08/11/2023

‘Sustentabilidade está no DNA da nossa empresa’, diz CEO da Suzano

‘Sustentabilidade está no DNA da nossa empresa’, diz CEO da Suzano

Walter Schalka, presidente da Suzano Foto Felipe Rau-Estadão

Walter Schalka, presidente da Suzano, defende sustentabilidade como fundamental para o futuro dos negócios. 

 

Por Sonia Racy

 

Para Walter Schalka, preservar o planeta não é meta de um governo, mas de 8 bilhões de pessoas

A rotina de Walther Schalka na Suzano, que ele comanda desde 2013, não é pouca coisa. Maior produtora de celulose do mundo, que planta 1,2 milhão de eucaliptos por dia, ela está investindo neste ano R$ 18,5 bilhões, operando hubs na China, no Canadá e em Israel e exportando para um mercado de 2 bilhões de pessoas em 110 países, o que equivale a 18% do mercado global de celulose. Seu modus operandi, resume Schalka, é uma conexão entre inovação e sustentabilidade – que, para ele, constitui “o DNA da companhia”. Com um pé na academia e outro no compromisso com o futuro do planeta.

“É inexorável que temos de diminuir nossas emissões no mundo”, adverte o empresário, nesta entrevista a Cenários. A questão climática, avisa, “é um jogo no qual ou todo mundo ganha ou todo mundo perde”. A seguir, os principais trechos da conversa:

 

A Suzano criou na China um hub de inovabilidade. O que é, e como funciona?

É a visão de futuro da empresa, uma conexão entre inovação e sustentabilidade. Ano que vem, completamos 100 anos e a inovação está no nosso DNA, assim como a sustentabilidade. A China será uma das fronteiras de crescimento nos próximos tempos – e, inevitavelmente, a maior economia do planeta. O hub é para marcar uma forte presença, com uma relação comercial construída nos últimos 40 anos.

Em suma, é uma estratégia global da empresa...

Sim. Também temos hubs de inovabilidade em Israel e no Canadá. Nós acreditamos na busca de ideias ligadas à academia. Atualmente, exportamos para 110 países – ou seja, cerca de 2 bilhões de pessoas consomem nossos produtos. São cerca de 18% do mercado global de celulose, com forte participação nos mercados americano, europeu e chinês. Em 2024, vamos inaugurar uma nova fábrica em Mato Grosso do Sul com capacidade para mais 2,5 milhões de toneladas de celulose. O maior investimento privado do Brasil, de R$ 22 bilhões.

 

O preço da celulose está em queda. Como funciona esse ciclo para vocês?

A celulose é uma commodity com variação de preço como qualquer outra. Hoje, plantamos 1,2 milhão de árvores a cada dia, aumentando a base fundiária e florestal para atender às demandas do mercado. Nos 11 anos em que estou na Suzano, esse é o quarto ciclo de queda de preço que eu vivencio. Ele desce de elevador e depois sobe de escada. Nesse momento, subimos gradativamente.

Como foi essa caminhada da Suzano para se tornar a maior do mundo no setor?

A competitividade é base fundamental desse crescimento. Hoje, a média de custo da celulose pela Suzano é da ordem de US$ 180 por tonelada, enquanto nossos players europeus estão em US$ 550; os chineses, em US$ 580; e os canadenses, em US$ 600. Esse diferencial competitivo começa no plantio das nossas árvores e continua nas fábricas ultramodernas e numa logística muito bem preparada. Esse nível de competitividade leva a uma geração de caixa constante. E reinvestimos 90% dessa geração, preparando o futuro. Já inauguramos uma fábrica na Finlândia com uma startup de lá. E outro passo que precisa de mais maturidade tecnológica é o do biocombustível.

Sim. E, no geral, de que modo a Suzano trata a questão da sustentabilidade?

Acreditamos que, com o plantio das árvores – eminentemente, o eucalipto –, podemos transformar a sociedade global. O mundo da sustentabilidade é o da colaboração. O problema mais relevante é a crise climática. É inexorável que temos de diminuir nossas emissões no planeta. Já estamos no lado certo da equação, somos ‘carbono-negativo’, auditados por certificadoras internacionais. Tem outro eixo muito importante, que é a biodiversidade: temos um milhão de hectares de áreas nativas e vamos interligar metade disso a um milhão de hectares com corredores de biodiversidade.

À luz da COP de Glasgow, que outros compromissos tem com a Agenda 2030?

Além da questão climática, a diminuição da pobreza. Nossa meta é tirar 200 mil pessoas da pobreza até 2030, fazendo com que elas tenham renda sustentável. Não é filantropia, é renda sustentável. Poucas pessoas sabem, mas a Suzano é a maior produtora de mel do Brasil – e a receita disso é inteiramente destinada às comunidades. Elas trabalham com nosso eucalipto, nós fornecemos as roupas e equipamentos, e ajudamos com a distribuição desse mel que gera renda a partir de cooperativas. No total, investimos cerca de R$ 100 milhões por ano em programas sociais.

Governo à parte, qual é, a seu ver, o papel da iniciativa privada na busca da sustentabilidade?

Aprendi ao longo do tempo que a responsabilidade da empresa vai além da nossa cerca. Essa ficha caiu há muito tempo, só que agora tem as três letrinhas, ESG. Não é só função dos governos, se trata de um jogo com 8 bilhões de pessoas, onde ou todos ganham ou todos perdem. Nós também temos a responsabilidade de assumir as questões como a crise climática, a da pobreza e a da diversidade. De criar um mundo melhor para essas 8 bilhões de pessoas (Estadão, 8/11/23)