18/11/2019

O desafio da Indústria 4.0 – Editorial O Estado de S.Paulo

O desafio da Indústria 4.0 – Editorial O Estado de S.Paulo

Brasil corre o risco de ficar fora da nova economia mundial, não tendo maior relevância em nenhuma das áreas estratégicas da Indústria 4.0.

do Fórum Público da Organização Mundial do Comércio, convocado para discutir inteligência e nanotecnologia, no qual a diretoria do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) apresentou uma pesquisa mostrando que 32% das 227 empresas brasileiras entrevistadas pela entidade disseram não saber o que é a chamada Indústria 4.0, o Fórum Econômico Mundial anunciou uma importante medida para tentar enfrentar esse problema. 

Segundo a pesquisa, apenas 5% das empresas brasileiras se sentem “muito preparadas” para enfrentar os desafios da Quarta Revolução Industrial. Em termos concretos, isso significa que o Brasil corre o risco de ficar fora da nova economia mundial, não tendo maior relevância em nenhuma das áreas estratégicas da Indústria 4.0. O País pode perder não apenas o mercado internacional, que sempre lhe foi difícil de conquistar e manter, mas até mesmo o mercado doméstico. O levantamento da Fiesp também mostrou que quase 60% das empresas brasileiras ainda utilizam o lean manufacturing – o sistema de produção enxuta. 

Com o objetivo de estimular as pequenas e médias empresas brasileiras a se prepararem para a chamada Quarta Revolução Industrial, o Fórum está preparando um projeto-piloto para difundir na iniciativa privada a importância da adoção de dispositivos inteligentes no maquinário industrial nacional. A ideia é estimular os governos federal e estaduais, as universidades e a sociedade civil a difundir o conceito de Indústria 4.0 no País, envolvendo cerca de 130 empresas em 2021, chegando a 2 mil em 2022. Ele será lançado em São Paulo em maio de 2020, durante a realização do Fórum Econômico Mundial para a América Latina. 

Esse projeto-piloto é quase igual ao que o Fórum Econômico Mundial já vem implementando em países como China, Japão, Índia, Colômbia, Emirados Árabes, Israel, África do Sul e Arábia Saudita. Todos os projetos têm em comum o objetivo de estimular a criação de protocolos para tecnologias de rápido desenvolvimento, como veículos autônomos, drones preparados para fazer entregas e blockchain. A diferença é que o Brasil será o único a receber um enfoque específico para as pequenas e médias empresas, uma vez que elas correspondem a 98,5% das companhias existentes no País. 

Segundo o diretor do Fórum Econômico Mundial, Murat Sönmez, se não recuperar o atraso na transição da Terceira para a Quarta Revolução Industrial, o Brasil não conseguirá passar a níveis mais sofisticados de produção e permanecerá muito abaixo dos padrões necessários para ocupar novos espaços no mercado mundial. “Se as pequenas e médias empresas não se automatizarem, elas desaparecerão. Se não nos movermos rápido, ficaremos ainda mais para trás. A Quarta Revolução Industrial não vai esperar pelo Brasil”, afirma Sönmez.

Essa revolução começou com a difusão das tecnologias de comunicação desenvolvidas nas últimas décadas do século 20 e se intensificou com os avanços na inteligência artificial e na biotecnologia. A partir da primeira década do século 21, numa velocidade muito maior do que as três revoluções anteriores, a Quarta Revolução Industrial passou a envolver o conjunto de recursos produtivos propiciados por tecnologias de robótica e inteligência artificial, que vem possibilitando grandes ganhos de produtividade e de competitividade em todo o mundo. 

A iniciativa do Fórum Econômico Mundial só merece aplauso. Além de suporte financeiro, seu projeto-piloto oferece programas de qualificação profissional e capacitação de funcionários. Esse é um ponto fundamental, uma vez que o Brasil é um dos países que menos formam profissionais nas áreas de tecnologia, engenharia e matemática. Sem capital humano, é impossível acompanhar as transformações que a Indústria 4.0 vem causando no mundo (O Estado de S.Paulo, 17/11/19)