08/07/2024

Porto do Açu eleva aposta para fixar Rio de Janeiro na rota do agronegócio

Porto do Açu eleva aposta para fixar Rio de Janeiro na rota do agronegócio

magem aérea mostra dois novos armazéns da empresa Minas Port dedicados a grãos no Porto do Açu, no estado do Rio de Janeiro - Leonardo Berenger-Divulgação

 

Complexo em operação há quase dez anos inaugura armazéns de grãos e planeja terminal dedicado aos produtos.

Porto do Açu está reforçando a aposta no agronegócio como parte do plano de expansão de suas atividades no norte do estado do Rio de Janeiro.

Nesta quinta-feira (4), o empreendimento, administrado pela Prumo Logística, inaugurou uma área destinada à armazenagem de grãos (soja e milho).

São dois novos galpões de 6.400 metros quadrados cada. A obra faz parte de um investimento de cerca de R$ 100 milhões de uma das empresas que operam no complexo, a Minas Port.

"A gente já fez embarques de grãos no ano passado, tanto de soja quanto de milho, sem ter essa estrutura pronta. Isso aqui é um passo no processo de ter uma estrutura dedicada a aumentar eficiência e volume na cadeia específica dos grãos", disse o CEO do Porto do Açu, Eugenio Figueiredo, em entrevista a jornalistas.

Segundo ele, o complexo também planeja a criação de um terminal dedicado à movimentação de itens como soja e milho. Atualmente, o processo ocorre no terminal multicargas do porto. As origens dos grãos são os estados de Goiás e Minas Gerais.

"Nesta potencial expansão, o próximo passo é ter um berço dedicado para o carregamento de soja, de grãos. Hoje temos os mesmos berços para o carregamento de várias cargas", afirmou o executivo.

Inaugurado em 2014, o Açu é considerado o segundo maior porto em movimentação de cargas no Brasil, atrás de Santos (SP). Está localizado no município fluminense de São João da Barra (a 320 km da capital do estado). A cidade tem 36,6 mil habitantes.

FERROVIA É GARGALO

Para ampliar a movimentação de grãos, o porto tem pelo menos um desafio: destravar o projeto da ferrovia EF-118, conhecida como Vitória-Rio. As discussões para a realização da obra, entre os estados do Espírito Santo e do Rio, arrastam-se ao longo da trajetória do Açu.

A ferrovia é considerada essencial para ampliar o acesso ao complexo e a capacidade de transporte de mercadorias como grãos. A análise sobre a EF-118 está inclusa no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O CEO da Prumo, Rogério Zampronha, afirmou que o Açu, por ser um empreendimento privado, tem processos mais rápidos, o que contribuiria para reduzir o tempo de espera de navios. Ele também disse que a localização do porto, afastada de grandes centros urbanos, ajuda o tráfego de caminhões.

"Se você somar isso com uma série de outras coisas, não é por acidente que finalmente o Rio de Janeiro entra no mapa do agronegócio brasileiro", declarou.

"Não é só entrar para morder um pedacinho. É entrar para realmente ser um ator importante através da atuação nossa aqui no Porto do Açu."

O complexo completa dez anos de operações em outubro. Elaborado pelo empresário Eike Batista, o empreendimento teve como plano inicial se tornar um polo industrial baseado no minério de ferro.

O projeto, contudo, passou por dificuldades com a derrocada do império econômico de Eike. Após uma reorganização societária que culminou na criação da Prumo, o porto reforçou a aposta no setor de petróleo e agora também mira em áreas como o agronegócio.

No ano passado, o Açu movimentou um total de 84,6 milhões de toneladas de cargas, o que significa uma alta de 27% ante 2022. O complexo afirma que, de 2015 a 2023, cresceu em média 32% ao ano. Petróleo e minério de ferro puxam as atividades.

O Açu conta com 11 terminais privados, e as operações diárias geram em torno de 7.000 empregos, segundo os responsáveis pelo projeto.

Para se ter uma ideia, do total de 5.570 municípios brasileiros, 1.917 (34,4%) têm menos de 7.000 moradores, de acordo com dados do Censo Demográfico 2022.

NOVA INAUGURAÇÃO PREVISTA

Nos dois galpões de armazenagem da Minas Port inaugurados nesta quinta, a capacidade de estocagem de grãos fica em torno de 70 mil toneladas. O CEO da empresa, Marcelo Marra, estimou que esse volume seria capaz de carregar 2.000 caminhões do tipo rodotrem.

Marra também anunciou a construção no porto de uma misturadora de fertilizantes da Minas Port. O investimento estimado é de R$ 200 milhões. A inauguração está prevista para o segundo semestre do próximo ano.

A Minas Port iniciou suas atividades voltada para o setor siderúrgico e, com o passar do tempo, diversificou as operações, incluindo agora projetos direcionados para o agronegócio. A companhia paga aluguel ao porto pelo uso das áreas.

O Açu abrange uma área de 130 km quadrados. Desse total, 40 km quadrados contemplam uma reserva ambiental, a Caruara.

A área de proteção também está sob responsabilidade do porto e já recebeu em torno de 30 mil pessoas, principalmente estudantes, em um ano e meio de abertura para visitação.

"O que falta ao Porto do Açu: a ferrovia", disse Caio Cunha, gerente de relações portuárias e da reserva Caruara. "Um terminal de grãos com uma ferrovia vai se tornar uma potência gigantesca."

O porto também tem planos de desenvolver um hub de energia. Em junho, por exemplo, a Eletrobras e a Prumo assinaram um memorando de entendimento para produção de hidrogênio verde e derivados no complexo do norte fluminense.

A iniciativa deve envolver a instalação de uma planta-piloto e estudos para projetos de maior escala. A Prumo é controlada pelo grupo americano EIG (Folha, 6/7/24)