Paçoquinha, geleia de umbu e mel diversificam exportação além da soja
Legenda: Potes de mel produzidos na Casa do Apicultor, em Santana de Parnaíba (SP) - Renato Stockler - 25.nov.2010/Folhapress
Falta de inserção nos mercados externos faz com que o Brasil exporte cada vez mais itens menos processados.
O Brasil é imbatível nas exportações de soja. As receitas deste ano poderão chegar a US$ 45 bilhões. A balança comercial brasileira cresce continuamente, e o país exporta muito, mas com receitas provenientes de poucos produtos. É preciso explorar o mercado externo com novos itens.
A demanda externa é ampla e variada, mas o desafio é atingir o consumidor e entrar diretamente na cadeia de consumo deles, segundo Lígia Dutra, superintendente de relações internacionais da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Para ela, a falta de inserção nos mercados externos faz com que o Brasil exporte cada vez mais itens menos processados. O agronegócio brasileiro precisa se internacionalizar e ter mais espaço lá fora, inclusive em mercados novos.
“Não temos como olhar para o mundo sem olharmos para os países da Ásia, com destaques para China, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Indonésia e Vietnã”, afirma ela.
A capacidade nacional de exportação, no entanto, vai depender de uma profissionalização. Mesmo assim, não é fácil. Todos os produtores mundiais querem vender para esses mercados, devido à escala e à variedade de produtos adquiridos por eles.
Para sair da dependência de apenas alguns produtos no rol das exportações, como a soja, e diversificar as vendas externas, Dutra lista uma série de produtos brasileiros que começam a ganhar força e têm potencial no mercado externo.
Entre eles, frutas frescas e secas, hortícolas, amendoim, gergelim, feijão, mel e açaí. O país, porém, ainda está longe dos concorrentes nesses setores.
Os Estados Unidos, por exemplo, um dos grandes competidores do Brasil, devido à similaridade das exportações, perde na soja, mas ganha em muito na diversificação da balança comercial.
A exportação anual de frutas do Brasil está próxima de US$ 900 milhões nos últimos anos. A dos Estados Unidos atinge US$ 5,8 bilhões.
Os americanos são fortes também nas vendas externas de vegetais frescos e processados. Eles obtêm US$ 5,2 bilhões por ano com esses itens.
Dutra diz que é importante o país ampliar as exportações desses produtos porque eles concentram mão de obra intensiva, geram riqueza e renda para pequenos produtores, além de elevar o IDH —índice que mede quesitos de saúde, educação e renda.
Para a representante da CNA, essa evolução é demorada, mas muitas associações e empresas estão se voltando para produtos vindos da agricultura familiar.
O programa AgroBrazil, da CNA, busca mercado, encontra compradores e facilita a logística. O Sebrae atua na gestão de empresas, indicações geográficas e embalagens. Já o Senar cuida da produção, principalmente levando em consideração o padrão internacional.
As cooperativas têm desempenhado um papel importante para agrupar esses produtores, segundo a superintendente da CNA. As exportações têm elevados custos, que vão de impostos a crédito e certificações.
Além disso, é necessária uma logística para administrar os pequenos volumes, vindos de muitos produtores. O papel das cooperativas é preponderante.
As opções são diversas, e a gama de produtos é longa. Vão de amendoim e seus derivados a geleias de frutas tropicais e mel. O importante é descobrir o consumidor ideal para eles.
A tradicional paçoquinha brasileira atrai os chineses. Já a geleia de umbu caiu nas graças dos alemães. Embora a Europa seja especializada em geleias, o produto brasileiro, oriundo de uma cooperativa de mulheres e de pequenos produtores do sertão da Bahia, alcançou os supermercados do país europeu.
Na avaliação de Dutra, o Brasil precisa aproveitar também a qualidade de seus produtos. O mel brasileiro é superior ao de outros países. Quando vendido a granel, essa qualidade desaparece, uma vez que é misturado a produto de outras origens. É necessária uma agregação de valor, diz ela.
As receitas com exportações fora dos grandes grupos, como grãos e carnes, ainda são pequenas, mas as possibilidades se apresentam infinitas, segundo Dutra.
“É preciso estar lá, conhecer o mercado e se antecipar às mudanças de tendências de consumo.” Ela cita o exemplo da China. O país está se abrindo a produtos do Ocidente, principalmente ao leite.
É preciso estudar e aproveitar as necessidades de cada região, com produtos específicos. Enquanto os asiáticos elevam consumo devido à renda maior, os europeus olham para fatores sociais, que incluem sustentabilidade e agricultura familiar.
Em todos os mercados, no entanto, a qualidade da mercadoria e os protocolos fitossanitários fazem parte dessas negociações, afirma (Folha de S.Paulo, 23/3/21)