Preço elevado e falta de insumos afetam oferta de grãos na safra 2022/23
SOJA E MILHO REUTERS Inae Riveras.jpg
Custos altos podem reduzir plantio em um período em que a FAO classifica como de demanda crescente e estoques em baixa.
À exceção do açúcar, todas as commodities agrícolas fecharam em alta nesta terça-feira (9). Foi dia de divulgação de dados de oferta e demanda de grãos referentes aos Estados Unidos e aos demais grandes produtores, e o resultado surpreendeu o mercado.
O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) contrariou as expectativas do setor e apontou para uma queda na safra norte-americana de soja em 2021/22. Os novos números indicam 120,4 milhões de toneladas, 1% menos do que se previa em outubro.
Com isso, o contrato de janeiro da soja, negociado em Chicago, fechou a US$ 12,41 por bushel (27,2 kg), 2% acima do valor de segunda-feira (8). Mesmo com essa alta, os preços atuais ainda ficam distantes dos de junho, quando as negociações foram feitas a US$ 14,79 para o mesmo contrato.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura) alerta para o patamar atual das commodities, que atingem preços médios próximos aos do recorde de há uma década.
A preocupação, porém, deverá ser com a safra 2022/23. O desarranjo mundial na oferta de insumos e os preços elevados podem mudar o rumo da produção no próximo ano.
O Brasil ainda está plantando a safra 2021/22, e não está sentindo tanto os efeitos desse cenário adverso dos insumos porque antecipou compras.
O mesmo não ocorre com os norte-americanos, que, diante dos novos custos, deverão reduzir a área de milho e ampliar a de soja. A cultura de milho tem um custo maior do que a da soja.
A redução da oferta e a alta dos preços dos insumos não têm uma solução rápida, e deverá afetar também os produtores brasileiros de milho na safrinha, segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural.
Se os custos continuarem elevados, eles devem repensar o plantio do milho, que segue o de soja no Brasil.
A China, mais uma vez, será o fiel da balança. O Usda divulgou nesta terça-feira que as importações chinesas de soja deverão ser de 100 milhões de toneladas em 2022/23, um volume inferior ao que se previa antes.
Brasil, Estados Unidos e Argentina, os três principais produtores mundiais, terão safras melhores em 2021/22. Os dois países da América do Sul, no entanto, ainda dependem da evolução do clima.
Se tudo correr bem, a produção mundial de soja de 2021/22 subirá para 384 milhões de toneladas, e a de milho, para 1,2 bilhão de toneladas.
Custos econômicos elevados e dificuldades na obtenção de insumos podem não garantir, no entanto, volumes tão expressivos em 2022/23, gerando novas pressões nos preços.
Uma oferta menor de alimentos seria ainda mais complicado para o controle da inflação, que vem subindo. Nos números da FAO, a demanda está aquecida. Nesta safra, enquanto a produção mundial de grãos fica em 2,79 bilhões de toneladas, o consumo vai a 2,81 bilhões (Folha de S.Paulo, 10/11/21)