Robôs ainda não conseguem se igualar a trabalhadores em tarefas difíceis
Com 1,73 metros de altura e pesando 72,5 quilos, os robôs Apollo, do grupo texano Apptronik, serão usados para entregar peças nas linhas de Apptronik. Foto Reprodução LinkedIn
Trabalhos repetitivos já são automatizados, mas humanos são muito melhores em atividades como escolher itens dentro de um recipiente.
No cais de saída de um armazém da Amazon perto de Nashville, no Tennessee, nos Estados Unidos, um braço robótico chamado Cardinal empilhava pacotes, no estilo Tetris, em carrinhos de 2 metros de altura. Em seguida, o Proteus, uma plataforma autônoma, movia os carrinhos para a baia de carregamento, piscando olhos eletrônicos projetados para tornar o robô mais atraente para os colegas humanos.
À medida que os robôs se tornam mais capazes, eles estão realizando um número crescente de tarefas em armazéns e centros de distribuição com variados graus de aptidão e velocidade. As máquinas podem carregar e descarregar caminhões, colocar mercadorias em paletes e retirá-las. Os robôs podem mover itens no inventário, pegar pacotes e mover mercadorias nos pisos dos armazéns —tudo isso sem um supervisor humano guiando cada movimento.
Robôs em armazém da DHL em Ohio. Foto Nick Fancher - NYT
No entanto, mesmo que os robôs estejam começando a assumir alguns trabalhos repetitivos e pesados, ainda há muitas tarefas em que eles não são bons, tornando difícil saber quando ou se os robôs serão capazes de automatizar totalmente essa indústria.
Apesar do aumento da automação, os armazéns continuam sendo grandes empregadores de humanos. Dados federais dos EUA mostram que quase 1,8 milhão de pessoas trabalham neste setor da cadeia de suprimentos.
Embora esse número tenha caído 9% desde seu pico em 2022, quando as empresas de logística contrataram em massa para lidar com o boom do comércio eletrônico durante a pandemia, ainda está mais de 30% acima do início de 2020.
Existem muitas tarefas simples e cruciais em que os humanos são muito melhores. Eles podem alcançar itens num recipiente profundo e mover alguns para extrair a peça desejada, uma tarefa que os profissionais do setor chamam de picking.
Engenheiros de robótica têm dificuldade em dizer quando suas criações serão capazes de fazer isso rápido o suficiente para serem substitutos viáveis para os humanos.
Empresas de IA (inteligência artificial), como a OpenAI, têm oferecido serviços impressionantes que podem rapidamente produzir textos, imagens e vídeos que parecem ser obra de profissionais qualificados. Mas em armazéns repletos de produtos da economia moderna, os avanços na automação têm sido mais lentos. Lá, os robôs muitas vezes lutam para dominar habilidades que a maioria dos humanos consegue realizar sem muita dificuldade.
Sparrow, um dos braços robóticos mais avançados da Amazon, realiza o "top-picking", pegando o item no topo ou próximo do topo de um recipiente. A Amazon diz que o Sparrow pode manipular mais de 200 milhões de itens de diferentes tamanhos e pesos, mas que não é hábil em "picking direcionado" —vasculhar muitos itens para pegar um que pode estar enterrado ou escondido.
"Esse é um trabalho realmente difícil. Não estou dizendo que é impossível. Esse é meio que o próximo desafio", disse Tye Brady, tecnólogo-chefe da Amazon Robotics.
Às vezes as empresas também descobrem que os robôs testados fora do laboratório não estão prontos.
Há "mais modelos que não adotamos do que adotamos", apontou Sally Miller, diretora global de informação da DHL Supply Chain, referindo-se aos robôs. A divisão da DHL para a qual ela trabalha opera armazéns para outras empresas e implantou 7.000 robôs globalmente.
Uma grande motivação para automatizar é a alta rotatividade de funcionários de armazém. O trabalho é frequentemente fisicamente exigente e paga salários modestos. Trabalhadores de armazém menos qualificados ganham cerca de US$ 16 a US$ 17 por hora. Entre os postos menos remunerados estão os descarregadores de caminhões, que pegam caixas e as movem para sistemas de esteira.
Esse trabalho agora pode ser feito com um braço robótico chamado Stretch, desenvolvido pela empresa de automação Boston Dynamics.
Braço robótico chamado de Cardinal empilhando pacotes em armazém da Amazon. Foto Stacy Kranitz - NYT
Um Stretch trabalhando em um cais de entrada de uma instalação gerida pela DHL em Columbus, Ohio, recentemente alcançou o fundo de um caminhão apertado e removeu caixas cheias de roupas de forma constante. Um funcionário do armazém que supervisiona o Stretch referiu-se ao robô como "ele" e falou com carinho de sua capacidade de pegar pacotes caídos.
Miller disse que o Stretch pode descarregar aproximadamente o dobro de caixas por hora em comparação com humanos. Ela se recusou a dizer quanto custou o equipamento, mas disse: "Ele não falta ao trabalho e pode trabalhar por várias horas. É uma ótima solução."
O Stretch pode fazer o trabalho de quatro a seis trabalhadores em dois turnos, disse a DHL, e a empresa transferiu trabalhadores cujas tarefas agora são realizadas pelo robô para outros empregos em diferentes partes do armazém.
Alguns executivos disseram que seu objetivo era que os robôs realizassem todas as tarefas monótonas.
"Tarefas servis, mundanas e repetitivas serão substituídas pela automação", prevê Brady. "Isso pode assustar as pessoas, mas vai permitir que elas se concentrem mais no que importa."
A Amazon tem mais de 750 mil robôs em suas operações. Embora a empresa não divulgue um número específico de funcionários de armazém, a empresa tinha 1,55 milhão de funcionários no final de setembro, acima dos 800 mil em 2019.
Muitos trabalham em centros de distribuição.
No cais de saída em Nashville, onde Cardinal e Proteus operam, ainda há dezenas de funcionários trabalhando. Mas a Amazon não disse quantas pessoas trabalhavam na baia antes da introdução dos dois robôs e quantas trabalham lá hoje.
A Amazon diz que a implantação de robôs cria novos empregos que envolvem supervisionar e manter as máquinas. Mas o número de tais trabalhadores não parece ser grande. Em uma recente visita à instalação da empresa em Nashville, um gerente disse que havia cerca de 100 desses postos, de um total de 2.500 pessoas no centro. Um porta-voz da Amazon disse que tais instalações geralmente têm 200 funcionários de manutenção de robôs.
Os robôs da Amazon parecem estar ajudando a processar mais pacotes com menos funcionários.
Brady disse que um novo armazém da Amazon em Shreveport, Louisiana, equipado com sua tecnologia mais recente, incluindo um sistema automatizado de gerenciamento de inventário chamado Sequoia, parecia capaz de processar pacotes 25% mais rápido e 25% mais barato do que o de Nashville. Assim como Nashville, Shreveport terá 2.500 funcionários (The New York Times, 19/11/24)