19/04/2023

Scania vai operar 3 dias por semana e dará férias coletivas em S. Bernardo

Scania vai operar 3 dias por semana e dará férias coletivas em S. Bernardo

Montadora tem acordo com sindicato para preservar salários, mas vai cortar contratos de trabalho temporários.

Scania informou seus trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que fará paradas programadas de dois dias por semana, a partir do próximo dia 28. A empresa também anunciou férias coletivas de dez dias para os funcionários da montadora, a partir de 10 de julho.

De acordo com a montadora sueca, a medida é tomada devido à desaceleração do mercado de caminhões no Brasil e em outros países da América Latina atendidos pela fábrica da Grande São Paulo. A operação comercial e a rede de concessionárias da Scania seguem em funcionamento normal.

As paralisações para adequar o volume de produção estão asseguradas pelo acordo de flexibilidade de jornada, negociado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC com a direção da montadora em 2013. O salário dos funcionários fica preservado.

A empresa, segundo comunicado, não renovará parte dos contratos de trabalho temporários.

"Os trabalhadores sabem a importância deste acordo que assegura empregos e renda. Temos sentido reflexos da ausência de políticas específicas para o setor nos últimos anos", afirmou o vice-presidente do sindicato, Carlos Caramelo. Para ele, é preciso cobrar uma política industrial dos governos federal, estaduais e municipais.

A Scania conta com cerca de 4,5 mil trabalhadores em São Bernardo, em torno de 3.000 operam na operação industrial.

 Em fala na assembleia de funcionários, Caramelo afirmou que a falta de peças agravou o mau momento da produção, já afetada pela antecipação de vendas em 2022 para atender a normas europeias sobre motores a diesel, o Euro 6. Outros problemas, segundo o dirigente, são a falta de financiamento, a queda no consumo e as altas taxas de juros no país.

Em crítica ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o dirigente disse que a taxa de juros no nível atual de 13,75% ao ano encarece os financiamentos, dificulta o acesso a crédito e trava os investimentos no país.

Neste ano, montadoras de automóveis das marcas GM, Hyundai, Fiat e Jeep anunciaram redução de produção e férias coletivas, em meio a problemas de fornecimento de componentes.

O desabastecimento tem origem na crise global da cadeia de suprimentos, agravada pela pandemia a partir de 2020. A escassez de peças levou a dezenas de pausas nas montadoras nos últimos dois anos, seja por meio de férias coletivas, lay-offs (tipo de suspensão temporária do contrato de trabalho) ou licenças remuneradas.

No início de março, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) avaliou que a limitação do crédito também poderia segurar crescimento em 2023, ao lado da oferta de suprimentos (Folha de S.Paulo, 19/4/23)