Pela primeira vez, balança do agro com Argentina fica favorável ao Brasil
Plantação de trigo em Navarro, na Argentina - Agustin Marcarian - 5.dez.2022-Reuters
Desastre climático, afetando as principias lavouras, torna o país vizinho mais dependente.
Pela primeira vez, o Brasil poderá fechar o ano com exportações de alimentos superiores às importações feitas na Argentina. Até setembro, os brasileiros venderam o correspondente a US$ 2,51 bilhões para os argentinos, um valor 206% superior ao de igual período do ano passado.
Já as importações nacionais recuaram para US$ 2,46 bilhões, 23% a menos do que em igual período do ano passado, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Safra recorde no Brasil e seca intensa na Argentina provocaram essa inversão de posições na balança comercial de alimentos entre os dois países. Tradicionalmente dependente do trigo argentino, os brasileiros vêm obtendo safras recordes na produção desse cereal. Em 2019, a produção brasileira era de 5,1 milhões de toneladas. No ano passado, atingiu 10,5 milhões, volume que deverá ser obtido também neste ano.
Com isso, as importações brasileiras de trigo argentino, que normalmente atingem 4 milhões de toneladas no acumulado do ano até setembro, está em apenas 1,74 milhão em 2023.
O Brasil também está importando menos arroz dos argentinos. Nos nove primeiros meses do ano passado, foram 81 mil toneladas. Neste ano, o volume está em 42 mil. Há uma década, as importações do cereal da Argentina somavam US$ 100 milhões, um valor bem superior aos US$ 26 milhões deste ano.
O Brasil avançou também na produção de milho, e praticamente reduziu a dependência da Argentina. Neste ano, foram apenas 417 toneladas compradas no país vizinho. Há duas décadas, o volume atingia 1,6 milhão de toneladas.
A Argentina vive um ano atípico, devido às adversidades climáticas. O país produziu muito menos soja e milho do que esperava, sendo obrigado a elevar as importações para consumo interno e para cumprir contratos externos.
Neste ano, os argentinos já adquiriram 3,82 milhões de toneladas de soja do Brasil, um volume bem superior às 289 mil de 2022. Deixaram no país US$ 1,93 bilhão.
Devido à situação econômica, reduziram em muito as importações de carnes do Brasil. Neste ano são 16 mil toneladas, bem abaixo das 41 mil de janeiro a setembro de 2022. As compras se resumiram à carne suína, cujo volume somou 13 mil toneladas.
Do lado do Brasil, continua a dependência do leite e de derivados do país vizinho. Neste ano, as importações já atingem 107 mil toneladas, 50% a mais do que no ano passado (Folha, 20/10/23)