Para Brasil para se tornar desenvolvido precisa aumento da produtividade
Legenda: Para Xavier Cirera, vencedor do prêmio Nobel, país precisa melhorar o ambiente de negócios e as políticas de apoio ao setor produtivo, além de promover a abertura comercial.
O caminho para o Brasil se tornar um país rico passa invariavelmente pela melhora da produtividade, afirma o economista sênior do Banco Mundial Xavier Cirera. "No médio e longo prazos, como falou Paul Krugman, um famoso economista e vencedor do prêmio Nobel, a produtividade é quase tudo", afirmou.
- Informalidade do mercado de trabalho limita avanço da produtividade no Brasil
Na avaliação de Cirera, o Brasil precisa resolver três grandes gargalos para acelerar a produtividade: melhorar o ambiente de negócios e as políticas de apoio ao setor produtivo, além de promover a abertura comercial.
"Sem esse aumento (da produtividade), é muito complicado o país conseguir mais avanços sociais. O aumento de produtividade vai permitir o crescimento de salários e da qualidade do emprego, o que eu acho que é muito importante para o bem-estar dos brasileiros", afirmou.
A seguir leia os principais trechos da entrevista.
Por que a produtividade é importante quando se pensa no crescimento de longo prazo?
A produtividade é basicamente a capacidade de criar valor com alguns fatores como emprego, trabalhadores, capital e empresas. Quanto mais valor se cria, maior é a produtividade. Então, um primeiro ponto e muito importante é que a produtividade não é o esforço do trabalhador. Um trabalhador pode fazer muito esforço cortando cana-de-açúcar, por exemplo, mas isso não significa que ele é muito produtivo, porque ele cria pouco valor.
O ponto essencial é que a produtividade e a renda per capita estão ligadas. Há muitos estudos que mostram que, olhando as diferenças de produtividade entre os países, pode-se fazer uma previsão do nível de renda de cada um deles. No médio e longo prazo, como falou Paul Krugman, um famoso economista e vencedor do prêmio Nobel, a produtividade é quase tudo.
Por que a produtividade brasileira está estagnada desde a década de 80?
Há vários aspectos. Num relatório do Banco Mundial realizado do ano passado, foram identificados três grandes blocos. O primeiro tem a ver com o ambiente de negócios. Quando o ambiente de negócios é muito complexo, a produtividade não vai aumentar. As empresas ficam mais tempo preenchendo formulários para pagar impostos e não fazem pesquisa de desenvolvimento e inovação, porque os custos e os processos são complexos demais.
O segundo ponto é o tema das políticas distorcidas. No passado, algumas políticas industriais, de apoio do setor produtivo, não necessariamente geraram aumento da produtividade. E o terceiro ponto importante é que o Brasil é um país muito fechado e a falta de concorrência dá poucos incentivos para aumentar a produtividade e aumentar a competitividade.
Qual é o impacto da precarização do mercado de trabalho na produtividade?
No médio e longo prazos, o fato de ter tanto emprego informal provoca um impacto negativo na produtividade. O emprego informal é mais volátil e, portanto, (o trabalhador) vai ter menos tempo para aprender dentro do mesmo emprego, vai ter um treinamento menor. Logo, a qualidade do trabalho, de certa maneira, vai para baixo.
O que país pode fazer para reverter este quadro?
Basicamente precisa de uma atuação nos três pilares que comentamos: melhorar o ambiente de negócios, melhorar o tipo de políticas de apoio ao setor produtivo, e tentar aumentar um pouco a concorrência, no sentido de ampliar a abertura comercial também – e acho que já tem um bom processo com o tema do acordo Mercosul com União Europeia. E o mais importante é a inovação. Melhorar a capacidade das empresas para que elas se tornem mais produtivas.
Um elemento muito importante é criar um ambiente em que as empresas são conscientes dessa necessidade de aumentar a produtividade e ser mais competitivas no nível global.
A qualidade da educação no Brasil ainda é muito ruim. Quais mudanças seriam necessárias?
O país não tem tido o sucesso esperado com a eficiência do gasto na educação, das políticas de educação. É importante melhorar a qualidade e a eficiência dessas políticas. Depois, são necessárias a qualificação dos trabalhadores e a criação de empregos com qualificações que possam suprir melhor a demanda da indústria. Às vezes, as escolas criam qualificações que têm pouca demanda dentro das empresas. Então, é importante atuar na parte de educação mais básica, mas também na qualificação dos desempregados e mesmo dos empregados para adaptar as qualificações que serão necessárias nos empregos do futuro.
Como a produtividade e renda per capita andam juntas, podemos dizer que o Brasil pode perder os avanços sociais dos últimos se o quadro não for alterado?
Vai ser muito complicado o Brasil se tornar um país desenvolvido e industrializado se não houver um aumento da produtividade. Sem esse aumento, é muito complicado o país conseguir mais avanços sociais. O aumento de produtividade vai permitir o crescimento de salários e da qualidade do emprego, o que eu acho que é muito importante para o bem-estar dos brasileiros (G1, 23/8/19)