Soja: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22
soja-ithinksky-getty.jpg
RETROSPECTIVA DE 2022:
A temporada 2021/22 se iniciou com preocupações quanto à redução da oferta de soja no Brasil, cenário que foi confirmado, sobretudo no Sul do País e em partes do Sudeste e do Centro-Oeste. Como perdas expressivas também foram verificadas na Argentina e no Paraguai, a maior oferta de 2021 nos Estados Unidos não foi suficiente para compensar essas quedas nas produções. Com isso, os estoques mundiais se reduziram, sustentando os preços internacionais e nacionais.
No Brasil, o valor médio de 2022 é um recorde anual, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de nov/22). Na Argentina, maior fornecedora mundial de farelo, além da menor produção do grão, o governo do país, no intuito de conter a crise econômica, elevou em março as tarifas de exportação dos derivados da oleaginosa, de 31% para 33%.
O país vizinho também passou por greve de caminhoneiros, que prejudicou as negociações do agronegócio, de forma geral. Como resultado, houve expressivo aumento na demanda mundial por farelo e óleo de soja. Esse cenário foi reforçado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, que levou à redução da oferta de óleo de girassol, um dos principais concorrentes do óleo de soja – a Ucrânia é a maior exportadora global de óleo de girassol.
Além disso, alguns países restringiram as vendas externas de óleo de palma, com o objetivo de conter o processo inflacionário – como foi o caso da Indonésia, a maior produtora e exportadora mundial desse produto. No segundo semestre, entretanto, os preços foram se enfraquecendo, influenciados pelo acordo entre Rússia e Ucrânia para liberação de parte dos produtos em armazéns ucranianos pelo Mar Negro e pela colheita da safra 2022/23 nos Estados Unidos.
Na Argentina, o governo estabeleceu um sistema especial chamado de “dólar soja”, com o objetivo de estimular produtores a liquidarem parte do estoque. De fato, a liquidez cresceu naquele país, e demandantes externos reduziram o interesse pelos produtos do Brasil e dos Estados Unidos.
Mesmo assim, entre outubro e novembro, a demanda externa pelo produto brasileiro esteve firme, puxada por problemas logísticos nos Estados Unidos, em decorrência do baixo nível do Rio Mississipi.
No último trimestre de 2022, a comercialização no Brasil foi interrompida por bloqueios na rodovia que leva ao porto de Paranaguá (PR), que prejudicaram o transporte de cargas e resultaram em filas de navios nos portos. Além disso, produtores brasileiros voltaram as atenções à semeadura da temporada 2022/23 e evitaram negociar o excedente da safra 2021/22.
OFERTA E DEMANDA
Diante da maior procura externa por derivados de soja em detrimento da matéria-prima, a diferença entre o volume de soja exportado e consumido internamente foi a menor desde a safra 2016/17, de acordo com os dados do USDA.
A produção nacional de soja da temporada 2021/22 somou, segundo a Conab, 125,55 milhões de toneladas, sendo 48,98 milhões de toneladas destinadas ao esmagamento (+ 6,6% em relação à temporada passada) e 79,22 milhões de toneladas, à exportação (-8% em relação à safra passada).
No acumulado de 2023, foram escoadas 79,05 milhões de toneladas de soja em grão, queda de 8,2% em relação ao mesmo período de 2021, segundo a Secex. A China foi destino de 68% do volume total escoado pelo Brasil. Os países que mais reduziram a importação de soja do Brasil em 2022 foram a China (com recuo de 13,25%), Espanha (-8,6%), Tailândia (-8%), Países Baixos (-32%) e Turquia (-14,9%).
Vale ressaltar que os estoques finais da soja são previstos pela Conab em 3,19 milhões de toneladas no final de dezembro de 2022, expressivos 63,9% inferiores aos da temporada 2020/21. Com isso, no agregado do ano, as médias dos Indicadores da soja ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá e CEPEA/ESALQ Paraná foram de R$ 187,23/sc e de R$ 182,80/sc de 60 kg, com respectivas altas de 0,6% e de 0,9%, em termos reais, frente às de 2021, e ambas recordes. A média do dólar em 2022 foi menor que a do ano anterior, o que limitou as valorizações domésticas.
ÓLEO
A produção nacional de óleo de soja foi de 9,89 milhões de toneladas, segundo a Conab, com 7,45 milhões de toneladas do derivado destinadas ao mercado interno, 2,4% a menos que em 2021, o que, por sua vez, se deve à retração na demanda por parte do setor de biodiesel no Brasil. A aquecida demanda externa, contudo, compensou a menor procura doméstica. Estimativas da Conab indicam que as exportações em 2022 (safra 2021/22) podem somar volume recorde, de 2,53 milhões de toneladas, aumento de 3,3% em relação à temporada passada.
De janeiro a novembro de 2022, o Brasil já escoou 2,16 milhões de toneladas de óleo de soja, expressivos 62,9% acima da quantidade embarcada no mesmo período de 2021, de acordo com dados da Secex.
Os principais destinos do derivado brasileiro foram a Índia (representando 65,2% dos envios totais), Bangladesh (10,8%) e a China (7,5%). O preço do óleo de soja negociado na região de São Paulo (com 12% de ICMS incluso) subiu 3,1% entre as médias de 2021 e de 2022, a R$ 8.262,79/tonelada em 2022, também um recorde real.
FARELO
A produção nacional de farelo de soja foi de 38,88 milhões de toneladas na safra 2021/22, segundo a Conab, sendo 18,1 milhões de toneladas destinadas ao consumo doméstico (+1,1% sobre a safra passada) e 19,95 milhões de toneladas, à exportação (+6,34%). De janeiro a novembro, o Brasil já embarcou volume recorde de 19,25 milhões de toneladas de farelo de soja, aumento de 24,4% em relação ao mesmo período de 2021.
Os maiores destinos do derivado brasileiro foram a Indonésia, Tailândia e Holanda (Países Baixos), segundo dados da Secex. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, houve aumento de 10,2% nos preços do farelo de soja, em termos nominais, entre 2021 e 2022. Já em termos reais, a média anual caiu 1,1% no mesmo comparativo.
Com base nos preços de soja, farelo e óleo de soja no estado de São Paulo, o “crush margin” das indústrias brasileiras cresceu 22,58% entre as médias de 2021 e 2022. Vale ressaltar, no entanto, que, no primeiro semestre de 2022, o “crush margin” era de R$ 632,19/tonelada, caindo para R$ 505,02/tonelada na segunda metade do ano (Assessoria de Comunicação, 4/1/23)