27/01/2025

Setor agropecuário tem tudo para retomar um crescimento mais forte em 2025

Setor agropecuário tem tudo para retomar um crescimento mais forte em 2025

Estima-se um aumento de 8% na colheita de grãos, conforme a Conab. Foto Vivi Zanatta – AE

 

Por Luís Eduardo Assis

 

É bem possível que o governo faça disso um elaborado exercício de proselitismo.

 

Para quem anda perdido nos corredores lúgubres do pessimismo do noticiário econômico vem aí uma réstia de luz: o setor agropecuário tem tudo para retomar um crescimento mais forte em 2025, no rastro de um aumento de 8% na colheita de grãos, conforme estimativa da Conab. Isso pode ajudar a amortecer a desaceleração da economia e, de quebra, contribuir para que a inflação dos alimentos não seja tão alta como no ano passado.

 

Essa réstia de luz está longe, no entanto, de ofuscar a visão de um observador atento. Em que pese sua importância estratégica, a agropecuária sozinha não consegue carregar o Brasil nas costas. Com apoio da CNA, a Esalq/USP calcula que a participação do agronegócio na economia supera os 20%. Estamos aqui falando de um conceito expandido (agronegócio, não agropecuária), que contrasta com a metodologia das Contas Nacionais adotada pelo IBGE, que segue padrões internacionais adotados há muitas décadas.

 

Nesse cálculo ortodoxo, a participação da agropecuária no PIB registrou uma média de 5,2% nos últimos dez anos. A diferença vem do conceito: o PIB do agronegócio engloba atividades da indústria e do setor de serviços conectados, de alguma forma, ao setor agropecuário. É como se o PIB da indústria fosse medido computando-se também o serviço dos borracheiros (que não existiriam, não fossem os carros). É evidente que, se todos os setores fossem calculados dessa forma, a soma de suas participações excederia 100% do PIB.

 

Os efeitos do encadeamento da agropecuária não chegam a ser tão poderosos. Cálculo da correlação entre o PIB dos setores e o PIB geral, a partir das variações anualizadas dos últimos 20 anos, mostra um índice de 26,4% para a agropecuária, contra 92,6% da indústria e 96,4% dos serviços.

 

Há um certo descolamento entre a agropecuária e a atividade econômica geral. Isso também se revela nos indicadores de emprego direto. No fim de 2024, de acordo com a Pnad, o total de pessoas ocupadas na agropecuária era de 7,87 milhões (contra 9,3 milhões há dez anos), ou 7,6% do total de pessoas ocupadas no Brasil.

 

Tudo somado, porém, a recuperação da produção agrícola é excelente notícia para iluminar 2025. É bem possível que o governo, que mantém com o setor relações menos do que afetuosas e quer sair bem na foto, faça disso um elaborado exercício de proselitismo.

 

Mas não será uma boa safra que contornará suas enormes dificuldades em lidar com os desafios da economia, principalmente se for levado adiante o desvario de intervir nos preços dos alimentos e atrapalhar a vida de um setor que, se não é o pau da barraca, vem colaborando muito para minimizar nossos problemas (Estadão, 26/1/25)