Paulo Preto tinha 11 cartões de contas suíças
Segundo documentação da Suíça, operador ligado a tucanos gastou R$ 650 mil em cinco dos cartões.
O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, teve 11 cartões de créditos e de viagem ligados às quatro contas que mantinha na Suíça, segundo documentos daquele país incluídos na ação penal em que ele é acusado de ter recebido propina da Odebrecht e resultou na prisão dele no último dia 19.
Paulo Preto gastou 135 mil francos suíços em cinco cartões, o equivalente a R$ 650 mil em valores atuais, de acordo com a documentação enviada pela Suíça.
As quatro contas que o ex-diretor da Dersa mantinha naquele país, descobertas em 2017, têm um saldo de R$ 132 milhões. O montante foi transferido para as Bahamas numa tentativa de evitar que os recursos fossem confiscados, na visão dos procuradores da Operação Lava Jato.
A força-tarefa pede à Justiça que Paulo Preto explique se os cartões eram dele mesmo ou se foram emitidos em benefício de algum político.
Dois dos cartões estavam em nome da ex-mulher do engenheiro, Ruth Arana de Souza. Outro foi emitido para o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, com saldo de 10 mil euros.
O cartão de Aloysio, ainda de acordo com a documentação suíça, foi entregue em um hotel em Barcelona, na Espanha, no final de 2007.
Nessa época, Aloysio era o secretário mais importante do governo de José Serra (PSDB), chefiando a Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo.
Foi nesse ano também que teve início a obra em que o ex-diretor da Dersa é acusado de operar propinas para o PSDB: o Rodoanel Sul. Paulo foi nomeado diretor de engenharia da Dersa também em 2007.
O cartão em nome Aloysio, ainda segundo os procuradores, foi emitido logo depois de a Odebrecht ter feito um depósito de 275,8 mil francos suíços (R$ 882 mil) em uma das contas do ex-diretor da Dersa. A força-tarefa vincula a propina da Odebrecht ao cartão que os suíços dizem que foi entregue a Aloysio.
A Odebrecht depositou cerca de US$ 3 milhões nas contas de Paulo Preto.
A petição enfatiza a ligação de Paulo Preto com um operador de recursos ilícitos da Odebrecht, o advogado e doleiro Rodrigo Tacla Durán, que está na Espanha e confessou seus crimes lá.
A documentação suíça aponta também que as contas do ex-diretor da Dersa recebeu recursos de empresas estrangeiras controladas pela Andrade Gutierrez (US$ 643 mil) e Camargo Corrêa (US$ 309 mil).
Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa participaram da obra do Rodoanel Sul. Segundo a Odebrecht, a obra foi repartida pelas empreiteiras em um cartel sob o comando de Paulo Preto.
A Lava Jato também juntou trechos de um diário que Paulo Preto escreveu quando estava preso, em abril, no qual dizia: "Averiguação da conta ônibus de Bruxelas desaparecida."
Conta-ônibus é o jargão que designa contas pelas quais passam recursos de diversas pessoas e servem para lavagem de dinheiro. É a primeira vez que aparece na investigação do ex-diretor a menção a uma conta na Bélgica.
No último dia 21 a Folha publicou uma reportagem na qual relatava que Paulo Preto dizia que as contas da Suíça eram do tipo ônibus e tinham outros tucanos como beneficiários.
A PF também apreendeu com o ex-diretor da Dersa cartas de sua filha, a advogada Priscila Arana, na qual ela conta ter recebido telefonemas de Aloysio e chama o atual defensor de seu pai, José Roberto Santoro, de "advogado de tucanos".
Foi Santoro quem obteve no Supremo um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes que libertou o ex-diretor da Dersa de sua segunda prisão.
A filha aconselha o pai a contar tudo e fazer um acordo de delação para se livrar da fama de ser "o maior ladrão do país".
Em outro inquérito sobre o ex-diretor da Dersa, a força-tarefa relata que a PF encontrou um esboço nas buscas feitas no apartamento de Paulo Preto, no qual ele desenha um fluxograma sobre a lavagem de R$ 100 milhões da Odebrecht com a ajuda de Tacla Durán e do operador financeiro Adir Assad.
O papel cita o nome da repórter da Folha Bruna Narcizo. Em outubro de 2017, a jornalista procurou o ex-diretor da Dersa para ouvir a versão dele sobre a delação de Assad, a qual descrevia o fluxo de lavagem de maneira similar ao esboço apreendido.
A polícia encontrou outros dois papéis com Paulo Preto que citam o esquema de distribuição de propina na Petrobras a ex-diretores como Pedro Barusco e Renato Duque.
A força-tarefa pede que o ex-diretor explique os documentos apreendidos.
Aloysio já negou enfaticamente que tenha recebido recursos ilícitos do ex-diretor da Dersa ou de qualquer outra fonte. Procurado, Santoro não ligou de volta à reportagem (Folha de S.Paulo, 28/2/19)