Preço do etanol sobe a reboque dos ataques na Arábia Saudita
Segundo Cepea, alta ocorre devido a expectativa de elevação da demanda desse combustível.
O preço do etanol reagiu nesta segunda-feira (16) aos atentados ocorridos em refinarias da Arábia Saudita. A pesquisa diária dos valores do tipo hidratado, feita pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), indicou R$ 1,784 por litro, 1,83% a mais do que na última sexta-feira (13).
De acordo com o Cepea, a alta ocorre devido a uma expectativa de elevação da demanda desse combustível, em vista de possível aumento nos preços internos da gasolina.
Já Antonio Padua Rodrigues, diretor da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), afirma que a alta é um movimento normal de mercado, que está com a demanda bastante aquecida.
Diferentemente do que ocorre com os valores da gasolina e do diesel, o preço do etanol não sofre nenhum tipo de regulação ou política institucional e oscila livremente. O setor também é pulverizado em centenas de empresas que concorrem entre si e não há um grupo econômico majoritário capaz de influenciar o preço final, como ocorre no caso da Petrobras no segmento de petróleo.
O setor já caminha para a colheita da parte final da cana —resta um terço— e, diante de uma oferta aquecida, os ajustes vão ser feitos via mercado, segundo o diretor da Unica.
A safra 2019/20 de cana-de-açúcar tem um foco mais alcooleiro do que açucareiro. A demanda interna tem permitido às usinas valores melhores para o etanol do que para o açúcar, devido ao preço fraco deste no mercado externo.
Os dados mais recentes da Unica indicam que, de cada 100 toneladas de cana colhidas na região Centro-Sul neste ano, pelo menos 64,5 delas vão para a fabricação do combustível.
A boa oferta de etanol hidratado, apesar da forte demanda, tem mantido os preços do combustível favoráveis aos consumidores.
No estado de São Paulo, um dos principais produtores de cana e do combustível, os preços do etanol correspondem a apenas 64,4% dos da gasolina. Pesquisa indica que, quando essa relação fica abaixo de 70%, a utilização do etanol hidratado é mais vantajosa do que a da gasolina.
Em algumas cidades paulistas essa relação é ainda mais favorável. Os consumidores de Adamantina e de Dracena pagam apenas 57% e 59,7%, respectivamente, pelo álcool, em relação aos valores da gasolina.
Cálculos da Unica mostram que 50% da frota brasileira de veículos está localizada em municípios com paridade de preços entre etanol hidratado e gasolina abaixo de 67%.
As vendas acumuladas de etanol nesta safra somam 14,2 bilhões de litros. Deste volume, 9,9 bilhões são de álcool hidratado. Essas negociações superam em 18% as de igual período do ano passado. A safra de cana 2019/20 teve início em abril.
Uma manutenção dessa alta de preços do etanol nas usinas, e consequente repasse para as bombas, pode mexer com a inflação. Do início de abril ao final de agosto, os preços do etanol tiveram queda de 7,2% para os consumidores paulistanos, conforme pesquisa de preços da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). No mesmo período, a gasolina teve alta de 1,3%.
A pesquisa diária de preços do etanol hidratado em Paulínia (SP), feita pelo Cepea, serve de base para a liquidação dos contratos futuros desse combustível na B3. Os preços não contêm impostos (ICMS e PIS/Cofins).
Ao registrar R$ 1,784 por litro nesta segunda-feira, o etanol interrompe um período de queda e retorna aos patamares de há um mês.
Estão longe, contudo, do maior valor registrado pelo combustível neste ano: R$ 2,1 por litro em abril (Folha.com, 17/9/19)
Alta no preço do petróleo pode melhorar cenário para o etanol no Brasil TANQUES DE ETANOL
O salto no preço do petróleo após ataques a instalações na Arábia Saudita é visto como um fator de sustentação ao já positivo cenário do etanol no Brasil, segundo analistas e representantes do setor, reduzindo ainda mais a atratividade de produção de açúcar para as usinas no país.
Se os preços mais altos do petróleo levarem a um avanço nos valores da gasolina no Brasil, a significativa vantagem do custo do etanol sobre o combustível fóssil nas bombas seria mantida, ou até ampliada, sustentando a forte demanda e melhores margens de lucro para as usinas, disseram eles.
Considerando que esse cenário ocorra, as usinas continuarão a favorecer fortemente a produção de etanol ante a de açúcar nesta temporada, reduzindo as expectativas para a produção do adoçante em 2019.
“Mas tudo depende do que a Petrobras fará, se irá passar para a gasolina o aumento nos preços internacionais”, disse Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
A Petrobras, cuja participação no refino de petróleo do Brasil é quase total, define os preços para gasolina e diesel no país.
A estatal adotou há dois anos a política de acompanhar os preços internacionais do petróleo, mas tem enfrentado pressão do governo federal para limitar as altas, à medida que a nova administração tenta aumentar sua popularidade.
Após o ataque à Arábia Saudita no sábado, a empresa disse que adotará cautela quanto às decisões de preços. Os valores do petróleo recuavam nesta terça-feira, mas permanecem muito acima dos vistos na semana passada.
“Será um teste para a Petrobras, vamos ver”, disse Rodrigues. No passado, a Unica criticou a companhia por não ajustar os preços internos dos combustíveis quando os valores do petróleo mudavam no mercado internacional.
Tomas Manzano, estrategista da Copersucar, importante comercializadora brasileira de açúcar e etanol, afirmou que o novo risco geopolítico deve sustentar os preços do petróleo em níveis mais altos nos próximos meses, abrindo espaço para que os preços do etanol também aumentem.
“A expectativa é de algum aumento no preço da gasolina, o que vai beneficiar o etanol”, disse Manzano à Reuters durante a Novacana Ethanol Conference 2019.
Fabio Meneghin, analista de açúcar e etanol da Agroconsult, afirmou que as usinas podem reduzir as vendas de etanol no mercado à vista (“spot”) nesta semana, aguardando por uma possível ação da Petrobras.
A consultoria FG/A, entretanto, possui uma visão diferente. O sócio Juliano Merlotto acredita que os altos níveis de produção de etanol no Brasil acarretarão estoques muito grandes nos próximos meses, pressionando os preços e margens de lucro para as usinas.
“Os preços do petróleo provavelmente devem retornar aos níveis anteriores uma vez que a situação de oferta se estabilize, e então teremos muito etanol no mercado”, disse (Reuters, 17/9/19)