O equilíbrio distante entre militares e tecnocratas
Há demasiada curiosidade em Brasília sobre os últimos arremates do ministério Bolsonaro. A inquietação diz respeito à composição final do time de ministros. São mais militares do que tecnocratas? São militares versus tecnocratas? Quem são os mais resilientes: militares ou tecnocratas? Por enquanto, os militares lideram a disputa.
Se forem incorporados na conta os comandantes das Forças Armadas, que não são ministros, mas têm tropas, a conta dispara. Se, de um lado, os tecnocratas ocuparam os cargos com o controle das finanças, de outro os militares sitiaram o Palácio do Planalto. A nomeação de um general para o Ministério dos Esportes, por exemplo, pode disparar o quesito numérico em favor dos militares. Bolsonaro cumpriu o que disse e esvaziou as pastas de políticos. A essência é de militares e tecnocratas.
O futuro ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, que fez carreira como professor da Escola de Comando do Estado Maior, é um militar honorário, assim como o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que começou no Exército, se formou em engenharia no IME e esteve no Haiti com a tropa de paz. E os filhos de Bolsonaro, notadamente Eduardo, são quase militares, pelo menos no espírito.
Que ninguém se engane: o pessoal de verde oliva não pensa igual à turma de Chicago. O que não quer dizer que haja dissensão, ruptura, cisão. Em 1964, o grosso da milicada achava tenebrosa a política econômica de Campos e Bulhões, tanto que, com a saída da dupla, virou tudo de ponta cabeça. Mas, enquanto o general Castello Branco, o Bolsonaro da época, esteve à frente da presidência, todos seguiram, em silenciosa obediência, a cartilha da dobradinha ultraliberal.
De qualquer forma, há uma diferença indiscutível entre a resistência dos dois grupos: tecnocratas entram no governo e podem sair a qualquer momento; militares entram e não saem. Que sejam harmônicos enquanto dure (Relatório Reservado, 29/11/18)