17/07/2024

Os idiotas da esquerda – Por Mariliz Pereira Jorge

 

Capa da revista americana Time após atentado contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump - Reprodução

 

Quem queria ver sangue na facada de Bolsonaro, agora não se contenta com o pouco do raspão da orelha de Trump.

Não tem como não pensar em Nelson Rodrigues ao ver a reação de uma parte da esquerda diante do atentado contra Donald Trump. Muito antes da internet, bem anterior à democratização do debate público, quando polarização nem fazia parte do vocabulário, o escritor já vaticinava nosso futuro distópico: "os idiotas vão dominar o mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos".

São muitos e tem idiota no espectro político todinho. De um lado, os que relacionam o atentado a Trump ao de Bolsonaro; do outro, os que usam a mesma referência para negar a veracidade da facada que fez um talho na barriga do brasileiro e do tiro que, por muito pouco, não explodiu a cabeça do americano.

Numa reunião, um colega mencionou um documentário que provava a "conspiração" do que chamam de "fakeada" (fake+facada). Expliquei por que seria impossível envolver hospitais, médicos renomados, policiais e mais uma centena de pessoas, os detalhes da investigação da Polícia Federal, olhei em volta e percebi que, pelas expressões, a louca era eu.

Durante o mandato, o sonho de Bolsonaro era usar a PF para encontrar alguma conexão entre Adélio e os partidos de esquerda. Mesmo sob o cabresto do ex-presidente, a conclusão do inquérito, reaberto algumas vezes, foi a de que o autor agiu sozinho. As instituições conseguiram, veja só, desagradar a direita, mas também a esquerda, porque jamais surgiu indício concreto de que o atentado teria sido armação. A dúvida só estimulou o ensaio sensacionalista, no qual o excelentíssimo posa de mártir, e que eu gostaria de desver.

Parte da esquerda queria ver sangue na facada, agora não se contenta com o pouco do raspão da orelha. Numa análise sóbria, isso é resultado de uma época regida pelo viés da confirmação: as pessoas só acreditam no que querem. Mas o problema, como bem disse Nelson Rodrigues, é que "um idiota está sempre acompanhado de outros" (Folha, 17/7/24)



Gleisi debocha de ataque a tiros sofrido por Donald Trump nas redes sociais

A presidente do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann. Foto Zeca Ribeiro Estadão

 

Presidente do PT compartilhou caricatura que sugere que o sangue de Trump era ketchup; postura diverge da adotada pelo Palácio do Planalto.

 

A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada Gleisi Hoffmann, debochou da tentativa de assassinato sofrido pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump pelas redes sociais nesta terça-feira, 16. A postura de Gleisi, que compartilhou uma caricatura que sugere que o sangue de Trump era ketchup, diverge da adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

Gleisi publicou no seu Instagram, na tarde desta terça, uma caricatura feita pelo desenhista Cris Vector que satiriza um registro do fotógrafo Evan Vucci, da agência Associated Press, durante o atentado deste sábado, 13. Trump aparece como o Pato Donald, personagem de desenho animado da Disney. O sangue, que saiu da orelha de Trump após ele ter sido atingido por um tiro de raspão, aparece como manchas de ketchup.

O atirador, identificado como Thomas Matthew Crooks, um republicano de 20 anos, e um dos apoiadores de Trump que participava do comício foram mortos.

A imagem corrobora teorias de conspiração compartilhadas por militantes de esquerda desde o ataque, que aconteceu durante um comício no estado americano da Pensilvânia, endossam que o atentado teria sido uma armação e questionam o ferimento sofrido pelo candidato republicano à presidência do país.

Horas após o ataque, o deputado federal André Janones (Avante-MG) relacionou o ataque a Trump com o atentado sofrido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na campanha eleitoral de 2018 e disse que a “fakeada” fez escola. O termo é usado para sugerir que o ocorrido em Juiz de Fora (MG) foi uma armação, em uma suposição que já foi descartada pela Polícia Federal (PF).

Logo após a tentativa de assassinato, Lula disse que o episódio deve ser “repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política”. “O que vimos hoje é inaceitável”, completou o presidente brasileiro em seu perfil no X (antigo Twitter) (Estadão, 17/7/24)