05/04/2018

Rússia reduz dependência de alimentos importados

Rússia reduz dependência de alimentos importados

Para entender como o presidente Vladimir Putin vem livrando os russos da dependência de alimentos, basta olhar para as macieiras em Krasnodar, no Mar Negro, onde em outras épocas florescia um pomar da era soviética. Agora, as árvores que se veem são em sua maior parte da Itália.

A Rússia é a maior importadora mundial de maçãs, porque as variedades locais estragam antes que as da Europa e China. Além disso, os consumidores muitas vezes preferem o gosto da fruta importada.

Quando a operadora de fazendas AFG National Group buscou aprimorar a produção em 2015, em vez de usar plantas domésticas, trouxe 143 mil árvores plantadas em campos a 3 mil quilômetros. Seu novo pomar, perto da cordilheira do Cáucaso, vai produzir cerca de 8 mil toneladas de maçãs Gala, Red Delicious e Granny Smith neste ano.

"Ao decidir usar as tecnologias mais avançadas nos pomares, percebemos que infelizmente a pesquisa nacional nessa área está atrás das principais tendências mundiais e europeias", disse Oleg Ryanov, que administra a unidade de pomares do AFG National. Antes do investimento nas maçãs em Krasnodar, o grupo cultivava sobretudo arroz em 70 mil hectares no sul da Rússia. "Logo, seguimos os passos dos países europeus".

A Rússia adquire cada vez mais equipamentos e conhecimentos externos para expandir sua produção agrícola. Nos últimos dez anos, a estratégia ajudou a criar um colosso exportador de culturas como trigo e cevada. Mas os consumidores ainda dependem de laticínios, frutas e vegetais estrangeiros, então os agricultores vêm importando melhores sementes, estufas e até vacas leiteiras para impulsionar a produção doméstica.

Os investimentos agrícolas somaram US$ 6,6 bilhões em 2017, 3,1% mais que um ano antes, segundo dados do governo russo. Embora não haja estimativas de quanto disso foi destinado à compra de tecnologias estrangeiras, essas importações podem variar entre 20% e 90% do que custa aos agricultores ter novas produções em operação, afirma a consultoria Agriconsult, de São Petersburgo.

"O volume de equipamentos importados é grande", diz Andrey Golokhvastov, diretor-geral da Agriconsult. "É dispendioso, mas confiável. Há substitutos domésticos, mas não são tão eficientes".

A urgência para reconstruir a agricultura doméstica cresceu desde que Putin baniu algumas importações de alimentos em 2014, em retaliação às sanções impostas pela União Europeia e os Estados Unidos após as incursões russas na Crimeia. Moscou entrou em cena para ajudar a subsidiar investimentos, mesmo com o nível relativamente baixo do rublo, que encarece importações.

A melhora tecnológica vem dando resultado. As importações de alimentos do país em 2016 totalizaram US$ 23,6 bilhões, 5% a menos do que em 2010, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC).

As exportações agrícolas totais, multiplicaram-se por 16 desde 2000, graças ao enorme aumento na produção de grãos. Há dez anos, a Rússia era a maior importadora de frango do mundo. Desde então, reduziu a compra em 80%.

Para ser mais autossuficiente, no entanto, o país precisa de mais investimentos, disse Putin a agricultores na semana passada em Krasnodar. Além de importar mais maçãs do que qualquer outro país, a Rússia é o terceiro maior comprador de tomates e o segundo de queijos, com base no peso.

A iniciativa para gastar mais em equipamentos estrangeiros possibilitou a expansão de negócios de empresas europeias como a DeLaval, da Suécia; a GEA Group e a Big Dutchman International, da Alemanha; e as construtoras holandesas de estufas Certhon e Kubo Group, de acordo com a Agriconsult e os sites desses grupos.

A Kubo elevou sua capacidade de produção depois de as vendas à Rússia terem mais do que triplicado e passado a representar 25% de sua atividade internacional, segundo o gerente de exportação Henk van Tuijl. As exportações incluíram estruturas de metais, tecnologias de controle climático e equipamentos para 65 hectares de estufas. As remessas vão crescer neste ano, uma vez que já foram assinados contratos referentes a 70 hectares de estufas. "É um crescimento explosivo", disse Van Tuijl.

A indústria de laticínios American Cows, com sede no Vietnã, planeja investir US$ 2,7 bilhões em projetos na Rússia para vender produtos no mercado local. Ela contratou uma empresa americana para receber cerca de 1,1 mil vacas leiteiras para uma fazenda russa inaugurada em janeiro.

Graças à ajuda da tecnologia estrangeira, a produção de maçãs subiu cerca de 8% em 2017, enquanto a produção de tomates em estufas aumentou 11%, conforme a União Nacional de Agricultores de Frutas e Vegetais. Apesar disso, a Rússia ainda importa quase metade de suas maçãs e de 60% dos tomates de estufas.

A AFG National vem fazendo sua parte para elevar a oferta de maçãs e investiu 4,3 bilhões de rublos desde 2015 para plantar 700 hectares, em sua maioria com mudas italianas, trazidas em caminhões refrigerados. A empresa também plantou algumas variedades russas.

Outras seguem estratégias de prazo ainda mais longo. Alguns agricultores querem comprar empresas de sementes de tomate e pepino no exterior, segundo Sergey Korolev, presidente da União Nacional de Agricultores de Vegetais e Frutas. Empresas russas como a Ros Agro pretendem desenvolver um negócio de sementes capaz de concorrer com nomes com a Monsanto. "Sem material russo de sementes, todo esse investimento é um grande risco", disse Korolev (Bloomberg, 4/4/18)