27/04/2018

Preço deixa produção de açúcar insustentável para 90% do setor, diz Tereos

Preço deixa produção de açúcar insustentável para 90% do setor, diz Tereos

 Os atuais preços do açúcar estão abaixo do custo de produção para “90 por cento” dos produtores globais e deveriam alcançar algo entre 15 a 16 centavos de dólar por libra-peso para que as usinas brasileiras retomem alguma rentabilidade, avaliou nesta quinta-feira o diretor da Região Brasil do Grupo Tereos, Jacyr Costa Filho.

Pressionadas pela ampla oferta global, em especial na Índia, Tailândia e União Europeia (UE), que devem registrar safras recordes, as cotações da commodity estão atualmente no menor patamar em anos na Bolsa de Nova York, no terreno próximo de 11 centavos de dólar por libra-peso.

O segundo contrato do açúcar bruto atingiu nesta semana o menor valor desde 2008.

“Esses preços são uma demonstração clara de que não é sustentável (produzir açúcar). Para o Brasil, que tem o menor custo de produção, deveriam estar entre 15 a 16 centavos de dólar por libra-peso, nível que não estimula muito a produção em outros países e dá rentabilidade para nossas usinas”, avaliou Costa Filho no intervalo da conferência internacional de açúcar e etanol da F.O. Licht em São Paulo.

Ele não especulou sobre o que poderá ocorrer no próximo ano com a produção de açúcar do Brasil, maior produtor e exportador global do adoçante, como efeito dos baixos preços. No momento, a indústria está se voltando para o etanol, que vem registrando melhores preços.

O executivo, à frente de uma companhia que no Brasil conta com sete usinas e moagem de cana estimada para 2018/19 em torno de 20 milhões de toneladas, disse ser difícil precisar quando os valores do açúcar voltarão a subir, até porque parte importante das oscilações deve-se à especulação por fundos.

Ele não detalhou as estimativas de produção de açúcar e etanol da Tereos no Brasil na atual safra, iniciada neste mês, mas ressaltou que o centro-sul do país como um todo deve mesmo fabricar algo em torno de 5 milhões de toneladas a menos no ciclo.

A avaliação do executivo vai em linha com a de outras consultorias, que citam uma maior destinação de matéria-prima para o etanol em detrimento do açúcar.

RENOVABIO

Costa Filho também elogiou a nova política nacional de biocombustíveis, o RenovaBio, em fase de regulamentação. A expectativa é de que o programa tenha suas metas de descarbonização definidas até junho.

“É um programa de grande envergadura e está tramitando mais rápido do que se esperava... O grande mérito do RenovaBio está em estimular a inovação e a eficiência, reduzindo os custos para o produtor e dando maior competitividade”, disse ele, também presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag) e, por esse motivo, próximo às negociações do programa.

Conforme ele, o RenovaBio deve estimular o investimento no setor sucroenergético brasileiro, que vem de anos de dificuldades financeiras.

De acordo com dados apresentados pelo executivo, a moagem de cana em todo o país pode ir a 800 milhões de toneladas até 2030, de 635 milhões em 2017. A produção de açúcar, por sua vez, subiria a 46 milhões de toneladas no mesmo período, ante 39 milhões no ano passado.

Mas o maior incremento se daria sobre o etanol. Segundo Costa Filho, o incremento seria de cerca de 3,2 por cento ao ano até 2030, passando de 28 bilhões de litros em 2017 para 42 bilhões em 2030.

Ele acrescentou que a reorganização ministerial, com mudanças no Ministério de Minas e Energia, principal pasta à frente do RenovaBio, não deve afetar o desenrolar do programa.

“A decisão política já foi tomada. Agora é a parte técnica”, disse, referindo-se à sanção presidencial no fim do ano passado (Reuters, 26/4/18)


Usinas cancelam a exportação de 400 mil toneladas de açúcar 

O derretimento dos preços futuros do açúcar, que ontem chegaram ao menor patamar em nove anos e oito meses na bolsa de Nova York, já levou usinas brasileiras a cancelarem contratos de exportação referentes a pelo menos 400 mil toneladas do produto, segundo Arnaldo Corrêa, analista da Archer Consulting. A iniciativa está partindo das próprias usinas e tem deixado as tradings de açúcar a ver navios.

O cancelamento da exportação desse volume significaria deixar de gerar uma receita de aproximadamente US$ 130 milhões, tendo como base o preço médio de exportação do açúcar bruto na última semana (US$ 325,40 por tonelada) reportado pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

O volume representa cerca de 2% do que o Brasil pode exportar nesta safra, considerando que as vendas externas correspondem a dois terços da produção – estimada em cerca de 30 milhões de toneladas pelas principais consultorias.

A decisão de cancelar contratos de exportação tem sido norteada pela comparação entre os preços do açúcar e do etanol, que continua sendo mais rentável para as usinas, mesmo depois da forte desvalorização desde o início da moagem da safra 2018/19 no Centro-Sul. Em cinco semanas, o indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado em São Paulo recuou 22%.

Com o cancelamento do contrato, essa quantidade de açúcar deixará de ser fabricada, então o caldo da cana deve ser destinado à produção de etanol. Assim, a oferta do biocombustível poderá crescer 240 milhões de litros nesta safra, estima Corrêa.

Analistas afirmam que o preço atual do açúcar está dando prejuízo, enquanto a cotação do etanol hidratado ainda proporciona alguma margem positiva, embora já esteja próxima do valor do custo de produção, como observou Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, em apresentação recente pela internet.

Segundo Corrêa, está valendo mais a pena cancelar a exportação programada para produzir etanol do que trocar de contrato e exportar o açúcar na entressafra, período para o qual os contratos futuros proporcionam uma remuneração um pouco maior. Na bolsa de Nova York, o contrato do açúcar demerara para março de 2019 oferecia ontem um prêmio de 169 pontos sobre os contatos para entrega em maio.

Ontem, porém, todos os papéis aprofundaram as perdas diante da enxurrada de açúcar da Índia, Tailândia e da União Europeia. Os três têm surpreendido com produções acima do esperado. Os contratos para maio fecharam ontem a 10,86 centavos de dólar a libra-peso, com queda de 28 pontos.

"O mercado não esperava um excedente tão grande nesses dois países", diz João Paulo Botelho, da FCStone, ao comentar a oferta da Índia e da Tailândia. Ele estima uma safra de 31 milhões de toneladas no caso indiano, ante projeção inicial de 24 milhões de toneladas. Para a Tailândia, a previsão é de 15 milhões de toneladas.

Na Europa, a surpresa ficou por conta da área plantada de beterraba. As perspectivas de queda no próximo ano-safra diante dos baixos preços do açúcar parecem longe de ser confirmar – o que deve tornar o continente um exportador líquido pela segunda temporada consecutiva. Segundo Botelho, isso se deve principalmente a contratos de longo prazo que os produtores têm com as usinas e a um cenário pouco positivo para outras culturas (Assessoria de Comunicação, 26/4/18)