11/11/2021

Problemas ocorridos no campo neste ano serão transferidos para 2022

Problemas ocorridos no campo neste ano serão transferidos para 2022

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Rabobank prevê recuperação de produção em vários produtos, mas alta de insumos traz desafios para agricultor.

Após um 2021 tumultuado em oferta de produtos e com reflexos sobre os preços, 2022 ainda estará sujeito a instabilidades na produção e volatilidade nos preços.

Os reflexos dos fenômenos "quase bíblicos" deste ano, afetado por seca, geada e incêndios nas lavouras, ainda serão sentidos no próximo. A situação macroeconômica também exigirá cautela.

A avaliação é de analistas do Rabobank, um banco voltado para o agronegócio, e foi feita nesta quarta-feira (10) durante a apresentação de perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2022.

Este ano foi marcado por inflação acima da expectativa, gargalos na produção, insumos caros, fretes globais elevados e condições climáticas desfavoráveis. O resultado foi uma elevação dos preços dos alimentos para o maior patamar em uma década.

Boa parte desses problemas vai ser refletida também no próximo ano, um período de eleições. A inflação deverá ficar em 4,3%; os juros subirão para 10,5%; o câmbio se manterá em 5,61%; e o PIB (Produto Interno Bruto) terá evolução de apenas 0,8%.

Além de interferir no custo dos alimentos, o cenário do campo de 2022 poderá também afetar os gastos com transporte, uma vez que a moagem de cana-de-açúcar não se distanciará muito dos 525 milhões de toneladas deste ano da região centro-sul.

A produção de açúcar, conforme expectativas do banco, será de 33,2 milhões de toneladas, com alta de 2%, e a de etanol, 28,2 bilhões de litros, com evolução de 3%.

O preço do etanol nas usinas, negociado a R$ 3,40 neste ano, poderá ir a R$ 3,80 no próximo. A gasolina, devido a um preço de R$ 80 por barril de petróleo em 2022, estará a R$ 6,40 por litro nas bombas.

O consumidor vai continuar pagando mais também pelo café. Os fatores de alta deste ano se estendem para o próximo.

Por ora, porém, há incertezas sobre como os cafeicultores vão administrar as lavouras afetadas pela geada –tipos de poda– e sobre como vai ser a recuperação dos pés de café.

O consumo mundial cresce, somando 168,6 milhões de sacas, provocando um déficit de 3,5 milhões de toneladas entre consumo e oferta globais na safra 2020/21.

A produção brasileira será de 63,5 milhões de sacas na safra 2022/23, acima da anterior, mas abaixo dos 72 milhões de 2020/21, segundo o Rabobank.

A produção brasileira de soja atingirá 142 milhões de toneladas. O aumento nos principais países produtores deverá elevar os estoques mundiais, principalmente porque a China está com um apetite menor.

A produção de milho, após uma intensa perda neste ano, tem potencial para 116 milhões de toneladas no próximo.

Com isso, o país ganha um poder de exportação de 37 milhões a 38 milhões de toneladas. O consumo interno deverá ser de 74 milhões.

No caso das proteínas, os problemas sanitários continuam a afetar a produção em algumas regiões. Condições climáticas e custos de produção também são limitadores de oferta.

A China, principal país influenciador desse mercado, terá um rebanho de suínos maior em 2022, podendo reduzir importações. O câmbio, no entanto, dará oportunidades para as exportações brasileiras.

Em 2022, a produção brasileira de carne suína sobe para 4,6 milhões de toneladas, e a exportação, para 1,1 milhão, segundo avaliação do Rabobank.

Os analistas do banco estimam também um avanço de 1% na produção de carne bovina, que atingiria 7,6 milhões de toneladas. As exportações somariam 2 milhões.

 A falta de mão de obra nos países concorrentes e o câmbio poderão ser fatores de competitividade da carne bovina brasileira. A reconquista do consumo interno, afetado pela alta dos preços, porém, será um desafio, segundo os analistas.

Produção e exportação de carne de frango crescem 1,5% em 2022. A avicultura colocará 14,7 milhões de toneladas da proteína no mercado e exportará 4,4 milhões.

A produção de laranja, ao contrário das expectativas iniciais, fica em apenas 265 milhões de caixas na safra 2021/22. Já a demanda global de suco, após uma melhora em 2020, dá sinais de queda novamente.

Os preços, no entanto, continuam elevados, uma vez que os estoques mundiais de suco são baixos, com perspectiva de recuarem, em março próximo, para o menor patamar em cinco anos.

A oferta de leite será limitada, dificultando queda de preços no campo. Inflação e perda de renda dos consumidores, contudo, deverão inibir uma expansão do consumo de alimentos.

A piora nas condições econômicas da China tem restringido a recuperação de preços da celulose. O preço é afetado, ainda, pela expansão global da oferta.

Em 2022, as condições de preços ainda serão positivas para as empresas brasileiras, principalmente devido ao custo menor da produção nacional e à ajuda do dólar (Folha de S.Paulo, 11/11/21)