Safra e aumento da oferta esfriam inflação de alimentos
Arroz e feijão - Estúdio Coma Divulgação
Arroz e feijão devem parar de subir tanto nos próximos meses - Estúdio Coma/Divulgação
Ritmo de alta de arroz e feijão diminui, mas preços ainda sobem mais que a média geral.
A inflação dos alimentos mantém tendência de baixa. No mês passado, a taxa foi de 1,04%, inferior à de janeiro, mas ainda superior à média geral, que ficou em 0,46%.
Dois dos principais produtos básicos que pesam no bolso do consumidor, principalmente nos de menor renda, entram em período de safra, e o ritmo de alta já é menor. São arroz, líder nas pressões até então, e feijão.
Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que aponta, ainda, pressão dos produtos "in natura", afetados pelas recentes mudanças de clima.
Nesse setor, a laranja, influenciada tanto pelo clima quanto por doenças como o greening, já acumula alta de 17% nos dois primeiros meses do ano e de 31% nos últimos 12 meses. A produção caiu, e a qualidade da fruta diminuiu.
A dobradinha arroz e feijão poderá trazer boas notícias para o bolso do consumidor nos próximos meses. A colheita de arroz está começando no Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, e os primeiros resultados são bons.
O estado deverá colher 7,7 milhões de toneladas do cereal, 11% acima do volume do ano passado. Para o país todo, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) prevê um volume de 10,8 milhões de toneladas.
A chegada da safra esfriou um pouco os preços no campo. Após ter atingido R$ 131 no início do ano, a saca recuou para R$ 104 na semana passada no Rio Grande do Sul, um valor ainda 22% superior ao de março de 2023.
Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Assim como ocorreu com o arroz, cujos preços altos atraíram a atenção dos produtores, o mesmo poderá ocorrer com o feijão. A primeira safra da leguminosa não foi boa, e os valores atuais, de até R$ 400 por saca para o feijão-carioquinha de melhor qualidade, poderão levar mais produtores a semear a leguminosa na segunda safra.
A opção pelo feijão pode ser efetivada porque os preços do milho estão em patamares baixos e pouco atrativos. O mesmo ocorre com os do trigo, produtos que concorrem com o feijão.
O Cepea indica R$ 62,7 por saca de milho para região de Campinas. Há dois anos, estava em R$ 104. A tonelada de trigo está sendo comercializada a R$ 1.255, mas já esteve em R$ 2.210 no Paraná após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Essa possível alta na oferta desses dois produtos básicos no mercado nacional, no entanto, encontra alguns empecilhos. O mercado internacional de arroz continua aquecido e propício para exportações.
O consumo mundial é recorde, e os estoques caem para 167 milhões de toneladas nesta safra.
Índia, Tailândia e Vietnã, três dos grandes exportadores, vão colocar 14% menos arroz no mercado externo em 2023/24. Isso incentiva exportações de outros países, inclusive as do Brasil.
A China, maior produtora mundial, colherá 145 milhões de toneladas, e a Índia, 132 milhões. Ambas terão volume inferior ao do período de 2022/23, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
O mercado internacional do arroz é pequeno, somando apenas 52 milhões de toneladas. Índia, Paquistão, Tailândia e Vietnã estão entre os principais exportadores. Os indianos, que exportaram 22,1 milhões de toneladas na safra 21/22, deverão colocar apenas 16,5 milhões nesta.
Já o mercado internacional de feijão é bem restrito. O avanço da área de plantio no Brasil passa por uma avaliação criteriosa do produtor. Os preços compensam, mas é uma cultura cara e uma das mais suscetíveis aos efeitos climáticos e de doenças (Folha, 5/3/24)