09/01/2023

Quem é Carlos Fávaro, ministro da Agricultura de Lula

Carlos Fávaro foi anunciado como ministro. Foto Estadão

Carlos Fávaro Foto Estadão

 Senador fez carreira no agronegócio e já presidiu a associação nacional de produtores de soja.

Anunciado nesta quinta-feira, 29, como ministro da Agricultura do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Carlos Fávaro (PSD) tem toda a sua carreira ligada ao agronegócio. Natural do Paraná, foi pecuarista antes de ingressar na política, em 2014. Atualmente, está no Senado pelo Mato Grosso, por ocasião da cassação do mandato da ex-senadora Selma Arruda em 2020.

Fávaro foi presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), uma das mais importantes entidades do agronegócio brasileiro. Também presidiu a filial matogrossense da organização, entre 2012 e 2014, e a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores do município de Lucas do Rio Verde (MT), localizado na “rota da soja” de Mato Grosso.

Hoje, a Aprosoja-MT faz oposição a seu nome, dizendo que o ruralista que decidiu apoiar o governo Lula “não têm legitimidade para representar o setor como interlocutores em Brasília”.

Problema político

A escolha de Fávaro para o ministério foi possível depois de o futuro ministro superar um problema político delicado, relacionado à suplente que assumirá o seu posto no Senado quando der início à sua gestão no Ministério da Agricultura. Margareth Buzetti (PP/MT) é apoiadora do presidente Bolsonaro e chegou a fazer campanha nas ruas no segundo turno das eleições com o grupo de “Mulheres com Bolsonaro”.

Fávaro foi eleito vice-governador de Mato Grosso em 2014, à época filiado do Progressistas. Dois anos depois, assumiu a Secretaria de Meio Ambiente do Estado, mas saiu do cargo em 2017 para disputar o Senado no ano seguinte, numa eleição em que não saiu vitorioso, ficando em terceiro lugar.

Em 2020, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, atendeu a pedidos do PSD e do governo do Mato Grosso e determinou que Fávaro assumisse interinamente uma cadeira no Senado após a cassação da ex-juíza Selma Arruda (Podemos) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Posteriormente, foi eleito de forma definitiva em eleição suplementar realizada no Estado em 2020 (O Estado de S.Paulo, 30/12/22)


Desafios do novo ministro da Agricultura passam por outros ministérios

Carlos FávaroFoto Agência Senado

Ministério da Fazenda será fundamental na definição de uma política agrícola.

O novo ministro da Agricultura, o agropecuarista Carlos Fávaro (PSD-MT), não vai governar sozinho. A pasta virou um rosário de dependências, e a tarefa terá de ser ser dividida com outros ministros, cujas decisões terão grande peso para o setor.

Ministério da Fazenda será fundamental na definição de uma política agrícola para a Agricultura. O cobertor do Orçamento é curto, e a Agricultura, se quiser incentivar os produtores de menor renda, terá de elevar a participação desses agricultores no financiamento.

Os grandes produtores, após bons anos de receitas, ainda têm fôlego. Nesta safra, os de Mato Grosso, principal estado agrícola do país, financiaram 33% de sua safra com recursos próprios. Em 2020/21, o percentual era de 17%, e em 2021/22, de 23%.

Juros elevados e sinais de uma desaceleração dos preços internacionais são novos obstáculos à agropecuária brasileira, após demanda e preços fortes nos anos recentes. Os pedidos da pasta agrícola para a Fazenda vão aumentar. Aliás, o nome Fazenda casa bem com Agricultura.

A agropecuária brasileira vai depender muito também do Ministério do Meio Ambiente. As ações deste deverão abrir ou fechar portas para o mercado brasileiro. Não se imagina, porém, que o governo que vai assumir venha a ter um comportamento tão destrutivo neste setor como teve o que sai.

Os próprios produtores já tomaram consciência de que os crimes existem nessa área e que devem ser combatidos. Caso contrário, os mercados externos vão se fechar cada vez mais.

O Ministério da Agricultura vai depender muito também do Ministério das Relações Exteriores. Por mais que a ex-ministra Tereza Cristina tenha buscado o diálogo externo, a aversão internacional ao presidente Jair Bolsonaro é grande, e algumas pontes foram destruídas.

 

Até a ação do Ministério de Minas e Energia, por meio da Agência Nacional de Mineração, será importante para um reconhecimento externo da Agricultura. O avanço de garimpos e mineração ilegais, principalmente em terras indígenas, influência as negociações com o mercado externo.

Projetos de mineração adequados e com sustentabilidade, voltados inclusive para a produção de fertilizantes, serão importantes para a agricultura.

O Brasil passará a conviver ainda com novas ameaças de barreiras comerciais. A União Europeia está prestes a implantar um novo protocolo de importações, que leva em consideração período e áreas desmatadas.

O bloco europeu quer uma produção mais eficiente e mais ecológica. O Brasil vai ter de se adaptar a essas exigências, devido à importância da Europa para o mercado brasileiro, mas a que custo? Boa parte dos novos mercados exige preços competitivos dos alimentos.

A demanda externa por produtos brasileiros depende, ainda, da economia mundial e da renda dos consumidores, principalmente dos da Ásia, o maior mercado brasileiro.

A crise internacional, atividade menor na Europa, efeitos da Covid na China e eventuais barreiras europeias, devido ao desmatamento, podem reduzir os preços externos das commodities. E isso ocorre em um período de forte aceleração dos custos de produção.

Há uma indecisão também sobre o desenrolar do conflito entre Rússia e Ucrânia. Importantes fornecedores de grãos e de insumos, estes dois países interferem no abastecimento do mercado mundial.
Além dessas preocupações, as condições climáticas também são fatores desafiadores. Nos anos recentes, as adversidades climáticas têm afetado várias partes do mundo, inclusive o Brasil.

No ano de 2021, o país perdeu 20 milhões de toneladas de milho, devido a seca e geadas. Neste ano, foi a vez da quebra do mesmo volume de soja. Para esses casos, o país necessita de um programa eficiente de seguro e de garantia de renda no campo.

A tecnologia é fundamental para a agricultura. Embora o novo governo tenha manifestado a necessidade de uma recuperação orçamentária da Embrapa para o avanço de novas pesquisas agrícolas, a empresa está no fundo do poço.

A tecnologia tem levado concorrentes brasileiros a aumentar a produção e a diminuir a dependência externa, mesmo em condições menos favoráveis do que as do Brasil.

Os russos, principais importadores de carne suína do Brasil há alguns anos, já não fazem mais parte importante nessa lista.

Os árabes estão aumentando a produção de proteínas, o que também ocorre no mercado chinês. Os países africanos, com ajuda do capital estrangeiro, se inserem cada vez mais na produção de alimentos.

O Brasil necessita de um programa de médio e longo prazos apontando tendências para a agropecuária. Ele deve contemplar não apenas as necessidades internas, mas também os possíveis rumos do setor externo.

A produção de alimentos básicos, como arroz e feijão, por exemplo, está sendo deixada de lado devido à atratividade dos produtos voltados para o mercado externo.

O setor de vigilância sanitária do próximo governo vai ter de redobrar a atenção. A gripe aviária chegou a alguns países vizinhos, enquanto a peste suína africana já ameaça o continente americano.

O novo ministro da Agricultura vai ter de se ajustar, ainda, com as forças opostas do MST e da massa sem um líder definido que tomou conta de boa parte do campo (Folha de S.Paulo, 30/12/22)