Novos reveses ameaçam o futuro da gaúcha Cotrijuí
Em liquidação extrajudicial com continuidade dos negócios desde setembro de 2014, a gaúcha Cotrijuí, cooperativa que chegou a ter 20 mil associados e a faturar cerca de R$ 1 bilhão por ano, viu seu futuro nublar no fim da semana passada. Na quinta-feira, foi alvo de um pedido de liquidação judicial por parte de um de seus principais credores, e na manhã de sexta esteve na mira de uma operação conjunta do Ministério Público e da Polícia Federal.
Por trás dos dois reveses, a mesma suspeita: a atual administração da cooperativa teria montado uma estrutura para permitir a circulação de valores monetários por meio de coligadas e controladas e evitar bloqueios para pagamentos previstos no processo de liquidação extrajudicial. Procurada, a Cotrijuí, cujas dívidas são estimadas em R$ 1,8 bilhão, não atendeu os pedidos de entrevista.
O pedido de liquidação judicial foi apresentado à Justiça gaúcha pelo escritório Souto Correa, que representa um dos maiores credores da cooperativa. Em caso de deferimento, a Cotrijuí passará por uma "intervenção". Um liquidante judicial será nomeado e definirá, a partir de uma auditoria de viabilidade, se há ou não condições de o grupo continuar em atividade tendo em vista as irregularidades que estão sendo apuradas por MP e PF.
Na "Operação Cotrijuí", foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão em prédios da cooperativa e em residências de investigados em 16 municípios do Rio Grande do Sul. Segundo informações do MP, uma série de delitos estariam sendo cometidos "por uma organização criminosa que integra os quadros da cooperativa" gaúcha. Entre os crimes investigados também está a apropriação de grãos pertencentes a cooperados.
Antes dos novos reveses da semana passada, a Cotrijuí chegou a entrar com um pedido de recuperação judicial, que foi indeferido pelo juiz Daniel Pellegrino Kredens, da 2ª Vara Cível de São Luiz Gonzaga. Em sua argumentação para indeferir o pedido, o juiz não só "lembrou" que cooperativas não podem pedir recuperação judicial como chamou a atenção para as irregularidades que entraram no foco de MP e PF.
Com sede em Ijuí, a cooperativa foi fundada no fim da década de 1950. O grupo beneficia, industrializa e comercializa produtos agropecuários como soja, milho, trigo, arroz, canola, girassol, leite e suínos. Seus ativos, após a depreciação dos últimos anos, são calculados em R$ 250 milhões (Assessoria de Comunicação, 29/1/18)