País tem potencial para 150 mil carros elétricos ao ano
Muito se fala no carro elétrico hoje em dia. A guinada histórica que a indústria automotiva está atravessando nesse momento poderia ser um assunto de ficção científica há 30 ou 40 anos atrás, mas hoje é uma realidade na maioria dos mercados consolidados e está ganhando dimensões impressionantes a cada ano, seja em expansão das vendas ou em evolução tecnológica.
Então, enquanto o mundo empurra o carro elétrico como alternativa única para resolver os erros do passado, o Brasil assiste tudo com uma relativa calma. Afinal, o País tem o etanol, que para muitos é a solução definitiva para todos os problemas.
Com isso em mente, setores do governo e da indústria defende a manutenção dos motores a combustão, desde que movidos por etanol e, no máximo, aceitam o carro híbrido como uma alternativa ainda mais limpa. E o carro elétrico? O veículo movido por baterias atualmente enfrenta uma barreira enorme no Brasil, com pressão de todos os lados.
Ainda assim, o governo acena com redução de IPI para 7%. Alguns fabricantes batem o pé e dizem que vão vende-lo por aqui. E muitos consumidores desejam ter um na garagem, embora se esta for de um prédio, pensam por recarga pública espalhados pela cidade, o que raramente ocorre hoje em dia. Bom, até aqui não há novidades no cenário automotivo nacional em relação ao carro elétrico, mas uma pergunta que poucos fazem é, qual é o potencial do carro elétrico no Brasil? Qual seria o tamanho desse mercado em nossa realidade atual?
Parece que já temos uma resposta. De acordo com um estudo feita pela consultoria Accenture, em parceria com a FGV Energia, que é o Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas, revelou que o Brasil tem potencial para vender nada menos que 150 mil carros elétricos por ano. Se você rapidamente pensou no Tesla Model 3, então acertou no segmento que praticamente corresponderia as vendas de elétricos no país, segundo a pesquisa: sedãs médios, que em 2017, venderam 153 mil exemplares.
Assim como os sedãs médios correspondem a um tipo de consumidor de poder aquisitivo mais elevado, a pesquisa da Accenture indicou que o comprador desses carros elétricos estão nas classes A e B. Ao todo, 2,2 milhões de brasileiros possuem renda bruta superior a 20 salários mínimos. Mas, o estudo indicou também que esta “Manaus” teria apenas um terço de seus consumidores optando por carro elétrico e com renovação de cinco anos.
Ou seja, pouco mais que uma “Santo André” acabaria comprando de fato e trocando o veículo dois anos depois de vencer a garantia, pelo menos a cobertura média aplicada aos carros atualmente no Brasil. O estudo apontou que para o País alcançar esse potencial, incentivos fiscais seriam necessários. Atualmente, o imposto de importação é zerado para elétricos e o governo acena para redução do IPI de 25% para 7%. Na China, os incentivos chegam a US$ 10.000. Na França, chega a US$ 7.100. No Japão, até US$ 7.800.
Mas, nem todo mundo dá dinheiro diretamente. A Holanda reduz a taxa de licenciamento conforme a redução de CO2, chegando a zerar. E tem ainda os países que concedem benefícios para instalação de recarga doméstica, como a Dinamarca com US$ 2.700. O Reino Unido concede descontos de até US$ 11.200 no preço de comerciais leves elétricos e US$ 700 para recarregadores domésticos. Com tudo isso, a projeção é de que em 2020, 13 milhões de carros elétricos estarão circulando pelo globo. Em 2011, eram apenas 50 mil. Em 2015, já somavam 1,45 milhão.
O estudo também menciona outros formas de incentivo ao uso de carros elétricos, tais como estacionamento gratuito nos centros urbanos, uso de faixas exclusivas de ônibus, passagem livre em zonas de restrição veicular e até abatimento em impostos de empresas que promovem a recarga de carros elétricos de forma independente.
Apesar do cenário parecer favorável em termos de potencial de mercado, o estudo conclui que o panorama atual do Brasil favorece o uso de etanol, seja a bordo de carros comuns, híbridos ou com células de combustível, no caso a tecnologia SOFC da Nissan, pois o álcool tem sido uma alternativa viável para cortar as emissões de carbono há duas décadas por aqui, mas ressalta que o País não pode ficar de fora da evolução do mercado de carros elétricos. O etanol deve reduzir a velocidade de introdução dessa tecnologia por aqui, mas não evita-la (Automotive Business, 31/1/18)