11/11/2024

Nem para o PT Lula é de esquerda, diz ministro

Nem para o PT Lula é de esquerda, diz ministro

Lula - apoio do MST -  (reprodução-Reprodução) - REVISTA VEJA

 

Para Renan Filho (Transportes), pragmatismo do presidente explica domínio de capital privado na infraestrutura.

 

O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), quer fazer 35 leilões de rodovias e ferrovias neste ano para destravar investimentos de R$ 190 bilhões até lá, superando o ex-ministro Tarcísio de Freitas, hoje potencial nome da direita alinhado com o mercado para disputar as eleições residenciais de 2026.

 

Para ele, no entanto, a predominância do capital privado no setor mostra que Lula um presidente pragmático e de centro, posição que precisa ser difundida caso ele seja candidato à reeleição.

 

O senhor já disse que já fez mais do que Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, e que, pela primeira vez, o capital privado será maioria em rodovias e ferrovias. A comparação entre gestões, que também se percebe em outras pastas, é uma orientação de Lula, mirando 2026?

Não é uma polarização política, nem uma obrigatoriedade [imposta pelo Planalto]. O fato é que o presidente Lula é o maior líder de centro do país. Muito antes do centro vencer as eleições municipais, PPUniãoPSDRepublicanos á estavam no governo.

 

Agora, é importante colocar para as pessoas compararem, porque é muito fácil dizer que Bolsonaro é liberal. Nunca foi. E também não foi eficiente, não fez concessão, não atraiu capital privado. Com Lula, teremos o domínio do capital privado em rodovias e ferrovias, uma inversão histórica.

 

Então, o ponto é reforçar que Lula é de centro para afastar a imagem de que ele é de esquerda? Só na bolha [de Bolsonaro] ele é de esquerda. Nem a bolha do Lula acha isso. Porque, para o PT, o presidente não é de esquerda.

 

Por isso o ministro Fernando Haddad tem problemas com o PT? 

Ele tem alguns problemas com a extrema esquerda, mas também com a extrema direita. Se ele não tivesse [problemas] com os extremos, seria com o centro. E é melhor que seja com os extremos. Então, acho que o presidente acerta. No fundo, ele é um pragmático, faz na economia o que precisa ser feito.

 

Mas o governo resistiu a fazer o ajuste.

Ele está fazendo. E tem que rever despesas. Mas é importante dar uma olhadinha no andar de cima. Temos R$ 500 bilhões em incentivos fiscais.

 

Isso depende mais do Congresso. Como resolver?


Ao invés de tirar o benefício de um setor, cortar 10% de todo mundo. É o que proponho. Fiz isso quando fui governador [de Alagoas] e funcionou. O estado foi o que mais investiu com recursos próprios. Nossas rodovias [estaduais], superaram as de São Paulo em qualidade, por exemplo.

 

Essa ideia de cortes funcionaria para as emendas parlamentares?


Não, as emendas cresceram muito ao longo dos últimos anos porque o governo anterior infantilizou a presidência da República.

Como não há vácuo de poder, ele foi ocupado e o orçamento migrou em parcela significativa para o parlamento. O presidente Lula tenta criar uma lógica. Dá para tirar de uma vez, garantindo governabilidade, a aprovação da reforma tributária, do arcabouço?

 

Talvez não.

 

As emendas não ajudam o Dnit, por exemplo, na manutenção de rodovias federais?


O Dnit tem orçamento próprio e estimula doações de emendas. O problema é que uma obra de infraestrutura não tem a mesma potência eleitoral que uma escola no bairro, um posto de saúde, um calçamento de rua. Na discussão que o STF está fazendo, o que se debate é garantir uma parte das emendas de bancadas para obras estruturantes. Algo como 20% poderiam ser direcionados para isso e o Dnit é que tem a maior carteira de obras estruturantes.

 

Essa discussão será definida em conjunto com o corte de gastos?
É casada. Quando for votar o orçamento, eu espero que já esteja decidida essa questão das emendas de bancada.

 

Então, em vez de cortar, sua pasta pode ter mais recursos?

Se obrigarem as emendas de bancada a serem para obras de infraestrutura, a chance é grande.

 

De quanto será seu corte?


Entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Acho que ainda tem espaço para, de alguma maneira, recuperar.

Raio-X | Renan Filho, 45

Maratonista e filho de Renan Calheiros, Renanzinho, como é conhecido, é formado em ciências econômicas pela UnB e fez carreira na política. Já foi prefeito de Murici (2005-2010), deputado federal (2011-2015), governador de Alagoas (2015-2022) e foi eleito senador em 2022. Licenciou-se para assumir o ministério em 2023 (Folha, 9/11/24)