é hora de voltarmos às nossas raízes sobre livre expressão no Facebook e no Instagram.

 

Comecei a construir mídias sociais para dar voz às pessoas. Dei uma palestra em Georgetown há cinco anos atrás sobre a importância de proteger a expressão livre, e ainda acredito nisso hoje. Mas muita coisa aconteceu nos últimos anos. Há uma discussão ampla sobre os potenciais danos do conteúdo online. Governos e mídia pressionam para censurar mais e mais. Muito disso é claramente político. Mas também há muita coisa legitimamente ruim lá fora. Drogas, terrorismo, exploração de crianças. Essas são coisas que levamos muito a sério e eu quero ter certeza de que nós lidamos responsavelmente com elas.

 

Então construímos um monte de sistemas complexos para moderar o conteúdo. Mas o problema com sistemas complexos é que eles erram.

 

Mesmo se eles acidentalmente censurarem apenas 1% dos posts, isso é milhões de pessoas. E chegamos a um ponto em que são apenas muitos erros e muita censura.

 

As eleições recentes também são um ponto de virada cultural para que voltemos a priorizar a livre expressão. Então vamos voltar às nossas raízes e focar reduzir erros, simplificar nossas políticas e restaurar a expressão livre em nossas plataformas.

 

Mais especificamente, isto é o que vamos fazer:

 

Primeiro, vamos eliminar os fact-checkers e os trocar por notas de comunidade, semelhantes a X.
Começando nos EUA, depois de Trump ser eleito em 2016, a mídia escreveu sem parar sobre como a desinformação era uma ameaça à democracia.

 

Nós tentamos, de boa fé, lidar com essas preocupações sem nos tornarmos os árbitros da verdade. Mas os verificadores de fatos têm sido politicamente tendenciosos demais e destruíram mais confiança do que criaram, especialmente nos EUA. Então, nos próximos meses, vamos implementar gradualmente um sistema mais abrangente de notas da comunidade.

 

Em segundo lugar, vamos simplificar nossas políticas de conteúdo e eliminar várias restrições sobre temas como imigração e gênero que estão fora de sintonia com o discurso predominante. O que começou como um movimento para ser mais inclusivo tem sido cada vez mais usado para silenciar opiniões e excluir pessoas com ideias diferentes, e isso foi longe demais. Quero garantir que as pessoas possam compartilhar suas crenças e experiências em nossas plataformas.

 

Em terceiro lugar, estamos mudando a forma como aplicamos nossas políticas para reduzir os erros que representam a maior parte da censura em nossas plataformas. Antes, tínhamos filtros que escaneavam qualquer violação de política. Agora, vamos focar esses filtros em lidar com violações ilegais e de alta gravidade. Para violações de baixa gravidade, vamos depender de alguém relatando o problema antes de tomarmos uma ação. O problema é que os filtros comete m erros e removem muito conteúdo que não deveriam. Ao reduzir sua abrangência, vamos diminuir dramaticamente a quantidade de censura em nossas plataformas. Também ajustaremos nossos filtros para exigir maior confiança antes de remover qualquer conteúdo.

 

A realidade é que isso é uma troca. Significa que vamos detectar menos conteúdos problemáticos, mas também reduziremos o número de postagens e contas de pessoas inocentes que removemos acidentalmente.

 

Em quarto lugar, vamos trazer de volta o conteúdo cívico por um tempo. A comunidade pediu para ver menos política porque isso estava causando estresse. Então, paramos de recomendar essas postagens. Mas parece que estamos em uma nova era agora, e estamos começando a receber feedback de que as pessoas querem ver esse conteúdo novamente. Então, vamos começar a reintroduzi-lo no Facebook, Instagram e Threads, enquanto trabalhamos para manter as comunidades amigáveis e positivas.

 

Em quinto lugar, vamos mudar nossas equipes de confiança e segurança e moderação de conteúdo para fora da Califórnia, e a revisão de conteúdo nos EUA será baseada no Texas. Enquanto trabalhamos para promover a liberdade de expressão, acredito que isso ajudará a construir confiança ao realizar esse trabalho em locais onde há menos preocupação com o viés de nossas equipes.

 

Por fim, vamos trabalhar com o presidente Trump para resistir a governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando por mais censura. Os EUA têm as proteções constitucionais mais fortes do mundo para a liberdade de expressão.

 

A Europa tem um número cada vez maior de leis institucionalizando a censura e dificultando a inovação.

Países da América Latina têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa.

 

A China censurou nossos aplicativos, impedindo que eles funcionem no país.

 

A única maneira de resistir a essa tendência global é com o apoio do governo dos EUA. E é por isso que tem sido tão difícil nos últimos quatro anos, quando até o governo dos EUA pressionou por censura.

 

Ao atacar empresas americanas e de outros países, isso encorajou outros governos a irem ainda mais longe. Mas agora temos a oportunidade de restaurar a liberdade de expressão, e estou animado para fazer isso. Vai levar tempo para acertar. Estes são sistemas complexos e nunca serão perfeitos.

 

Também há muitas coisas ilegais, que ainda precisamos trabalhar muito para remover. Mas o ponto principal é que, depois de anos de trabalho de moderação de conteúdo focado principalmente em remoção, é hora de focar em reduzir erros, simplificar nossos sistemas e voltar às nossas raízes de dar voz às pessoas. Estou ansioso por este próximo capítulo. Fiquem bem, e mais novidades virão em breve (Folha, 8/1/25)