05/03/2018

Pela 1ª vez, Brasil mais compra do que vende etanol

Pela 1ª vez, Brasil mais compra do que vende etanol

País fecha balança comercial de 2017 com déficit de 445 milhões de litros.

O Brasil fechou 2017 com um déficit na balança comercial de etanol, com importações superando as exportações do combustível pela primeira vez desde o início da série histórica divulgada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), em 2004.

A dependência externa é resultado da maior competitividade do etanol americano, que substituiu vendas do produto brasileiro na região Nordeste. Reflete também a suspensão de investimentos provocada pela crise do setor sucroalcooleiro.

Em 2017, o Brasil importou 445 milhões de litros de etanol a mais do que exportou --no ano anterior, houve superávit de 957 milhões de litros. O etanol importado foi responsável por 1,7% do abastecimento nacional.

O etanol importado estava mais barato do que a cabotagem para levar a produção do Centro-Sul, explicou o diretor técnico da Unica (União da Indústria Canavieira), Antônio de Pádua Rodrigues.

Ele prevê que o déficit seja zerado no fim da colheita da safra 2017-2018. "Se não tiver investimento para aumento da oferta, vamos ficar nessa gangorra", disse.

A crise do setor se iniciou em meados da década, com o represamento do preço da gasolina e a consequente perda de competitividade do etanol.

Para a Unica, a nova política de preços da Petrobras garante maior previsibilidade ao setor, ao refletir o cenário internacional.

O déficit ocorreu em um ano de queda no consumo de etanol hidratado, que perdeu espaço para a gasolina. Enquanto as vendas do derivado da cana caíram 6,47%, as de gasolina tiveram alta de 2,63%.

PETROBRAS

Pelo segundo ano consecutivo, empresas privadas tiraram da Petrobras fatia dos mercados de gasolina e de diesel no país, de acordo com dados da ANP, que trouxeram alta de 0,44% no consumo de combustíveis em 2017.

O déficit no comércio exterior de gasolina cresceu 82,23%, chegando a 4 bilhões de litros --a estatal foi responsável por apenas 21,4% das importações, contra 59,7% no ano anterior. Em 2017, 12,5% do mercado nacional de gasolina foi abastecido por produtos importados.

A concorrência é ainda maior no mercado de diesel. Em 2017, 24,7% do mercado foi abastecido importações. A Petrobras foi responsável por apenas 4,3% das compras externas, contra 16,4% no ano anterior (Folha de S.Paulo, 3/3/18)

 


Motorista ignora relação de preços e prefere etanol 

O motorista para no posto, faz a conta para comparar qual combustível é mais vantajoso entre gasolina e o etanol - considerando o rendimento no tanque - e opta pela gasolina, certo? Não nos últimos meses. Desde dezembro, os preços do etanol estão acima de 70% do valor da gasolina nos principais centros consumidores, o que, em tese, torna o combustível fóssil mais vantajoso que o etanol. Mesmo assim o consumo de etanol segue crescendo a todo vapor. E a tendência é que as vendas do biocombustível sejam ainda maiores neste ano.

As explicações para esse quadro são várias. Para a maior parte dos analistas desse mercado, os motoristas estão assustados com os valores recorde da gasolina e passaram a ignorar a paridade de 70%, que seria equivalente ao rendimento médio, na frota da brasileira, do etanol ante a gasolina nos motores.

Na semana passada, a gasolina chegou a ser vendida por R$ 4,703 o litro nos postos do Rio de Janeiro, maior valor da história do Estado e um dos maiores preços do país. Em São Paulo, o recorde foi batido no início do mês, em R$ 4,019 o litro.

"Quando você percebe que o filé mignon está muito caro, você vai para a carne mais barata. É a mesma coisa nesse caso", avalia Martinho Ono, diretor da SCA Trading.

Presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares concorda. "Apesar de não estar na paridade, o etanol está R$ 1 mais barato que a gasolina. É uma migração para um produto mais barato, o consumidor brasileiro está com dificuldades", afirma. Para ele, o motorista pode até estar andando alguns quilômetros a menos do que estaria se estivesse abastecendo com gasolina, mas a diferença é pouca. "A correlação está muito próxima da paridade", diz.

Em São Paulo, que concentra quase 60% das vendas nacionais de etanol, o preço do biocombustível já está acima de 70% do valor da gasolina desde a primeira semana do ano e chegou a 72% em fevereiro, mas a diferença nominal tem se mantido acima de R$ 1,12 o litro. O mesmo ocorre em Minas Gerais. Responsáveis por mais de 10% das vendas de etanol do país, os postos mineiros registram uma diferença superior a R$ 1,20 o litro, apesar da correlação estar em 72% desde o fim de janeiro. Atualmente, o preço do etanol só está abaixo de 70% do valor da gasolina em Goiás e Mato Grosso.

Para Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, a correlação de preços explica o comportamento da demanda, mas o patamar próximo de 72% ainda não faz o consumidor preterir o etanol. "A troca ocorre mais quando a relação chega a 74%".

O analista lembra que, na safra passada (2016/17), a variação dos preços do etanol foi mais ampla comparando o período de moagem e a entressafra. Naquele período, a correlação entre o etanol e a gasolina em São Paulo saiu de um patamar favorável ao etanol de 69% para 74% em poucas semanas.

Pelas contas da FG/A, as vendas de hidratado das distribuidoras aos postos em janeiro ficaram perto de 1,2 bilhão de litros - próximo ao nível de janeiro de 2016. Em relação a janeiro de 2017, quando o consumo foi bem fraco, isso representaria um acréscimo de quase 40%. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulga hoje o dado de janeiro.

Parte das usinas começa a retomar a moagem de cana já neste mês e com uma tendência bem mais alcooleira, o que deve elevar a oferta interna de etanol em breve. O analista da FG/A estima que a produção deve crescer na mesma proporção que a demanda, mas duvida que as vendas alcancem o recorde histórico registrado em 2015, quando foram comercializados 17,8 bilhões de litros de etanol hidratado no país. "A produção de açúcar teria que cair 6,5 milhões de toneladas (18%). Projetamos sim uma queda, mas não dessa magnitude", afirma (Assessoria de Comunicação, 2/3/18)