28/05/2021

Novo recorde do desemprego – Editorial O Estado de S.Paulo

Novo recorde do desemprego – Editorial O Estado de S.Paulo

Com 14,8 milhões de desocupados, governo criou mais um marco histórico desastroso.

governo conseguiu mais um recorde sombrio, com o registro de 14,8 milhões de pessoas desocupadas no primeiro trimestre – 14,7% da força de trabalho. Os dois números são os maiores da série iniciada em 2012. Na comparação com os três meses finais de 2020, aumentou em 880 mil o número de pessoas em busca de ocupação. O desemprego normalmente cresce no começo do ano, com a dispensa das pessoas contratadas para o período de festas. Mas nem esse detalhe atenua o desastre econômico e social recém-divulgado. Entre janeiro e março do ano passado, os desempregados eram 12,2% da população economicamente ativa, um contingente muito grande, mas bem menor que o dos três meses iniciais de 2021. Os números foram divulgados na quinta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No Brasil as condições do mercado de trabalho continuam muito piores do que na maior parte dos países emergentes e avançados. Quando a pandemia chegou, o desemprego brasileiro era o dobro da média observada nos 37 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Um ano depois a diferença permanece: no primeiro trimestre de 2021 os desocupados eram 6,6% dos trabalhadores daquele grupo. Só dois membros da organização rivalizam com o Brasil quanto à taxa de desemprego: Colômbia, com 14,1%, e Espanha, com 15,5%. Em outros 19 as taxas são inferiores a 6%.

Mas algumas peculiaridades tornam especialmente feio o cenário brasileiro. A população subutilizada, 20,2% maior que a registrada um ano antes, chegou a 33,2 milhões de pessoas, ou a 29,7% dos brasileiros em condições de trabalhar. Além dos desempregados, esse contingente incluiu os desalentados (6 milhões, também recorde histórico) e outros grupos de trabalhadores potencialmente empregáveis. Os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada, embora tenham diminuído 12,1% em um ano, ainda eram 9,7 milhões no período janeiro-março.

A informalidade ficou estável entre o fim de 2020 e o começo de 2021, com 34 milhões de pessoas sem carteira assinada ou sem CNPJ. Os trabalhadores por conta própria aumentaram 2,4% em relação aos três meses finais do ano passado e chegaram a 23,8 milhões. Os mais otimistas podem ver nesse dado uma forte manifestação de espírito empreendedor. Mas a busca desse tipo de trabalho pode ser também uma alternativa à permanência inútil na fila dos desempregados. Não há, na pesquisa do IBGE, informações sobre as condições desse tipo de trabalho nem sobre a taxa de sucesso de quem procura sobreviver por conta própria.

Embora a economia tenha reagido depois da grande queda de março-abril do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 ainda foi 4,1% menor que em 2019. Com a continuada fraqueza da economia, a maior parte dos setores continuou perdendo pessoal. No primeiro trimestre de 2021, só na agricultura o número de ocupados foi maior do que um ano antes, com variação de 4%, ou 329 mil pessoas. Houve redução de 7,7% na indústria geral, de 5,7% na construção, de 9,4% em comércio e reparação de veículos, de 11,1% em transporte, armazenagem e correio, de 26,1% em alojamento e alimentação, de 17,3% em serviços domésticos e de 18,6% em outros serviços.

O amplo setor de serviços, o último a entrar em recuperação, continuou em condições muito ruins no começo deste ano, em boa parte por causa do recrudescimento da pandemia em várias partes do País. Diante do aumento do contágio e das mortes causadas pelo coronavírus, limitações foram de novo impostas por governos estaduais e municipais. Essas decisões seguiram a recomendação de especialistas, contrariando a opinião do presidente Jair Bolsonaro, adversário das políticas cientificamente orientadas para a prevenção da covid-19 e a proteção da vida.

Com vacinação atrasada, insegurança quanto à pandemia e muita confusão na política econômica, a evolução dos negócios e do emprego foi certamente pior do que poderia ter sido em outras condições sanitárias e administrativas. Não há surpresa no desemprego maior (O Estado de S.Paulo, 28/5/21)