RS: Governo mente ao afirmar que não dispensou oferta de ajuda do Uruguai
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Nota da Secom omite lanchas e drones colocados à disposição por país vizinho.
A Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) do governo Lula (PT) mentiu, nesta quarta-feira (8), ao afirmar em nota oficial que o governo brasileiro não recusou oferta de ajuda do Uruguai para operações de socorro às vítimas das cheias no Rio Grande do Sul.
Na terça (7), a Folha revelou que o governo Lula dispensou uma oferta de ajuda do Uruguai por lanchas, um avião e drones para auxiliar no resgate às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
Nota da Secom omite lanchas e drones colocados à disposição para RS por país vizinho - Reprodução
A solicitação envolvia o empréstimo de duas lanchas motorizadas, com as suas tripulações, dois drones para busca de pessoas em situação de isolamento, com os respectivos operadores uruguaios, e de um avião de transporte Lockheed KC-130 H Hercules. A aeronave serviria para levar as lanchas às regiões afetadas e também poderia ser usada para transportar doações humanitárias que estão sendo recolhidas no Uruguai.
O pacote de ajuda humanitária partiu de uma solicitação formalizada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), no sábado (4).
No mesmo texto, a Folha informou que uma primeira oferta de ajuda uruguaia tinha sido aceita, de um helicóptero de resgate com sua tripulação. A aeronave opera desde o fim de semana no estado.
Nesta quarta, a Secom usou o caso do helicóptero para afirmar que o governo brasileiro não recusou oferta de ajuda uruguaia para o Rio Grande do Sul.
"Um helicóptero emprestado pelo país vizinho e amigo está em operação no estado, aparelho de grande valia para o auxílio dos socorristas. O Brasil é grato ao Uruguai pelo pronto-auxílio. São falsas, portanto, as notícias de que o Brasil teria desprezado ajuda do Uruguai ou qualquer outro país. Todas as ofertas de auxílio são bem-vindas, serão analisadas conforme a adequação às urgências e serão bem recebidas", disse a Secom.
Em seguida, o comunicado da Secom reconheceu que o Uruguai "também ofereceu um modelo específico de avião".
"Neste caso, a avaliação técnica foi a de que o aparelho, em razão de suas características, não seria adequado para o tipo de operação exigida e a infraestrutura aeroportuária disponível. Considerando ainda que já há no Rio Grande do Sul avião em operação da frota brasileira com a mesma funcionalidade do ofertado, a conclusão foi a de que não havia necessidade desse tipo de aeronave."
A nota da Secom não cita em nenhum momento os demais equipamentos colocados à disposição pelo governo uruguaio: duas lanchas motorizadas, com as suas tripulações, e dois drones para busca de pessoas em situação de isolamento, com os respectivos operadores uruguaios.
A recusa da oferta do avião foi confirmada à Folha por nota oficial da Defesa, enviada na tarde de terça.
Em e-mail, a assessoria do ministério afirmou que "o Comando Militar Conjunto declinou da oferta da aeronave por restrições de pistas disponíveis para pouso em Porto Alegre".
"O Brasil possui a aeronave KC 390 que atende a necessidade dos transportes, pois pousa em pista menor e transporta maior carga. O trabalho de resgate e apoio humanitário vem sendo feito com 243 embarcações e drones das Forças Armadas", prosseguiu a Defesa na ocasião.
Ainda na terça, o representante do governo do Rio Grande do Sul em Brasília, José Henrique Medeiros Pires, disse à Folha que há outras pistas em operação no estado em condições de receber a aeronave uruguaia.
De acordo com o deputado Lucas Redecker (PSDB-RS), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara que pediu explicações ao governo nesta quarta, o ministério da Defesa lhe comunicou que há no momento restrição de operação no solo na base aérea de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.
"Segundo o governo brasileiro, não houve o aceite [da oferta uruguaia] porque a base aérea de Canoas não teria espaço físico para deixar o avião estacionado em virtude do fluxo de aeronaves", disse Redecker à Folha.
"Também o governo disse que já existem vários drones operando no Rio Grande do Sul, e que eles poderiam atrapalhar o fluxo de resgate dos helicópteros. Como o Rio Grande do Sul ainda precisa de botes e barcos, e também em alguns lugares drones em virtude das possibilidades da zona sul ter uma nova enchente, eu falei com o ministro [da Defesa, José Múcio] e com membros do governo para pedir a possibilidade de reconsideração. O governo disse que os botes e drones podem ser ainda utilizados e reconsiderados", declarou.
O deputado também disse que foi informado pelo governo de que o avião Hércules uruguaio chegou a operar na base aérea de Santa Maria, na terça, para levar suprimentos necessários ao helicóptero do país vizinho.
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara divulgou uma nota para informar que Redecker e o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) se reuniram, na manhã desta quarta, com o embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles.
De acordo com a nota da comissão, o governo uruguaio reiterou a segunda oferta de ajuda ao Rio Grande do Sul. O embaixador disse aos deputados —ainda segundo o comunicado— que os equipamentos ofertados estão prontos e serão enviados caso o governo brasileiro assim o deseje (Folha, 9/5/24)