Qual será o impacto da nova supersafra na economia brasileira?
supersafra Foto Reprodução – Divulgação
Por Isadora Duarte (Broadcast)
Governo estima produção recorde de 322,42 milhões de toneladas de grãos na temporada 2024/2025; resultado deve compensar desaceleração da indústria e dos serviços e ajudar a aliviar preços de alimentos.
A safra brasileira de grãos na temporada 2024/25, estimada em recorde de 322,42 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é sinônimo de alívio para os agricultores, após a quebra no ciclo passado, mas também música para os ouvidos dos macroeconomistas.
Uma safra maior no campo neste ano deve significar uma maior contribuição do agronegócio à economia brasileira, segundo analistas de mercado, representantes do governo e do setor privado ouvidos pelo Estadão/Broadcast.
No Produto Interno Bruto (PIB), o resultado é imediato. Após um ano de retração, acumulada em 3,5% até setembro, o PIB do agro deve voltar a crescer neste ano, impulsionado pela previsão de colheita de grãos 8,2% maior. No último ano, a menor produção de soja e milho, em virtude do clima adverso, se refletiu no PIB da Agropecuária. Para este ano, as previsões compiladas pelo Estadão/Broadcast apontam para aumento de 2,5% a 6% no PIB agro.
Maior produção de grãos deve ter reflexo na balança comercial brasileira, com potencial crescimento das exportações do agronegócio. Foto Tiago Queiroz-Estadão
Para os economistas, a maior produção de grãos, que responde por uma fatia relevante do PIB agro, deve compensar a retração na pecuária e as menores safras de café e açúcar. “Estimamos crescimento de 2,6% para o PIB agro neste ano, com viés de alta. 2024 foi um ano ruim para a produção de grãos e bom para carnes, após um 2023 de combinação de pecuária e produção agrícola fortes. Neste ano, veremos grãos puxando o desempenho, mas as carnes limitando o crescimento do setor”, avalia a analista da Tendências Consultoria, Gabriela Faria, economista responsável por agropecuária e biocombustíveis.
O melhor desempenho da agropecuária deve compensar a desaceleração da indústria e dos serviços, segundo estimativas do Ministério da Fazenda.
em 2025, ante aumento de 2,5% do PIB geral. Com isso, o setor tende a ampliar sua participação no PIB nacional, historicamente entre 6,5% e 7%.
Do lado da inflação dos alimentos, a supersafra deve ajudar a aliviar os preços mais elevados de carnes, café e açúcar, alimentos que devem ficar mais caros ao consumidor e pressionar a inflação em geral. Com a expectativa de maior produção e preços dentro da média, de estabilidade à queda, os grãos tendem a ter impacto neutro sobre a inflação.
“Não há perspectiva de altas acentuadas nas cotações de soja e milho, o que ameniza a pressão sobre a inflação de alimentos. Dos produtos básicos, o trigo vai depender muito do dólar, já o arroz tende a ter uma ótima safra e o feijão deve ficar com produção dentro da média”, apontou o gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves.
A contribuição é bem-vinda em meio aos sinais de uma inflação de alimentos resistente, o que preocupa o governo em virtude da pressão sobre a inflação geral e consequente atraso no ciclo de corte de juros. Os números mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os preços de alimentação e bebidas aumentaram pelo quarto mês seguido, para uma alta de 1,47% em dezembro. A Tendência Consultoria projeta aumento de 9,1% no IPCA alimentos de 2024 e de 6,2% para este ano, com viés de alta.
Reflexos positivos da maior produção de grãos serão observados também, segundo os economistas, na balança comercial brasileira, com potencial crescimento das exportações do agronegócio neste ano.
Em 2024, as exportações do setor recuaram 1,3% para US$ 164,4 bilhões, refletindo a quebra na safra de soja e milho 2023/24 e o arrefecimento dos preços internacionais. Neste ano, o agronegócio brasileiro deve ter um cenário mais favorável para as exportações do setor, com o volume impulsionado pela safra e o valor nominal das vendas externas beneficiado pelo dólar forte ante o real. Do lado da receita gerada com as exportações agropecuárias, a previsão de preços das commodities dentro da média corrobora a perspectiva de uma maior contribuição do setor à balança comercial nacional.
Apenas de soja e milho, o Brasil deve exportar 16,9 milhões de toneladas mais neste ano, projeta a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Os embarques de carnes também devem crescer e contribuir para uma balança comercial mais firme. Além dos volumes robustos, o dólar forte ante o real, na faixa de R$ 6, tende a puxar a geração de divisas com a comercialização internacional dos produtos agropecuários.
As projeções de analistas de mercado consultados pelo Estadão/Broadcast apontam para aumento de cerca de 5% nas exportações do setor. “O aumento será puxado mais por volume e câmbio que por preços e, principalmente, por vendas externas de soja e milho”, observou o sócio-diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht. Em termos de participação, o agronegócio deve manter uma fatia de 50% na pauta exportadora nacional.
Em meio às incertezas no quadro fiscal, aumento de juros e câmbio firme, a economia brasileira volta a ter maior dependência do campo. Com uma supersafra, o agronegócio deve dar fôlego ao crescimento econômico e aos principais indicadores do Brasil. Caso a safra não seja excepcional, mas supere a do ano passado, a agropecuária ao menos conseguirá sustentar a economia (Estadão, 23/1/25)