Qual é o PIB do agronegócio? Qual a evolução da safra?
Por Mauro Zafalon
O PIB cresceu 2% ou 24,3% em 2020? A safra de grãos é de 272 milhões ou de 263 milhões de toneladas?
O PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio teve um crescimento real de 24,3% no ano passado, em relação a 2019, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), com base em dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) divulgados nesta quinta-feira (11).
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) acabou de divulgar, no entanto, que a evolução tinha sido de 2% no mesmo período período.
A safra nacional de grãos volta a subir e deverá atingir o patamar recorde de 272 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgou nesta quinta-feira. Para o IBGE, no entanto, a produção será 9 milhões de toneladas a menos, ficando, embora ainda recorde, em 263 milhões.
Os dados do IBGE e da CNA de PIB podem confundir, mas não são comparáveis. O órgão do governo acompanha a produção dentro da porteira. Considera apenas o volume conseguido pelos produtores no período.
Já o da CNA, conforme pesquisa feita pelo Cepea, engloba todo o agronegócio. Além da produção de dentro da porteira e dos preços das mercadorias, leva em consideração todo o agronegócio, incluindo insumos, agroindústria e agrosserviço.
Apesar da grande diferença dos números, quando isolados e seguidos os mesmos padrões, eles se aproximam. Se o Cepea tivesse adotado apenas o critério do IBGE, o de volume produzido, teria chegado a uma variação da taxa de crescimento do PIB de 2,2% em 2020, semelhante à do instituto.
O dado do Cepea, além de considerar os números da Conab para a safra, foi incrementado, ainda, pelos preços recordes praticados no país no ano passado.
O Seade também divulgou os dados do estado de São Paulo nesta quinta-feira. A agropecuária, ou seja, as atividades dentro da porteira, indicaram recuou de 1,7% no período.
Quando considerado o agronegócio como um todo, contudo, o setor ajudou a sustentar a taxa positiva de 0,4% registrada pelo PIB paulista em 2020. A indústria de alimentos cresceu 8,4%, dando sustentação ao PIB geral.
A disparidade na safra de grãos está basicamente nas produtividades previstas. Soja e milho representam 80% da safra brasileira, e qualquer divergência nesses produtos gera um desencontro dos números.
A área de soja, por exemplo, é praticamente a mesma para IBGE e Conab. Ambos preveem uma média de 38,3 milhões de hectares. A Conab espera, no entanto, uma produtividade de 97 quilos a mais por hectare do que o IBGE.Isso gera uma diferença de 5 milhões de toneladas, com a Conab prevendo produção de 135 milhões neste ano, acima da do IBGE.
No caso do milho, a diferença de área é de 600 mil hectares a favor da Conab, que prevê 19,5 milhões e uma produtividade de 60 quilos a mais por hectare. Com isso, a produção esperada do cereal pelo IBGE fica em 103,5 milhões de toneladas, 5 milhões a menos do que a da Conab.
Pela importância que tem na produção nacional, esses dois produtos podem dar um desequilíbrio nos números finais de estimativas. É o que ocorre. A Conab espera uma evolução de 15 milhões de toneladas na produção total deste ano, em relação a 2020, enquanto o IBGE estima 9 milhões (Folha de S.Paulo, 12/3/21)