No acordo dos blocos, Mercosul tem volume e UE, valor
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, em reunião com o Mercosul em Montevidéu, no Uruguai, nesta quinta-feira (5). Foto Reprodução - Ursula von der Leyen no Twitter
Brasil ganha com retirada de tarifa e União Europeia com fornecimento de insumos.
"Nunca estivemos tão perto". Essa é a frase que participantes das negociações do acordo Mercosul-União Europeia vêm ouvindo ao longo dessa complexa caminhada que já dura mais de duas décadas. Desta vez, parece que está mais próximo do que nunca o desfecho.
Olhando apenas do lado do agronegócio, a assinatura é importante para o Brasil, uma vez que o país não tem nenhum acordo relevante até agora. Sem eles, o Mercosul sempre negocia em desvantagem.
O cerne das negociações foi definido em 2019, mas a União Europeia colocou novas exigências, como a side letter e a lei antidesmatamento no caminho.
Esta última, que acabou sendo adiada por um ano, coloca barreiras ambientais em sete produtos brasileiros. Eles somaram US$ 9,5 bilhões nas exportações de janeiro a novembro deste ano para a União Europeia, 40% do valor dos produtos relacionados ao agronegócio que foram enviados para o bloco no mesmo período. Essas novas exigências europeias colocam mais ônus nas exportações do Mercosul.
O acordo é um passo bom para os dois lados, segundo Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Para ela, o Brasil tem um mercado agropecuário forte e centrado dentro da porteira.
Já os europeus devem explorar produtos com maior valor agregado, como vinhos, lácteos, azeite de oliva, entre outros. É preciso olhar não para o volume, mas para o valor das exportações dos europeus, afirma a diretora da CNA.
"É um erro dizer que a União Europeia não é um mercado importante. Ele é o segundo maior destino das exportações brasileiras.
E, em muitos produtos, como café, frutas e farelo de soja, é o primeiro", diz Sueme.
Além de abrir novas possibilidades com tarifas reduzidas, o mercado europeu pode ser uma vitrine para novos acordos do Brasil e do Mercosul, devido às exigências europeias nas importações.
O tamanho do agronegócio brasileiro também abre novas portas para os europeus. Quanto mais o país expandir a produção nacional, maior será a demanda por insumos, setor que o bloco é grande fornecedor.
"Químicos, máquinas agrícolas, serviços e outros insumos se tornam um grande mercado para as indústrias europeias atreladas ao agronegócio e que exportam ou atuam por aqui". Isso também afeta indústria do bloco europeu de uma forma geral, setor, inclusive, que sempre quis uma aceleração do acordo, afirma a diretora da CNA.
Essas negociações são muito vistas do ponto comercial, mas há outros capítulos envolvidos nelas, como investimentos e compras governamentais, o que leva o acordo para outro nível, afirma.
Segundo Sueme, do ponto de vista brasileiro, tudo que tem tarifa na União Europeia favorece o país, devido à redução ou à eliminação. Alguns produtos têm redução de tarifa, mas com cota limite, como a carne bovina. Outros zeram ou têm reduzidas as tarifas ao longo dos anos. Em alguns, como o da maçã fresca, o prazo é de até dez anos. Suco de laranja e cachaça terão um sistema misto.
Estudo de avaliação apresentado no Senado indicou que, sem o acordo, 24% das exportações brasileiras estão livres de tarifas no mercado da União Europeia. Com o acordo, esse percentual sobe para 92% (Folha, 6/12/24)