Plantio de algodão do Brasil pode cair 15% em 2020/21, diz Abrapa
Legenda: Até setembro, antes do atraso no plantio de soja, que estreitou a janela climática ideal para a segunda safra de algodão em Mato Grosso (Imagem: Reuters/Amit Dave)
A área plantada com algodão no Brasil em 2020/21 pode ter redução de 15% ante o ciclo anterior, em meio a preocupações com atraso na safra de soja pelo clima irregular, disseram integrantes da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) nesta terça-feira.
Até setembro, antes do atraso no plantio de soja, que estreitou a janela climática ideal para a segunda safra de algodão em Mato Grosso (maior produtor brasileiro), a Abrapa via uma queda de pouco mais de 10% na área plantada na comparação com a temporada 2019/20.
A jornalistas, o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, ponderou que ainda há incertezas no cenário, e que a associação terá um número mais claro sobre o tamanho da área plantada em janeiro.
Ele admitiu que, uma vez que alguns produtores decidiram fazer algodão primeira safra em Mato Grosso –em áreas antes planejadas para a soja e que foram afetadas pela seca– isso poderia limitar uma queda maior na área da pluma.
“É um fato que a gente considera, por isso que em meados de janeiro a gente já tenha esse número com maior exatidão… O produtor pode mudar a estratégia dele. Ele está neste exato momento nessa transição que pode trazer mudanças para a área”, disse Garbugio.
Sobre o impacto do clima irregular na produtividade, o presidente da Abrapa disse que ainda é cedo para comentar, uma vez que o plantio da safra está apenas começando.
“A produção vai depender do fator clima… você busca tecnologia, manejo, para obter maior produção, mas se o tempo for igual aos outros anos, não vai afetar”, disse.
Em 2019/20, o Brasil colheu um recorde de cerca de 3 milhões de toneladas da pluma. Anteriormente, a Abrapa chegou a apontar uma produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas em 2020/21, que poderia cair mais, se a expectativa de área menor se confirmar.
Da safra total que o país pode colher em 2020/21, a Abrapa estimou que produtores brasileiros já comercializaram cerca de 50% do total, um nível adiantado ante os 40% da média histórica para esta época.
O Brasil é o quarto produtor mundial de algodão, e o segundo exportador, atrás apenas dos Estados Unidos (Reuters, 8/12/20)
Seca e Covid-19 podem reduzir área de algodão em 15%
Os efeitos do coronavírus estão abaixo do previsto, mas a irregularidade das chuvas pode ser o grande desafio.
Incertezas sobre a demanda mundial, devido à Covid, e problemas climáticos no Brasil poderão reduzir a área de algodão em 15% na próxima safra.
O mercado mundial parece não estar tão ruim como se imaginava inicialmente, mas o efeito da seca, que provoca atraso e até replantio da soja, ainda é um desafio para o produtor. A segunda safra é semeada após a retirada da soja do campo.
O clima preocupa, mas os efeitos sobre o setor será melhor conhecido a partir de fevereiro, segundo Milton Garbugio, presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão). Por ora, a estimativa de área menor ainda é bastante preliminar, mas pode até aumentar, diz ele.
As estimativas iniciais de redução de área, antes de se conhecer os possíveis efeitos do clima, trazidos pela La Niña, eram de 11%.
Júlio Busato, que assumirá a presidência da entidade em janeiro, diz que o coronavírus não teve grandes efeitos sobre o setor. Já há um isolamento natural no campo, e a preocupação era com o processamento do algodão nas algodoeiras.
Foram criados protocolos de segurança, e o setor passou pelo coronavírus um pouco chamuscado, mas sem grandes problemas, segundo ele.
A expectativa inicial de queda no plantio ocorreu porque o setor acreditava que o consumo mundial, que tinha sido de 27 milhões de toneladas, recuasse para 22 milhões nesta safra. Isso não ocorreu, e as estimativas atuais são de uma demanda de 25 milhões.
Por ser uma cultura cara, cerca de US$ 2.500 por hectare — a soja tem custo de US$ 800—, o produtor está avaliando bem o plantio. Há uma preocupação com custos de insumos, como fertilizantes e agroquímicos, e com a logística de entrega.
O produtor vai ficar de olho nos preços do algodão na Bolsa de commodities de Nova York, onde são definidos os valores mundiais de negociações, e verificar a rentabilidade da fibra, diz Busato.
Independentemente da área a ser semeada, o presidente da Abrapa diz que não faltará algodão para a indústria nacional. O consumo será de 650 mil toneladas em 2021, e a safra cerca de 2,6 milhões. Além disso, o país tem 400 mil toneladas em estoques.
Do algodão a ser semeado, 50% da produção esperada já foi comercializada. Na safra anterior, o percentual foi de 75%, mas a média histórica de vendas antecipadas é de 40%.
Busato diz que o país demorou muito para participar do mercado internacional de algodão, ao contrário dos Estados Unidos e da Austrália que há muitos anos exportam.
O que não pode ocorrer é o país, após conquistar vários mercados e ocupar o posto de segundo maior exportador mundial, não ter algodão para oferecer aos importadores.
O setor, junto com a Apex-Brasil, está investindo R$ 5 milhões em um programa de divulgação do produto no exterior. A cultura do algodão, que começou a tomar corpo há quatro anos, é muito importante para o agronegócio, segundo Busato.
O algodão tem um faturamento três vezes superior ao da soja e emprega cinco vezes mais do que a cultura da oleaginosa.
A China é o grande mercado. O país fica com 22% do algodão transacionado mundialmente e com 37% do produto brasileiro comercializado no exterior. Mas o Brasil não tem como meta apenas o mercado chinês. Os produtores olham para nove países da região, entre eles Vietnã e Bangladesh.
O algodão ganhou muita força nos últimos anos no Brasil. A produção somou 1,3 milhão de toneladas de pluma na safra 2015/16. Na atual, chegou a 3 milhões. Isso se deve ao aumento de área, mas, principalmente, à produtividade. Ela saiu de 1.350 quilos por hectare, naquela safra, para os atuais 1.802.
O VBP (Valor Bruto da Produção), que mostra as receitas dentro das fazendas, está em R$ 51 bilhões por ano, bem acima dos R$ 30 bilhões de 2017, segundo dados do Ministério da Agricultura (Folha de S.Paulo, 9/12/20)