Sem controle de pragas e doenças país teria prejuízos bilionários, diz Cepea
Legenda: A lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda) é a principal praga da cultura do milho no Brasil
Ocorrências em soja, milho e algodão geraram perdas de R$ 34 bilhões em 2017.
O produtor pode utilizar vários métodos para o combate de pragas e doenças em suas lavouras. Algumas técnicas ainda requerem, porém, uma difusão mais ampla e eficiente.
É um desafio, principalmente para pequenos e médios. Eles têm de identificar o problema, ter um conhecimento fitossanitário e buscar alternativas para o momento.
Algumas pragas, quando afetam as lavouras, exigem um controle rápido e eficiente. São os casos da ferrugem da soja, da lagarta Spodoptera do milho e do bicudo do algodão.
São as doenças e pragas mais devastadoras nas lavouras e de maiores custos para os produtores.
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em parceria com a Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal) acompanhou as principais doenças e pragas nas lavouras de soja, de milho e de algodão nas safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17.
O objetivo da pesquisa foi apurar os gastos dos produtores com a utilização dos agroquímicos e verificar o impacto econômico que a não utilização desses produtos traria para os agricultores e para o país.
Os produtores gastaram R$ 25,6 bilhões na safra 2016/17. Só na soja, foram gastos R$ 19,3 bilhões (R$ 4,3 bilhões no milho e R$ 2 bilhões no algodão).
O estudo do Cepea aponta, porém, que, se os produtores não tivessem utilizado os agroquímicos, haveria uma forte redução na produção, aumento dos preços dos produtos, queda nas exportações e elevação da inflação.
Essa perda de produtividade poderia ser suprida com um aumento de área, mas com custos maiores e mais pressão por novos espaços, segundo o Cepea.
Os agroquímicos pesaram muito no bolso dos produtores. Na soja, o percentual foi de 16,5% sobre o custo total de produção em 2017; no milho, de 9%, e no algodão, de 27%.
A não utilização dos químicos representaria gasto menor para os produtores, mas o resultado final, devido à quebra de produtividade, apontaria para intensos prejuízos, conforme um estudo hipotético daquela safra.
No caso da soja, os produtores teriam uma economia de R$ 5,75 bilhões se não utilizassem os fungicidas para o controle da ferrugem, mas a produtividade cairia 30%.
A perda de produção poderia ser compensada com o aumento de um terço a mais de área. Nesse caso, os gastos para o cultivo da nova área seriam de R$ 33 bilhões adicionais.
Sem aumento de área, os preços da soja subiriam 23%. Apesar da redução dos custos devido ao não controle da ferrugem e do aumento de preços da oleaginosa, a receita bruta total ainda seria 13,9% inferior à obtida com o controle.
Segundo o Cepea, o resultado econômico da soja em 2017 de R$ 8,32 bilhões, se converteria em um prejuízo de R$ 3,37 bilhões. Ou seja, o produtor teria um prejuízo total de R$ 11,7 bilhões.
Em 2017, a área com soja foi de 33,9 milhões de hectares, a produção somou 114 milhões de toneladas e os custos atingiram R$ 117 bilhões.
Em termos macroeconômicos, o país teria exportado US$ 4,5 bilhões a menos e a inflação teria subido mais 0,57 ponto percentual, atingindo 3,52% em 2017.
Utilizando o mesmo critério de pesquisa para o milho, o não controle da lagarta Spodoptera daria um alívio de R$ 3,42 bilhões para os produtores, mas ocorreria uma perda de produtividade de 40%.
Para compensar essa perda com aumento de área, os gastos adicionais seriam de R$ 25,3 bilhões.
Sem aumento de área e queda de produção, os preços do milho subiriam 13,6% no mercado interno.
Dentro do mesmo critério analisado na soja, o não controle da lagarta poderia trazer um prejuízo de R$ 20,5 bilhões para os produtores do cereal. A produção brasileira em 2017 foi de 97 milhões de toneladas, obtidas em uma área de 17 milhões de hectares.
No caso do algodão, o não combate ao bicudo, teria trazido uma economia de R$ 460 milhões para os produtores. A perda de produtividade seria, porém, de 30%. A compensação dessa perda de produtividade por expansão de área exigira recursos de R$ 2,53 bilhões.
A não compensação de área elevaria os preços internos em 5,5%. Economia com o não controle químico e o aumento de preços internos não compensariam a perda de produção.
O resultado final da lavoura seria uma perda de R$ 1,48 bilhão para os produtores. As receitas com as exportações cairiam 26,2% e o efeito sobre a inflação seria pequeno (mais 0,024 ponto percentual).
O Cepea divulgará duas novas pesquisas sobre o tema. A próxima terá enfoque sobre os impactos econômicos das incidências de pragas e de doenças na cultura do milho (Folha de S.Paulo, 22/5/19)